Conquista

RJ: MST pressiona Incra e Justiça concede imissão de posse da Usina de Cambahyba

Oficiais de Justiça estiveram nas terras onde está montado o Acampamento Cícero Guedes, em Campos dos Goytacazes

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
MST Cambahyba
Segundo MST, a próxima etapa é pressionar o Incra pela implementação da reforma agrária no local - Tarcísio Nascimento/MST

A Justiça Federal cumpriu, nesta segunda-feira (5), mandado de imissão de posse e concedeu as terras da antiga Usina de Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com isso, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) conquista mais uma etapa no longo processo de redistribuição das terras da antiga usina que já dura 21 anos.

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Membro da direção nacional do MST, Luana Carvalho disse ao Brasil de Fato que é um dia de comemoração, mas que a luta continua para pressionar o Incra a implementar a política de reforma agrária. Ela relembrou do histórico de violência nas terras da Cambahyba e do assassinato de Cícero Guedes, militante do MST morto em 2013 em uma estrada próxima a uma das ocupações organizadas pelo movimento no local. 

"Tivemos uma grande conquista hoje, é uma vitória na luta do MST. São 21 anos da primeira ocupação que fizemos aqui e conseguimos, enfim, obrigar o Incra a ser imitido na posse. Oficialmente, essas terras não fazem mais parte da família proprietária. Elas são de propriedade do Incra, do Estado brasileiro. Pensamos no tanto de violência que houve aqui, no sangue derramado, na incineração de corpos", afirmou.


Ocupação, que existe há 21 anos, ganhou mais de 300 famílias em junho deste ano / Tarcísio Nascimento/MST

Segundo Luana, a última ocupação do MST organizada no local no final de junho e nomeada de Acampamento Cícero Guedes reúne mais de 300 famílias que estão dando uma nova função social às terras. Há semanas, os trabalhadores e trabalhadoras dedicaram-se a tarefas como capinar o terreno, erguer alojamentos e uma cozinha coletiva, levar energia elétrica para os novos moradores e cultivar a terra.

"A gente pode agora dar uma nova função social às terras, transformar numa terra de vida. A gente acredita que hoje renasce nessas terras o espírito de Cícero Guedes, nosso grande companheiro de luta. Então, estamos todos muito felizes com essa conquista. Mesmo sabendo que ainda temos muita luta pela frente, hoje é dia de comemorar a luta da classe trabalhadora, do MST que está aqui por tantos e tantos anos", comentou.

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O território da Usina Cambahyba é formado por sete fazendas que somam cerca de 3,5 mil hectares. Em 1998, a área foi decretada pelo Governo Federal para fins de reforma agrária. Anos mais tarde, em 2012, o local foi considerado improdutivo pela Justiça. Na época, a área pertencia a Heli Ribeiro Gomes, político fluminense eleito deputado federal em 1958.

História

A Usina Cambahyba tem trajetória entrelaçada com a história recente do país. Estruturada como uma usina de produção de açúcar, o local foi utilizado na ditadura militar para incinerar corpos de presos políticos e opositores do regime. 

Em 2014, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio Guerra, detalhou em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) ter incinerado 12 corpos nos fornos da usina, dentre eles, Fernando Santa Cruz e Luís Maranhão, desaparecidos em 1974. A versão já havia sido contada no livro “Memórias de uma guerra suja”, escrito por Guerra e lançado em 2011. 

Em reação ao depoimento de Guerra, em 2012, o MST ocupou o local pela segunda vez - uma primeira ocupação já havia sido feita em 2000 com ex-empregados da Usina, que não receberam seus direitos trabalhistas com o encerramento das atividades no local.

Um ano depois, em 2013, Cícero Guedes, militante do MST, foi assassinado na estrada próxima à ocupação. Cícero, que já tinha sido assentado em 2002 no assentamento Zumbi dos Palmares, também localizado em Campos dos Goytacazes, continuava sua militância na luta pela reforma agrária e contribuiu ativamente na ocupação da usina.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse