direitos indígenas

Programa Bem Viver debate impactos do garimpo ilegal em povos indígenas

Garimpeiros ilegais próximos a terras indígenas têm propagado violência, doenças e insegurança alimentar entre Yanomani

Ouça o áudio:

Área impactada pelo garimpo na região do Apiaú na Terra Indígena Yanomami - Divulgação
Estamos vivendo em guerra e cada vez mais estamos correndo risco

Milhares de garimpeiros ilegais próximos a terras indígenas têm propagado violência, doenças e insegurança alimentar entre indígenas da Amazônia, em especial os Yanomani e Munduruku, como denunciam aos lideranças Yanomami Davi e Dario Kopenawa, em entrevista ao BdF Entrevista repercutida na edição de hoje (18) do Programa Bem Viver.

Desde 10 de março foram registrados ao menos 23 ataques de garimpeiros armados contra povos originários, segundo o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna. Eles denunciam que ao menos 20 mil garimpeiros se instalaram em terras indígenas.

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“A presença deles é muito forte. São rios poluídos, maquinários, barulho próximo das comunidades. Aí os Yanomani ficam doentes de malária, coronavirus, diarreia e gripe, transmitidas pelo garimpo ilegal, e não conseguem trabalhar. Doente eu não posso caçar e plantar nossa comida. Assim as crianças acabam sofrendo com fome e desnutrição”, diz Davi Kopenawa.

Após diversas solicitações dos indígenas, o Ministério da Justiça autorizou, na última segunda-feira (14), o uso da Força Nacional de Segurança Pública na Terra Yanomami, mas não informou pra qual região especificamente.

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“Estamos vivendo em guerra. A violência está crescendo e cada vez mais estamos correndo risco. Não conseguimos mais plantar, caçar e alimentar nossos filhos”, diz Davi. “Os garimpeiros ficam circulando, gritando, mostrando armas, filmando com celulares e intimidando nossos parentes.”

Atos do 19J

Movimentos populares, sindicatos e partidos progressistas organizam protestos contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. Atos em centenas de cidades do país e do exterior estão marcadas para amanhã (19), em diferentes horário. Manifestantes cobram a aceleração da vacinação e auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia e medidas efetivas.

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"Nem bala, nem fome, nem Covid, o povo negro quer viver". Essas são as palavras de ordem dos protestos conhecidos como “19J”, como destaca o militante da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior, em entrevista ao programa Central do Brasil.

“O Brasil é o país que mais produz alimento e volta para o Mapa da Fome [da ONU]. Metade dos brasileiros estão em insegurança alimentar. Sobre a Covid, estamos batendo as 500 mil mortes, por conta da gestão irresponsável de Jair Bolsonaro”, disse Douglas. “Há um setor na sociedade que teve direito a isolamento social garantido, mas maioria do povo não teve. O povo negro, em especial, teve que continuar sua vida cotidiana em busca do pão de cada dia.”

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Essa semana o número de mortes pela Covid-19 teve a maior alta desde abril, com quase 3 mil mortes na terça-feira (15). Os dados apontam uma nova escalada e uma terceira onda já prevista por especialistas.

Pobreza menstrual

Ter acesso a itens de higiene básica durante o período menstrual ainda é um problema pra muitas meninas e mulheres no Brasil, reforçando a desigualdade social do país. De olho nessa questão, a Escola Estadual Capitão Deolindo de Oliveira Santos, em Ubatuba, no litoral de São Paulo, criou o projeto Dignidade Íntima que disponibiliza kits com absorvente, sabonete e outros itens de higiene no banheiro feminino, de forma gratuita.

O objetivo é combater a chamada pobreza menstrual, além de realizar formações com integrantes da escola sobre o tema, criar uma rede de apoio para as alunas, estimular o protagonismo dos jovens e distribuir materiais informativos para a comunidade.

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Ter acesso a absorvente, coletor menstrual, sabonete e banheiro pode parecer algo banal, mas não é. Essa realidade prejudica inclusive os estudos das meninas. Uma pesquisa coordenada pela antropóloga Mirian Goldemberg estima que no Brasil uma em cada quatro estudantes já deixou de ir pra escola por não ter condições de manter a higiene durante as aulas.

No mundo, uma média de uma entre cada dez estudantes têm dificuldades para manter a higiene íntima no período menstrual e isso impacta diretamente a vida escolar, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

Edição: Sarah Fernandes