Mais de 60 cidades mineiras se articularam para participar das manifestações do 24J contra o presidente Jair Bolsonaro e por vacinação ampla. Entre elas, o pequeno município de Carrancas, no Sul de Minas Gerais. No entanto, ao contrário de outras ocasiões, o protesto do último sábado (24) foi palco de polêmicas e agressões.
Tudo começou quando o prefeito de Carrancas, Hely Alves (PTB), chegou à concentração do protesto. Segundo relatos, o chefe do executivo se aproximou da manifestação e destruiu cartazes que estavam expostos. A atitude gerou revolta entre os manifestantes, que chamaram a polícia, já que havia agentes da segurança pública acompanhando a mobilização.
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Com o tumulto, a situação começou a ser registrada pela vereadora da cidade Cláudia Nogueira, mais conhecida como Prof.ª Claudinha (PCdoB). Ao perceber que estava sendo filmado, o prefeito agrediu a parlamentar com um tapa e jogou seu celular no chão. Em seguida, novamente, ele tentou impedir a filmagem.
“Isso é inadmissível. O prefeito agiu com abuso de autoridade. Ele tem a característica de impor a política de perseguição, trato grosseiro e violento com quem é contra suas opiniões”, desabafa a vereadora. Após o ocorrido, ela registrou um Boletim de Ocorrência sobre o caso. “Não nos calaremos. Sabemos que a luta é dura, mas continuaremos defendendo os direitos coletivos”, completa.
O que diz o prefeito
Procurado para se manifestar sobre o caso, o prefeito informou à nossa equipe, por meio de nota, que “a administração municipal de Carrancas e o prefeito respeitam o direito à livre manifestação”, mas que não tolera a “utilização de bens públicos e de bens religiosos do município”, em manifestações, colocando em risco sua preservação.
Sobre a acusação de violência, a nota informa que "o prefeito tentou conversar com os manifestantes, no intuito de que fossem retirados tais objetos, ocasião em que uma manifestante, imbuída de uma fúria alucinada, tentou agredir fisicamente o prefeito municipal”.
Retrocessos ambientais
Recentemente o nome do prefeito também esteve em destaque em denúncia feita por ambientalistas da cidade sobre o desmonte do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema). Segundo investigação da reportagem feita pela Carta Capital, a ação tem como objetivo favorecer mineradoras, que há anos cobiçam e assediam a região, além de empresas ligadas ao agronegócio.
O assunto virou pauta de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e agora está sendo investigado pela Casa e também pelo Ministério Público do estado. Em resposta ao caso, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) enviou requerimentos à Comissão de Administração Pública da ALMG, cobrando uma explicação do prefeito sobre a situação do Codema e também sobre os possíveis impactos que a construção de uma pista de motocross e um silo de armazenamento de soja podem trazer ao município.
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No intuito de preservar os bens naturais, sobretudo as reservas aquíferas da cidade, a deputada propôs ainda o Projeto de Lei 2.934/21 que institui cachoeiras, complexos e serras como patrimônios do município e do povo mineiro, e restringe atividades predatórias na cidade.
Movimentos articulam nota de solidariedade
Em solidariedade aos manifestantes de Carrancas e em uma tentativa de evitar futuras agressões e impedimentos ao livre direito de manifestação, organizações articularam uma nota em repúdio à atitude do prefeito. O documento é assinado por entidades como a Frente Brasil Popular, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e diversas outras organizações.
