Resistência

Metroviários de SP resistem e iniciam vigília contra entrega da sede do sindicato

A categoria ainda tenta na Justiça reverter os trâmites que a fizeram perder a sede em endereço histórico

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Mais um dia de luta na sede dos metroviários de São Paulo - Paulo Iannone/Sindicato

Os metroviários de São Paulo não deixaram a sede do sindicato nesta quarta-feira (23), data limite para que a categoria desocupasse o prédio. O Metrô marcou para as 10h para buscar as chaves, mas nenhum representante da empresa apareceu.

No final da tarde, os trabalhadores realizaram uma passeata pelas ruas da região e anunciaram que farão uma vigília de resistência. A categoria ainda tenta na Justiça reverter os trâmites que a fizeram perder a sede.

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“A gente ia negar a chaves. Mandamos uma carta para o Metrô avisando que nós não tínhamos para onde ir, como sair daqui, porque não tinha para onde levar as coisas. Estranhamente, o Metrô marcou a vinda aqui para as 10h, mas não apareceu”, explica Wagner Fajardo, coordenador do sindicato.

“Nós fizemos um pedido (na Justiça) para a prorrogação da nossa estada aqui e a juíza negou a liminar. Hoje entramos no Tribunal de Justiça e uma desembargadora vai analisar o nosso pedido de reconsideração”, acrescentou o dirigente. “Como hoje era o dia derradeiro, a gente resolveu fazer um dia de luta, como fizemos no dia do leilão.”

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Sede de luta

O endereço, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, é dos metroviários desde o final da década de 1980.

O terreno foi cedido pelo governo do estado em regime de comodato, uma espécie de empréstimo sem custos. Porém, a gestão João Doria (PSDB) requisitou o espaço de volta e fez um leilão, concluído no final de maio.

Como o termo de permissão de uso estabelecia que as construções feitas ali seriam incorporadas, os trabalhadores perderam o prédio. A sede, levantada com recursos da própria categoria, tem quadra poliesportiva, estúdio musical, salas e área de lazer.

Ao longo dos anos, recebeu inúmeras atividades como atos, assembleias, congressos, eventos esportivos, festas e etc, além de diversos artistas, parlamentares, intelectuais, movimentos e organizações.

O Sindicato dos Metroviários não aceitou o leilão. Denuncia cartas marcadas. O martelo foi batido por R$ 14,4 milhões, quase metade do valor de mercado do imóvel, avaliado em R$ 25 milhões.

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Além disso, de acordo com os representantes da categoria, a empresa que ganhou, chamada UNI 28, foi criada com o nome do lote que o Metrô colocou na licitação. Foi registrada no dia 3 de maio, depois do edital, com capital social de R$ 10 mil.

“Como uma empresa criada com capital social de R$ 10 mil faz uma compra de um terreno por R$ 14,4 milhões?”, disse Fajardo na ocasião. “Ninguém cria uma empresa pra participar de uma licitação se não tiver certeza que vai ganhar.”

BolsoDória

Os trabalhadores apontam que o real motivo de Dória para desalojar o sindicato é impor uma derrota aos metroviários. Afirmam ser uma retaliação, pois a categoria derrotou o governador em dois acordos coletivos.

“Se alguém tem alguma ilusão de que o Doria é um democrata, nós não temos nenhuma. Desde que o Doria pisou no Palácio dos Bandeirantes, como governador, ele fechou as portas pro movimento sindical de São Paulo”, disse Fajardo, nesta quinta-feira (24), em live direto da quadra do sindicato com o Portal Vermelho.

Ele contou que não houve qualquer espaço para conversa sobre a questão da sede. “No dia 23 de abril nós recebemos uma carta de um gerente do Metrô dizendo que eles tinham antecipado (o prazo de saída) e que em sessenta dias tínhamos que desocupar o prédio. Vence hoje.”

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“O Doria atende ao capital. Nosso sindicato foi vendido para uma grande corporação imobiliária que está fazendo muito estrago aqui na região leste de São Paulo, no Tatuapé. Eles arremataram por quase a metade do valor do imóvel, numa verdadeira afronta”, acrescentou Fajardo.

“Eles podem nos tirar daqui? Podem. Mas com certeza eles não vão conseguir tirar da gente o espírito de luta, resistência”, disse, com a voz embargada.

“E de denúncia! Não existe na nossa história uma agressão tão grande, não só para os metroviários, mas ao movimento social, sindical. É tão cruel e maléfica quando a política implementada pelo Planalto, pelo Bolsonaro. Para os trabalhadores, não tem diferença entre Doria e Bolsonaro”.