Censura na vacinação

Casal impedido de vacinar com camisa anti-Bolsonaro em quartel diz que agentes temiam punição

Relato aponta que oficiais do Corpo de Bombeiros afirmaram seguir ordens do comando e que poderiam ser alvo de inquérito

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Homem é vacinado com camisa do avesso para esconder protesto contra Bolsonaro - Reprodução/Twitter

O professor de história Luiz Carlos Oliveira e sua mulher, Dirlene Barros de Oliveira, também professora, que foram impedidos de tomar a segunda dose da vacina contra o coronavírus em um quartel do Corpo de Bombeiros no Rio de Janeiro por estarem vestindo camisetas contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disseram ao Brasil de Fato que os agentes citaram medo de punição e até possibilidade de prisão caso liberassem o protesto.

Os dois foram obrigados a vestir a camiseta do avesso para ter a vacina aplicada no quartel localizado na Barra da Tijuca. Em relato enviado à reportagem após o caso repercutir nas redes sociais, Luiz Carlos disse que, "caso a vacinação fosse realizada sem o cumprimento desta ordem, os soldados responderiam a inquéritos e poderiam ser presos por até 30 dias". Procurada pelo Brasil de Fato, a corporação disse que vai abrir uma sindicância para apurar os fatos.

As camisetas do casal tinham a seguinte mensagem: “A segunda dose da vacina nos livra da covid-19. O que nos livrará dos ‘Bolsovírus’ será o impeachment ou o seu voto em 2022". Na aplicação da primeira dose, Luiz Carlos e Dirlene também foram ao mesmo quartel e não foram impedidos de receber a vacina com uma camiseta com a mensagem: "Vacina sim, Bolsonaro fora".


Casal com as camisetas anti-Bolsonaro em quartel do Corpo de Bombeiros / Reprodução/Twitter

No relato, Luiz Carlos detalha a abordagem dos bombeiros: "Estava na fila para ser vacinado e um bombeiro muito gentil e com muita educação pediu para que colocasse minha blusa do avesso porque, por determinação do comando, a vacinação não seria feita em quem portasse cartazes ou vestimentas com mensagens políticas".

Em nota, o Corpo de Bombeiros do Rio (CBMERJ) afirmou que o seu comandante geral, o coronel Leandro Monteiro, é a favor da liberdade de expressão e que o caso no quartel da Barra da Tijuca foi isolado. A corporação disse também que vai abrir uma sindicância para apurar os fatos.

"O CBMERJ lamenta o ocorrido e reitera que não existe uma determinação oficial do comando da corporação que proíba este tipo de manifestação por parte de civis em nenhum dos quartéis que abriram as portas para a vacinação", afirmou.

Leia o relato na íntegra:

"Estava na fila para ser vacinado e um bombeiro muito gentil e com muita educação pediu para que colocasse minha blusa do avesso porque, por determinação do comando, a vacinação não seria feita em quem portasse cartazes ou vestimentas com mensagens políticas e, caso a vacinação fosse realizada sem o cumprimento desta ordem, os soldados responderiam a inquéritos e poderiam ser presos por até 30 dias.

Cumpri a determinação, argumentando a ilegalidade da ordem e comuniquei que levaria essa questão para a imprensa. Como cumpri a determinação, fui vacinado normalmente. Tomei essa atitude porque compreendi que não seria correto submeter os bombeiros a mais um constrangimento e que eles são subalternos, obrigados a cumprir ordens.

Temos 61 anos. Somos professores (minha esposa era diretora de um CIEP quando se aposentou) e eu sou professor de História da Secretaria Municipal de Educação (SEM) do Rio de Janeiro em atividade. Gostaria de ressaltar o medo real dos soldados de sofrerem uma punição."

Edição: Vivian Virissimo