Minas Gerais

ELE NÃO

Artigo | A pior coisa do mal é nos acostumarmos a ele

‘Cidadãos de bem’ ousam tratar com normalidade um escândalo de corrupção

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
"E o barulho das vassouras dos garis aumenta, há uma imensidão de ruas para serem varridas" - Créditos da foto: Prefeitura de SP

É madrugada, quase quatro da manhã. Entre a rua São Paulo e a avenida Augusto de Lima, o barulho das vassouras dos garis é um gemido ecoado do chão.  É impositivo resistir para existir. Despoluir as vias públicas mantém uma urbanidade incapaz de camuflar a barbárie de vidas humanas jogadas nas ruas deste país-continente. Protelaram a vacinação da covid-19 para o povo brasileiro, negaram a ciência em nome da ganância. Há muita gente dormindo na rua: barracas armadas nas calçadas, panelas vazias, cobertores imundos e o medo do futuro nos olhos de quem mais sofre com os efeitos da pandemia.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu celular. Clique aqui ::

 Ninguém escolheu está na rua no inverno severo de um horizonte que já foi tão belo. Não são todos que têm o direito de escolher. Escolha é coisa de escolhidos e acolhidos pelas predileções históricas das instituições. O direito é somente assegurado no exercício da cidadania. Quem carrega a escassez do pão no estômago sente na pele o quanto a lei é uma estrutura estática, coisa de gente tecnocrata, blindada no conforto do home office e das plataformas digitais.

Escolha é coisa de quem fica à espera do divã semanal. Usam cachecol à noite e protetor solar durante o dia. E o barulho das vassouras dos garis aumenta, há uma imensidão de ruas para serem varridas. Gritos são constâncias pandêmicas. E devemos gritar mesmo: são mais de 530 mil mortos, quase 15 milhões de desempregados e 220 mil pessoas em situação de rua. É inegável essa dor coletiva. E o atual desgoverno desviou mais de 50 milhões de reais. Isso apenas em publicidade para ‘combater’ a crise sanitária. 

Os escolhidos e acolhidos nem reparam a barbárie, nunca repararam e nem vão colocar reparo. Por que reparar os delírios comunistas? Os escolhidos e acolhidos, em seus devaneios pandêmicos, perpetuam uma positividade tóxica e trágica. Querem cristalizar uma estrutura social pautada na falta de equidade de oportunidades. Os escolhidos e acolhidos, sem consciência de classe, se autoproclamam ‘cidadãos de bem’ e ousam até tratar com normalidade um escândalo de corrupção arquitetado por um genocida e por um gabinete paralelo, literalmente das trevas.  

Jean-Paul Sartre é categórico: “A pior coisa do mal é nos acostumarmos a ele”. E ele, ele não!

:: Saiba quais são as produções de rádio do BdF MG e como escutar ::

Éverlan Stutz é jornalista, professor, ator, compositor e poeta  

Edição: Elis Almeida