Golpe patrocinado

Justiça argentina reúne provas sobre contrabando de armamento à Bolívia durante gestão Macri

Defesa do ex-presidente busca frear investigação interna que interroga oficiais da Gendarmeria, força policial federal

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
O ministro de Justiça e Direitos Humanos argentino, Martín Soria, assegura que "todos os dias a causa avança um pouco mais", para comprovar o contrabando macrista de material bélico à Bolívia. - Télam

O governo boliviano continua com as investigações sobre o golpe de Estado de 2019 que destituiu o ex-presidente Evo Morales e a suposta contribuição de governos de outros países da região que teriam colaborado com o regime de Jeanine Áñez. A Argentina está envolvida no caso pelo envio de 70 mil  cartuchos de munição AT 12/70, conforme anunciou o ministro de governo da Bolívia, Eduardo del Castillo.

No país platino, por sua vez, a apuração mais avançada sobre o suposto contrabando à Bolívia é comandada pelo juiz ​Javier López Biscayart​. O pedido de investigação foi apresentado pelo governo nacional, através da ministra de Segurança, Sabina Frederic, do ministro de Justiça, Martín Soria, e da titular da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), Mercedes Marcó.

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Segundo informa o jornal Página 12, o juíz Biscayart já acumulou um volume de provas expressivo. Constam na investigação os documentos concedidos pelo governo que revelam as munições que saíram do território argentino e que não foram declaradas no manifesto de carga, e o tribunal ainda aguarda a chegada dos documentos da Bolívia, o que deverá acontecer através da chancelaria nas próximas semanas.

A partir da análise dos documentos, poderão ser incluídos mais nomes na lista de denunciados investigados na causa, como integrantes das forças armadas e ex-funcionários de Mauricio Macri, ex-presidente do país (2015-19).

Nesta causa, já são oito os denunciados: o próprio Macri e seus então ministros de Segurança, Patricia Bullrich, e de Defesa, Oscar Aguad; o então embaixador boliviano, Normando Álvarez García; e quatro membros da Gendarmeria Nacional (espécie de força policial de assuntos estratégicos e cunho federal): o ex-diretor geral Gerardo José Otero; o ex-diretor de Logística Rubén Carlos Yavorski; o ex-diretor de Operações Carlos Miguel Recalde, e o mais recentemente incluído na causa, o comandante da Gendarmeria, Adolfo Héctor Caliba. Enviado à Bolívia, ele teria sido responsável por coordenar o envio e recepção dos cartuchos com a polícia boliviana, em 2019.

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O fiscal Claudio Navas Rial apontou ao juiz a inclusão de Caliba na causa após análise dos documentos enviados pelo governo nacional, por considerar "o papel que este teria desenvolvido no aeroporto de El Alto, na Grande La Paz, nas tarefas de recepção da equipe da Gendarmeria e dos armamentos e munições aparentemente enviados". Um relatório do Ministério da Defesa incorporado na causa aponta que Caliba teria coordenado inclusive o descarregamento do avião, que não chegou a desligar o motor durante a operação.

Em meio às investigações entre os oficiais da Gendarmeria Nacional que foram enviados à Bolívia durante o golpe, a defesa de Macri apresentou uma apelação para impedir os interrogatórios. Na última quarta-feira (28), o juíz Biscayart rejeitou o pedido, pontuando que "não resulta ser uma decisão das compreendidas entre as expressamente suscetíveis de apelação, além de não causar agravante irreparável algum".

O advogado Pablo Lanusse sustentou, no pedido de apelação, que "a investigação deve ser realizada, porém, materializada na sede jurisdicional onde atuaram as mesmas agências do Estado, para garantir assim o equilíbrio e igualdade de armas e o controle de nossa parte", conforme descreveu o jornal La Nación.

A defesa de Macri ressaltou, também, a vontade do ex-presidente de que as investigações avancem, uma vez que o direitista estaria "convencido de sua inocência".

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*Com informações de Página 12 e La Nación

Edição: Vinícius Segalla