Campesinato

RS: cooperativa camponesa coloca o município de Seberi em evidência na pauta da agroecologia

Cooperbio se aproxima dos dez anos de instalação no município com projetos e oportunidades de formação

Brasil de Fato | Seberi (RS) |
Cooperativa instalada em Seberi é formada por cerca de 2 mil famílias camponesas da base MPA - Arquivo Cooperbio/MPA

Localizada na região noroeste do Rio Grande do Sul, na zona rural do município de Seberi, a Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil LTDA (Cooperbio) é um empreendimento formado por cerca de duas mil famílias camponesas da base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

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Os cooperados são camponeses e camponesas instalados em mais de 35 municípios da região. Fundada em 2005, tem sua sede instalada na localidade de Linha Tesoura desde 2012 e já apresenta um portfólio de inúmeras ações de sucesso, em espacial no campo da agroecologia.

"A atuação da cooperativa demarca um contraponto ao avanço do monocultivo da soja e milho transgênico, pelos sistemas de integração e subordinação da agricultura familiar à agroindústria e pelo uso massivo de agrotóxicos, hormônios e antibióticos", explica o engenheiro agrônomo Marcos Joni de Oliveira, que atualmente preside o empreendimento.

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Conforme explica, a estrutura agrária da região é formada predominantemente por pequenos e médios agricultores - 45 mil propriedades entre 5 e 50 hectares. No entanto apenas 4,93% dos proprietários concentram 43,87% da terra.

“Esse quadro conforma uma região com alta vulnerabilidade socioambiental, mas com elevados potencias para protagonizar projetos e definir agendas regionais integradas nos âmbitos ambientais e socioeconômico”, destaca Oliveira, frisando os três principais eixos de atuação da Cooperbio: Educação para a Sustentabilidade; Produção Agroecológica e Alimentação Saudável; e Bioinsumos para Transição Agroecológica.


Espaço se tornou referência pedagógica e recebe visitas de escolas de toda região / Arquivo Cooperbio/MPA

Acerca do primeiro eixo, Educação para Sustentabilidade, a bióloga Débora Varoli aponta a compreensão da “educação como todo ato e processo de ensino-aprendizagem de base formal ou informal, científica, técnica e/ou popular que elevam as capacidades, valores e recursos dos sujeitos engajados nos processos de transformação da sociedade e natureza”.

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As ações de educação propostas a partir da Cooperbio e do MPA envolvem, em média, anualmente, mais de cinco mil pessoas através de cursos prolongados de capacitação, oficinas, dias de campo, intercâmbios, palestras, assessoria às unidades de produção e agroindústrias.

Anualmente a cooperativa, associados e comunidade regional realizam a Festa das Sementes Crioulas – que neste período foi suspensa para que os camponeses possam também ter como prioridade os autocuidados em relação à pandemia –, evento que em todas as suas edições atraiu participantes de todas as regiões do estado, de outras unidades da federação e até de países vizinhos.


A produção de alimentos sem venenos ou insumos químicos é uma das bandeiras do MPA / Arquivo Cooperbio/MPA

O eixo que trata da Produção Agroecológica e Alimentação Saudável é apresentado pela acadêmica de Tecnologia em Agropecuária, Viviane Chiarello: “neste âmbito a cooperativa construiu e mantém o Centro Territorial de Cooperação em Seberi, onde abriga centro de capacitação, alojamento, refeitório, salas de aula e ampla biblioteca; bem como unidades agroindústrias, áreas demonstrativas de produção em sistemas agroflorestais, hortaliças, produção animal orgânica e indústria de bioinsumos”.

Viviane destaca ainda projetos em desenvolvimento de produção de ovos orgânicos e sistemas de comercialização e abastecimento popular de alimentos, contando inclusive com uma feira virtual, online e a participação na feira do produtor local. Tudo com produção própria e mobilização da produção de associados, que ultimamente carecem de políticas públicas (PAA, PNAE) voltadas a comercialização de sua produção. 


Aplicação de pó de rocha, insumo estratégico para a transição agroecológica / Arquivo Cooperbio/MPA

No que diz respeito aos Bioinsumos para transição agroecológica, a engenheira agrônoma e mestre em Fitotecnia Bernadete Reis explica que a cooperativa compreende a transição agroecológica como um processo social, econômico e tecnológico que necessita do apoio estruturante do estado através de políticas sociais e o engajamento comunitário.

“No âmbito tecnológico a metodologia desenvolvida pela Cooperbio incide em práticas como o aumento da biodiversidade nos sistemas de produção, a  remineralização dos solos através de compostos de rochas, a ativação da vida do solo por meio dos adubos verdes em sinergia com o aumento de minerais no solo, o uso de biofermentados, biofertilizantes e controladores biológicos, o uso da homeopatia e técnicas da agricultura biodinâmica, e por fim, o desenvolvimentos de sistemas de produção de base ecológica como Pastoreio Racional Voisin, rotação de cultivos, consórcios até os sistemas agroflorestais como forma mais sustentável de produção”, explica.


As feiras populares são espaços onde se estabelece o diálogo entre os trabalhadores camponeses e urbanos / Arquivo Cooperbio/MPA

"Neste período, em que se estabelecem reflexões e comemorações por conta do Dia do Agricultor e da Agricultora, a presença da Cooperbio em Seberi, enquanto iniciativa de cooperação que envolve famílias integrantes da base do MPA, coloca o município e a região no protagonismo da construção de um modelo sustentável de agricultura, resgatando as experiências coletivas do campesinato, preservando a cultura e a sabedoria popular acumuladas ao longo de séculos de desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que estabelece linhas de pesquisa contemporâneas e viabiliza a proximidade com os principais pensadores e pesquisadores da agroecologia em nosso tempo, com vistas a produzir alimento de qualidade para homens e mulheres do campo e da cidade, forjando uma aliança camponesa e operária por soberania alimentar", arremata o presidente Marcos Joni Oliveira.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira