AMAZÔNIA

Lula condena devastação e defende soberania em benefício da humanidade

Ex-presidente deu entrevista ao programa “Notables” e falou também sobre relações internacionais, eleições e Bolsonaro

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Lula e o jornalista Jorge Gestoso, do programa "Notables", da Telesur - Reprodução/Telesur

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a devastação da Amazônia promovida pelo governo Bolsonaro, na gestão do agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

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Em entrevista para o jornalista Jorge Gestoso, do programa Notables, na Telesur, Lula reiterou a soberania que o país tem de ter sobre a floresta, vista pelo ex-presidente como potencialmente benéfica para toda a humanidade. Na entrevista, ele falou também sobre relações internacionais, as eleições no Brasil no ano que vem e sobre o governo federal.

Na avaliação de Lula, não há necessidade de devastar a Amazônia para plantar soja ou para o gado, assim como ele pondera que a Amazônia é brasileira e a exploração pela ciência, para a humanidade, pode ser feita em aliança com outros países.

“E não cortando árvores e contaminando a água”, observou o ex-presidente, ressaltando os 25 milhões de brasileiros, sendo 900 mil índios, que vivem na Amazônia Legal. “Temos de cuidar dessas pessoas, ajudar para que elas possam viver e cuidar da Amazônia.”

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América Latina

Defesa da soberania também foi ponto destacado pelo entrevistado quando fala sobre relações internacionais e critica duramente os Estados Unidos.

“Não aceito a ideia de que os Estados Unidos são o farol do mundo. O Brasil tem de conversar com todos os países sem se subordinar a nada. (…) O que não pode é a América Latina, depois de 500 anos, seguir pobre, miserável, muita gente com fome, desempregada", destaca. 

"Será que nosso continente não tem o direito de produzir como uma Holanda, Dinamarca ou qualquer país desenvolvido? O que tem é muita ingerência e interesses econômicos estratégicos dos Estados Unidos na América Latina. E isso não se pode permitir”, destaca.

O ex-presidente fala sobre integração na América Latina e defende a formação de um grande bloco econômico para fazer frente ao bloco que representa Estados Unidos e Canadá, ou os da Europa e da China.

“Podemos todos crescer e nos tornarmos protagonistas internacionais. Por isso estou à disposição para quando chegar o momento oportuno, possa anunciar minha candidatura.”

Cada um cuida da sua

O ex-presidente criticou o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, condenado pela 29ª vez na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por 184 votos a 2.

“O bloqueio a Cuba já existe há 60 anos. O Fidel já morreu e segue o bloqueio”. O mesmo vale para a Venezuela.

“Quem tem de resolver o problema da Venezuela é o povo da Venezuela. Tampouco serei eu que vou dizer para os Estados Unidos o que é bom para os Estados Unidos. É o povo estadunidense que tem de decidir. Cada país que cuide de sua democracia”, disse.

“Não temos de pedir aos Estados Unidos permissão para fazer as coisas. Fazemos em função dos interesses do povo, é assim que tem de ser em um mundo multilateral”, reitera.

DNA do mal

Lula foi questionado sobre o cenário político brasileiro, eleições e o governo Bolsonaro. Foi claro ao dizer que o governo atual é “genocida”, porque faz tem o DNA do mal.

“Quer destruir tudo o que possa beneficiar o povo brasileiro”, afirma.

“Respira e vive de ódio 24 horas por dia, não conhece as palavras amor, paz, solidariedade, cultura. Conta uma média de quatro mentiras por dia. Até hoje, são mais de 3.150 mentiras que contou ao povo brasileiro.”

O petista ressalta os trabalhos da CPI da Covid e afirma esperar que Bolsonaro ainda será julgado por genocídio. “Ou no Brasil ou fora do Brasil.”

Sobre disputar a eleição à Presidência, ele admite a intenção de seu partido e de grande parte do campo progressista para que seja o nome de 2022.

“Muita gente, especialmente no meu partido, quer que eu me candidate, mas eu vou decidir mais para o final do ano. Agora é o momento de discutir vacinação”, disse Lula, acrescentando como prioridades garantia de renda e acesso ao crédito para pequenos empresários.

“No momento correto decidirei se serei candidato ou não. Estou bem de saúde, tenho muita energia e muita vontade de recuperar a esperança do nosso povo, a economia e a qualidade de vida que garantimos quando eu fui presidente da República.”

Fraude é lawfare

Em realmente participando do pleito, já sabe que enfrentará o discurso de fraude, especialmente se vencer, o que aconteceria se as eleições fossem hoje, segundo todas as pequisas.

Lula diz que a narrativa do voto impresso é uma tentativa de importar o modelo Trump para justificar a ideia de que se alguém os vence, é roubo. “Se houvesse fraude nas eleições eletrônicas, o Lula jamais teria sido presidente da República, porque as elites não queriam.”

O ex-presidente lembrou, ainda, que foi vítima de uma perseguição política via Judiciário, o chamado lawfare.

“Me puniram com 580 dias na prisão de Curitiba. Eu poderia ter saído do Brasil, mas não quis. Não queria que dissessem que eu havia fugido. Fui para a prisão da Polícia Federal para poder provar que o que diziam contra mim era mentira. E além de tudo o que eu enfrentei, da imprensa, estava nessa farsa do departamento de Justiça dos Estados Unidos e procuradores da Suíça.”

Veja a íntegra da entrevista: