ORGANIZAÇÃO POPULAR

Cozinha comunitária completa um ano no bairro Novo Mundo, em Curitiba (PR)

Semanalmente, são servidas, ao meio-dia, em média, 200 refeições

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Irma pressionou a prefeitura de Lerner e segue, depois de 30 anos, ajudando a comunidade - Giorgia Prates

Toda às quartas-feiras, desde agosto de 2020, começa a preparação da cozinha comunitária da União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), localizada na região conhecida como bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba.

O nome se deve ao rio que atravessa a região e envolve as vilas Maria e Uberlândia, Canaã, Leão, Candinha, Ferrovila e Formosa. Algumas dessas ocupações completam 30 anos no dia 7 de setembro e, infelizmente, seguem sem solução para a regularização dos lotes.

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Na quarta-feira, é preparado então o feijão e a separação de algumas verduras, organizado por moradoras históricas da região, caso de Edicléia de França, da vila Uberlândia. Dona Tereza, Dirce, Leandro, Leonel, Luzia, são vários nomes que circulam pela associação de moradores da Vila Uberlândia, palco da cozinha comunitária. O trabalho se completa nas quintas de manhã.

200 refeições semanais

Semanalmente, são servidas, ao meio-dia, em média, 200 refeições, uma demanda que sobe com o atual quadro de desemprego e, também subocupação, que atinge, no Brasil, até 32, 9 milhões de pessoas.

O ponto de partida foram as doações solidárias de organizações como o MST, ao lado dos sindicatos dos petroleiros e dos bancários. Trabalhadores ajudam trabalhadores. O valor médio de gasto de R$ 250 mensais para a compra de frango e insumos da cozinha se complementa com campanha de recursos junto à sociedade.

Os materiais de estrutura foram arrecadados com setores progressistas da Igreja. Em um ano, apenas no bairro, foram produzidas cerca de 10 mil refeições. No 19 de agosto, data de celebração de um ano, são produzidas 400 refeições e um cardápio de risoto para sete comunidades.

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As equipes de cozinha se revezam em duas a cada 15 dias, uma delas contando com apoio também de uma área de ocupação de outro bairro – a Nova Guaporé 2. Além disso, todas às quartas-feiras o coletivo Marmitas da Terra, que produz 1100 refeições para o povo em situação de rua, doa verduras e frutas, oriundas da reforma agrária e, sobretudo, do assentamento Contestado na Lapa. O trabalho concreto que dá vida a esses alimentos conta com trabalho voluntário, mostrando que a produção não precisa estar atrelada a valores de mercado.


Ação Marmitas da Terra conta com 150 voluntários; produção semanal é de 1.100 marmitas / Wellington Lenon

Perfil. “Está com depressão? Vem para a associação”

A palavra de ordem acima foi dita por Irma Maria Prestes Araújo, 72 anos, moradora histórica, desde 7 de setembro de 1991, na chamada Ferrovila. Há pouco tempo ela se reaproximou da associação de moradores e se engajou com tudo na cozinha comunitária. Irma dividiu o tempo formal de serviço como funcionária de escola estadual, enfermeira e cuidadora, tem três filhos, e conta que a vila foi aberta “no braço”.

Diante da indiferença da prefeitura de Jaime Lerner, Irma participou dos dois dias de acampamento no Centro Cívico para lutar por moradia.

“Montamos barraca, levamos panela, comida, Requião ajudou, Vanhoni também, foram dois dias de ocupação. Me afastei uma época da associação, agora volto a ajudar. Preciso me ocupar, gosto de cozinhar, adoro ajudar as pessoas, o povo precisa bastante. É um lugar para encontrar com as pessoas também”, relata.

Cozinha Popular no Ceará

Estados como o Ceará também contam com a experiência organizativa da cozinha comunitária. Em menos de quatro meses, a partir do dia das mães, a cozinha popular, como é chamada, atende a Comunidade da Bela Vista, área de ocupação em Fortaleza, três dias por semana, com média de 600 refeições semanais.

A avaliação é de que a cozinha é uma ferramenta que ajuda no conhecimento dos problemas da comunidade. “A cozinha tem uma potência de abrir outras possibilidades, estamos pensando em horta urbana, turmas de alfabetização, algumas senhoras que vinham se somando no trabalho, percebemos a necessidade de alfabetização”, relata Bruna Raquel Ferreira de Castro, militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).

 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos