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Nosso direito

Coluna | Um governo contra os professores

São inúmeros os ataques aos planos de carreira de professores e perseguições fundadas em obscurantismos ideológicos

Curitiba (PR) |
Coluna da edição 217 do Brasil de Fato Paraná - Foto: Giorgia Prates

A educação parece ser uma reivindicação consensual na sociedade, ao menos no campo das ideias genéricas, é difícil encontrar alguma pessoa que diga ser contra a educação ou não entenda a educação como prioridade. Por outro lado, na prática, uma das categorias profissionais mais atacadas nos últimos tempos tem sido justamente os professores.

São inúmeros os ataques a seus planos de carreira e perseguições fundadas em obscurantismos ideológicos. Há mesmo o devaneio de certos setores de pregar que professores seriam dispensáveis, pelo avanço tecnológico dos ambientes virtuais e pela educação domiciliar – o tal homeschooling. Gostaria de saber da parte desses defensores como foi a lida com suas crianças em casa durante o ensino remoto, em um contexto em que as famílias não têm tempo e nem capacidade de ensinar conteúdos escolares.

Infelizmente, depois desse tempo de experiência de isolamento, nossa sociedade individualista, que tende a encontrar culpados nos elos mais frágeis de nossas relações, assumiu como culpados da desorganização do ensino remoto e pela demora no retorno às atividades presenciais os professores. Após mais de um ano de falta de planejamento para organização do ensino remoto e, em especial, falta de planejamento quanto à vacinação em nosso país, espera-se que professores e alunos façam o sacrifício (literal) de retorno às atividades presenciais como se tivéssemos condições para tanto.

Essa inversão da realidade, esse juízo injusto que é feito sobre a resistência dos trabalhadores da educação de retornar à sala de aula, se dá pela completa ignorância das próprias condições do trabalho remoto. No estado do Paraná a desorganização tem sido gigantesca, com mudanças repentinas de orientação sobre a gestão dos sistemas virtuais, falta de disponibilização de equipamentos adequados, além do fato de que o trabalho remoto tem implicado em aumento da jornada dos professores e ambientes mais extenuantes.

Não houve capacitação dos professores para a lida com a virtualização e a falta do ambiente escolar multiplica a necessidade dos atendimentos individuais por diversos meios. Você mesmo já deve ter sentido em algum momento a falta de limites da comunicação por WhatsApp. E se teve a possibilidade de se manter em casa nesse ano, sentiu também os problemas da fusão do espaço da casa com o espaço de trabalho. Cada vez mais é difícil mensurar nossa jornada de trabalho. Imagine agora isso com centenas de alunos. Assim, do ponto de vista trabalhista, houve reiterados desrespeitos à categoria de professores. Não é cômodo, portanto, manter-se no ambiente virtual. A reivindicação de não retornar à sala de aula até termos condições, se dá exclusivamente por responsabilidade com a vida.

Além da perspectiva trabalhista, vivemos uma situação de letargia da sociedade e de desumanidade, com a total banalização do risco que o retorno às aulas tem implicado. Dados mostram o aumento de mortes entre trabalhadores da educação e entre crianças. Infelizmente, apesar de já estarmos há mais de um ano nesse estado de crise sanitária, a situação não está melhor no Paraná, que segue com dados alarmantes em relação aos níveis de contágio.

Em suma, a política do governo estadual para os professores pode ser sintetizada em uma escalada de retirada e desrespeito de direitos, passando do congelamento dos planos de carreira a jornadas extenuantes e até o desrespeito à própria vida. Se nossa sociedade tem efetivamente a educação como um de seus grandes valores e reivindicação urgente, é preciso que estejamos atentos a como nossos governos têm tratado nossos educadores, pois sem professores não há educação.

*Mariana Auler é advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares.

Edição: Lia Bianchini