VITÓRIA

Após 12 anos de luta, movimento comemora conquista de preservação da Mata do Planalto em BH

Com 20 nascentes e uma enorme riqueza de fauna e flora, área verde sofreu ameaça de construtora nos últimos 12 anos

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Área estava ameaçada pelo projeto da Construtora Direcional, que previa a construção de 760 apartamentos, 16 prédios de 16 andares cada - Foto: Margareth Ferraz

Após 12 anos de luta e resistência da comunidade, a Mata do Planalto, na região norte de Belo Horizonte, será totalmente preservada. O comunicado feito pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no início deste mês, é que a PBH “está finalizando os procedimentos para promover a permuta de imóveis que garantirá a preservação da Mata do Planalto como área pública”. A mata, segundo a prefeitura, “é um ativo ambiental muito importante para a região e para a cidade de BH".

“Agora, a satisfação é geral. Mas a gente ainda está com cautela, porque ainda têm os trâmites. Vamos permanecer com o projeto de lei na Câmara, para reconhecer o valor ecológico e paisagístico da área. Não podemos parar. Vamos ter tranquilidade só quando tivermos o resultado oficial”, comemora Magali Ferraz Trindade, que é presidenta da Associação Comunitária do Planalto e Adjacências e integrante do Movimento Salve a Mata do Planalto.

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Ela se refere ao Projeto de Lei (PL) 1050/20 apresentado pelas vereadoras do Psol Bella Gonçalves e Cida Falabella, que foi aprovado em junho no primeiro turno da Casa. A proposta, que reconhece o valor ecológico, paisagístico, cultural e comunitário da área verde, está em análise na Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana. No local, a população sonha com a construção de um parque ecológico para que toda a cidade possa desfrutá-lo.

Riqueza natural

Com cerca de 200 mil metros quadrados, a Mata do Planalto é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica em Belo Horizonte. A área abriga mais de 20 nascentes, que formam o Córrego Bacuraus, a Bacia do Onça e deságua no Rio das Velhas e no Rio São Francisco. Na época das chuvas, há, inclusive, a formação de pequenas cachoeiras. Além disso, abriga 68 espécies de pássaros e 98 espécies de árvores.

Os benefícios da mata para os bairros ao seu entorno são inúmeros. Segundo Magali, a temperatura na região é cerca de cinco graus a menos que a média da capital, que sofre com a pavimentação e especulação imobiliária. Além disso, a mata fechada serve de contenção do barulho e das águas da chuva, protegendo avenidas ao redor de enchentes.

“A gente nunca teve o sentimento de que íamos perder. Mesmo com as ameaças, não desistimos. Foi muita persistência e eu agradeço a Deus, porque ele deu fé, força e coragem”, relembra Magali. “Esse benefício de proteger a mata não é só para a região norte, mas é um patrimônio para a cidade”, completa.

Nos 12 anos de luta, foram inúmeras atividades que os moradores organizaram, entre manifestações, audiências públicas, cultos ecumênicos, reuniões de negociação, atividades culturais, carreatas, panfletagens, denúncias no Ministério Público e na Defensoria Pública, e diversas outras ações.

Ao longo dos anos, vereadores, advogados, artistas, pesquisadores, pastorais, movimentos e coletivos também se somaram aos moradores na defesa da Mata do Planalto. Inclusive, em janeiro de 2020, mais de 60 entidades assinaram uma carta aberta endereçada ao prefeito Alexandre Kalil, para que ele cumprisse sua promessa de campanha de preservar a mata.

“Foi uma conquista inédita e serve de exemplo paras as pessoas se unirem”, diz Magali.

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A área estava ameaçada pelo projeto da Construtora Direcional, que previa a construção de 760 apartamentos, 16 prédios de 16 andares cada e mais de 3,5 mil vagas de garagem. Em Belo Horizonte, de acordo com o Movimento das Associações de Moradores (MAM-BH), pelo menos outras seis matas estão ameaçadas por construtoras: Parque Jardim América, Mata do Mosteiro, Mata São João Batista (Lareira), Mata do Isidoro, Mata da Baleia e o Complexo da Pampulha.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Rafaella Dotta