CRISE POLÍTICA

Ex-chanceler do Peru confirma que renunciou a pedido do primeiro-ministro

Héctor Béjar afirma que extrema direita e Forças Armadas exerceram pressão por sua saída do Ministério

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Héctor Béjar é sociólogo e foi ministro das Relações Exteriores do Peru por 20 dias - ComuniCambio / Wikimedia Commons

O ex-chanceler peruano Héctor Béjar declarou que só deixou o cargo a pedido do chefe do gabinete de ministros de Pedro Castillo. Em uma entrevista à revista Correos del Alba, o sociólogo afirmou que não pretendia deixar o Ministério das Relações Exteriores, mas que recebeu um pedido de Guido Bellido e em seguida apresentou sua renúncia.

"Entendo que a renúncia foi aceita, mas até agora ninguém do governo se comunicou diretamente comigo", declarou Béjar. 

A saída apenas 20 dias após assumir o cargo foi motivada por uma campanha de descrédito nos meios de comunicação peruanos, que resgataram declarações antigas sobre a relação da Marinha peruana com o terrorismo no país e do grupo insurgente Sendero Luminoso com a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). 

Ex-comandantes das Forças Armadas exigiram que Castillo demitisse Béjar e partidos de direita convocaram atos em frente ao Ministério para pressionar pela renúncia.

Tudo aconteceu entre domingo e quarta-feira (18). Héctor Béjar afirmou que o atual Ministro de Defesa pediu uma retratação pública para fazer as pazes com a Marinha, mas o ex-chanceler se negou, assegurando que suas declarações são baseadas em evidências históricas. 

"Os primeiros atentados terroristas aconteceram em 1974 e foram cometidos por homens da Marinha. Isso está na história. Se as pessoas querem apagar isso, podem tentar, mas não vão me obrigar a dizer outra coisa", afirmou. 

Ainda que a sua primeira entrevista tenha sido dada em fevereiro, antes de que Héctor Béjar assumisse um cargo público, os vídeos foram suficientes para "desatar uma campanha da extrema direita contra mim", declarou o ex-ministro. 

A Marinha peruana ameaça abrir um processo contra Béjar se o ex-funcionário não publicar um pedido de desculpas. 

Béjar ainda denunciou que o antigo governo não repassou qualquer informação sobre o Ministério das Relações Exteriores para a sua equipe. "Encontramos um Estado abandonado. Houve uma transferência formal, mas não na prática", afirmou. 

O ex-ministro confirma que suas primeiras ações à frente da chancelaria, como a saída do Grupo de Lima e a reunião com o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, foram outros detonantes para a pressão pela sua saída do cargo. Para Béjar isso confirma que as elites peruanas buscam impedir que o novo governo tenha uma política exterior soberana. 

"O objetivo final é o presidente Castillo. Na verdade a direita nunca reconheceu que o povo ganhou a presidência. Até hoje o Peru foi governado por uma ditadura dos monopólios, grupos econômicos e meios informativos, que agora se surpreendem e não querem aceitar que a situação política e social do país mudou", declarou Héctor Béjar. 

Além do ex-chanceler, o primeiro-ministro Guido Bellido também sofre retaliação. O Ministério Público abriu uma investigação por suposto vínculo com terrorismo baseado em uma declaração de um terceiro.

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"Se o governo não se apoia na mobilização popular terá que dialogar somente com o Congresso, que está preparado para levá-lo à fogueira", analisa Héctor Béjar. 

Pedro Castillo ainda não confirmou quem será o sucessor, assegurou que está avaliando nomes e deve divulgar o escolhido na tarde desta quinta-feira (19). 

Edição: Thales Schmidt