Direitos Humanos

RS cria Observatório para fiscalizar proteção a crianças e adolescentes e combater retrocessos

Dados da Secretaria de Segurança Pública do RS apontam que, em 2020, cinco crianças foram estupradas por dia no estado

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Observatório de Políticas Públicas no RS (OPPCA) se define como uma rede que se articula em defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes e se mobiliza para enfrentar os retrocessos nas políticas públicas - Marcello Casal Jr/ABR

No Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, ocorreram cinco estupros de crianças por dia no ano de 2020, cerca de 1071 em seis meses. Segundo o Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI), situado em Porto Alegre, 70% dos registros foram de violência intrafamiliar, sendo 50% de pais e padrastos.

Esta e outras preocupações de caráter mais permanente para a implementação do Estatuto de Criança e do Adolescente motivaram a criação de um Observatório de Políticas Públicas no Rio Grande do Sul (OPPCA), que se reunirá pela primeira vez, nesta sexta-feira (9) para avançar no projeto, que está sendo apoiado pela deputada federal Maria do Rosário (PT/RS), uma das proponentes.

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Violência e pandemia

Durante o ano de 2020, constatou-se uma expressiva subnotificação de denúncias de violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Uma queda de 53% apenas no primeiro semestre da pandemia, em especial dos abusos sexuais intrafamiliares, enquanto se registrou, visualmente, o aumento da presença de menores nos pontos de exploração sexual.

Estes quadros confirmam os alertas das Nações Unidas, feitos em março de 2020, de que a pandemia seria um período de muitas violações de direitos humanos, em especial de meninas e meninos, de mulheres, idosos, pessoas com deficiência e populações de periferia e migrantes. 

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O isolamento social e a redução do espectro das políticas públicas foram decisivos para formar este quadro, deixando como resultado a lacuna de dados e de elementos para balizar as políticas públicas. O grau de subnotificação foi muito relevante quando comparados com anos anteriores, deixando de ser uma simples variação.

“As políticas para a infância e adolescência necessitam de dados quantitativos e qualitativos da realidade, pois é sobre eles que nos debruçamos para desenhar estratégias, ações e serviços previstos em toda a legislação que elaboramos ao longo de quatro décadas, desde a Constituinte”, comentou a deputada, que preside a Frente Parlamentar Mista de Direitos das Crianças e Adolescentes.

O Observatório

O OPPCA se define como uma rede que se articula em defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes e se mobiliza para enfrentar os retrocessos nas políticas públicas, além de monitorar a execução do orçamento nas três esferas governamentais. Integram-no associações, sindicatos, entidades públicas e da sociedade civil, conselheiros tutelares, conselheiros de direitos, mandatos parlamentares, universidades, acadêmicos e lideranças da área da infância de diferentes cidades do RS.

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Além da articulação política para promoção dos direitos das crianças e adolescentes, o OPPCA promove eventos e estabelece parcerias para engajar organizações que atuam na área.

Nesta sexta-feira (9), o Observatório realiza sua primeira grande reunião, quando vai debater seus objetivos, tendo como propostas iniciais o mapeamento e a articulação de organizações e lideranças que atuam na área da Criança e do Adolescente; a ampliação da participação, garantia da democracia, promoção da cidadania e de uma cultura de direitos; o monitoramento dos serviços e orçamento públicos; e a qualificação do debate e ampliação do controle social das políticas públicas disponíveis à sociedade.

Segundo as organizadoras, será uma experiência inovadora no Rio Grande do Sul que fará parceria com algumas universidades de âmbito nacional para elaborar estudos e pesquisas, contando com recursos provenientes de emendas parlamentares e outras formas de obtenção de apoio.

O encontro será on-line pelas plataformas digitais e seus resultados serão divulgados amplamente.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko