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Programa Bem Viver responde: por que pandemia piora no Brasil apesar da vacinação?

Negligência na compra de vacinas e falta de coordenação são fatores que pioram a crise, avalia médica

Ouça o áudio:

País ultrapassou 512 mil mortes por Covid-19 com taxa de transmissão acelerada - Jorge Leão
Vacinas não impedem a contaminação pelo vírus. Pessoas vacinadas continuam transmitindo a doença

A demora na compra de vacinas, a falta de políticas sociais que permitam que os mais pobres pratiquem isolamento social, o baixo número de segundas doses aplicadas do imunizante, a ausência de uma ação coordenada de contenção do vírus, baixo número de testes e o desincentivo ao uso de máscaras. Esses são alguns dos motivos que explicam porque os números da pandemia continuam crescendo no Brasil apesar do início da vacinação, segundo médica entrevistada na edição de hoje (28) do Programa Bem Viver.

“É preciso destacar o ritmo lento da vacinação em relação a capacidade que o SUS teria para vacinar a população. Há uma dificuldade internacional de conseguir vacinas, principalmente quando discutimos a quebra das patentes, mas no Brasil foram diversas negligências para que o ritmo de vacinação fosse tão lento como agora. Isso tem um reflexo no cenário que estamos vivendo”, disse a médica Fernanda Americano Freiras Silva, integrante da Rede de Médicas e Médicos Populares, ao podcast A Covid-19 na Semana.

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O Plano Nacional de Imunização completa seis meses, mas ainda assim o Brasil ultrapassou o patamar de mais de 500 mil de novos contaminados em apenas uma semana, muito próximo aos piores recordes já registrados, além dos 512 mil óbitos pela doença. Segundo o Imperial College de Londres, cada 100 pessoas contaminadas hoje no Brasil, têm potencial de infectar outras 113 pessoas. A taxa de transmissão vem aumentando no país, que superou 18 milhões de casos da covid nesta semana.

A Organização Mundial da Saúde lançou um alerta para o Brasil no último final de semana: enquanto o surto de coronavírus diminuiu em todo mundo, aqui a tendência é oposta: são em média duas mil mortes por dia, um percentual baixo de pessoas imunizadas, taxas de isolamento social reduzidas e uma elevada curva de novas contaminações, com mais de 50 mil novos diagnósticos confirmados por dia.

“A maioria das vacinas não são esterilizantes. Elas não impedem a contaminação pelo vírus, o que faz com que pessoas vacinadas transmitam a doença para pessoas não vacinadas. Isso mantém um patamar alto de mortes pela Covid-19 e de casos novos”, disse Fernanda. “Essa sensação de proteção individual pode prejudicar a ação coletiva da vacina. Todos os que estão vacinados precisam continuar usando máscara e evitando aglomeração.”

A Fiocruz aponta que em 18 estados e no Distrito Federal a taxa de ocupação de leitos em hospitais está na média dos 80%. Quando esse índice atinge os 85% especialistas já consideram como um colapso no sistema de saúde. “Essa sobrecarga é um grande problema e não só para abordagem para a Covid-19, mas para outras doenças, que continuam existindo”, disse a médica.

Mãe trans

Nesta segunda-feira (28), quando é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Programa Bem Viver conta a história de Barbara Pestana, uma mãe trans que precisou entrar na Justiça do Pará para recuperar a guarda de seu filho, retirada dela após sofrer ataques homofóbicos nas redes sociais.

O menino de sete anos foi retirado da mãe depois de um vídeo postado por ela mesma ter viralizado entre perfis bolsonaristas, em especial o do deputado Eder Mauro (PSD), líder da bancada da bala no estado.

A polêmica começou em 3 de abril, quando Barbara postou um vídeo no Instagram que mostrava ela colocando uma peruca e o filho rindo dela. Neste momento, Bárbara conversa com a criança e explica que ele não deve rir de uma pessoa por ela ser diferente e coloca a peruca nele. Na sequência, o deputado Eder Mauro compartilhou o vídeo em sua conta no Twitter dizendo que Bárbara teria obrigado o menino a usar peruca contra a sua vontade.

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O Conselho Tutelar foi acionado e retirou aguarda da criança da mãe, considerando que ele foi colocado em situação vexatória. Bárbara recorreu e após três meses separados a Justiça concluiu que o Conselho Tutelar agiu de forma arbitrária e que a criança não poderia ter sido retirada da mãe.

“Estou muito feliz a decisão, saiu a guarda do meu filho! Depois de toda transfobia, depois de tudo o que sofremos nesses três meses, com ameaças de morte e perseguição politica, nós vencemos!”, disse Bárbara, visivelmente emocionada. A guarda ainda é provisória.

Seu advogado, João Bosco Nascimento, afirmou que ainda irá recorrer à Justiça para que a família possa obter as compensações legais devidas para o caso. “Foi uma ação sem legitimidade, na qual uma criança foi tirada do seio familiar sem o devido processo legal”, disse.

Arte e culinária

O pastel de angu, muito tradicional em Minas Gerais, é protagonista de uma história de resistência e agora também de um filme. O curta metragem “Angu Recheado de Senzala” estreia amanhã (29), no Youtube, contanto a história dessa iguaria a partir do racismo e da vivência de negros escravizados no estado.

O pastel de angu, patrimônio da cultura mineira, tem sua origem no período da escravidão, no final do século 19, quando pessoas escravizadas escondiam restos de carne dos senhores em bolinhos de fubá, para consumi-los nas senzalas.

É essa história que o artista e chef de cozinha mineiro Stanley Albano conta na produção. O lançamento será às 20h, no canal da Mandaknega.

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Edição: Sarah Fernandes