Entrevista

"Instituições são cúmplices da política do presidente", diz Leonardo Boff ao Programa Bem Viver

Para o filósofo, voz da Teologia da Libertação, população precisa pressionar governo por política de valorização da vida

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“O coronavírus revelou qual é a nossa verdadeira essência: a solidariedade, o cuidado e a generosidade", diz Leonardo Boff
“O coronavírus revelou qual é a nossa verdadeira essência: a solidariedade, o cuidado e a generosidade", diz Leonardo Boff - Leandro Taques/Jornalistas Livres
O novo começo será baseado na bondade, na solidariedade, na generosidade e no cuidado com a natureza

Ao se calarem diante das políticas do governo federal que ajudaram a propagar o novo coronavírus, as instituições brasileiras acabam sendo cúmplices de uma política de morte que já vitimou mais de 500 mil pessoas e para a qual “não há lenços que consigam conter essas lágrimas”, segundo palavras do filósofo Leonardo Boff. Convidado especial da edição de hoje (5) do Programa Bem Viver, ele é escritor e uma das principais vozes da Teologia da Libertação na América Latina.

“Temos que pressionar as instâncias que tem poder e que assistem a dizimação de seu próprio povo. De certa maneira elas são cúmplices porque deixam seus irmãos serem mortos por uma política desastrosa de um presidente que não ama seu povo nem seu país”, disse. “O povo não saiu completamente a rua, mas vai chegar a época das grandes manifestações mundiais. A pressão das ruas vai tirar qualquer legitimidade de quem é inimigo da vida. Temos que pressionar a partir de baixo.”

Boff é membro da Ordem dos Frades Menores e professor emérito de ética, filosofia da religião e ecologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Na década de 1960 viveu na Alemanha, onde se ordenou sacerdote e cursou o doutorado. Ao longo dos anos 1970, passou a publicar livros e artigos com ideias inovadoras para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Boff voltou a ocupar lugar de destaque no debate político nacional com a pandemia, discutindo seus impactos. Para além das explicações científicas, o teólogo ressalta como é preciso ver esse momento de crise como um alerta da natureza sobre o avanço desmedido do capitalismo no planeta.

“O coronavírus revelou qual é a nossa verdadeira essência: a solidariedade, o cuidado e a generosidade. Eu creio que a nova civilização, o novo começo, será baseado na bondade fundamental, a solidariedade, a generosidade e no cuidado um com o outro e com a natureza. Os mantras do capitalismo se perderam e o que está nos salvando são os valores humanos”, disse. “É difícil sustentar a esperança, porque há uma profunda tristeza em nossa volta, mas temos que manter a chama da vida dentro de nós.”

Na entrevista, ele explicou também o que é o conceito de Bem Viver, que dá nome ao programa: “é uma nova visão de toda realidade, baseada na centralidade da vida e na harmoniza com todas as coisas. É uma lógica que supõe a ética da suficiência para toda comunidade e uma relação com a natureza na qual ela é vista não como um meio de produção, mas como a que nos dá tudo o que precisamos para viver”, disse. “Outro ponto é a harmonia, que começa em casa e se espalha para as montanhas, as águas e até as estrelas, entendendo que somos parte de um todo. Essa harmonia ppde fazer com que tenhamos sociedades sem excluídos.”

Solidariedade internacional

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organiza uma ação de solidariedade para internacional para apoiar Cuba. Desde o início da pandemia, a ilha caribenha vem sofrendo crises de desabastecimento de comida, por isso serão enviados 240 quilos de sementes e 10 mil toneladas de arroz orgânico para Cuba.

Desde 1962, os Estados Unidos impõe um bloqueio econômico a Cuba, que impede a ilha de importar produtos estadunidenses e de estabelecer relações comerciais com outros países. Durante a pandemia, os efeitos dessa sanção foram ainda mais intensificados, fragilizando a economia do país, em especial na área de alimentação.

Cuba enfrenta atualmente o pior momento no combate à pandemia, com recorde no número de casos. Ao longo de 2020, o país nunca teve um dia com mais de 100 casos registrados, porém nas últimas semanas, o número diário tem passado de 7 mil.

A vacinação, no entanto, está avançada: nesta segunda-feira (2), o governo do país anunciou que toda a população da capital, Havana, apta a receber o imunizante já tinha tomado ao menos a primeira dose, o que corresponde a 1,3 milhão de pessoas.

Língua solta

Crossfit, homeoffice e telemedicina são algumas das novas palavras incorporadas ao dicionário brasileiro, na nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras.

Ao todo, mil novos vocábulos foram acrescentados ao português do Brasil, levando o número de palavras no vocabulário a 382 mil. A pandemia e as novas tendências de saúde e comportamento que ela trouxe ajudaram a consolidar novos termos no nosso vocabulário.


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Edição: Sarah Fernandes