TÓQUIO 2020

Paralimpíadas de Tóquio: conheça 10 atletas pernambucanos com chances de medalha

Assim como nos Jogos Olímpicos, delegação do estado é dominada por mulheres; desta vez há grandes chances de medalha

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Nonato (Fut 5), Carol Santiago (natação), Evani (bocha) e Jeohsah (atletismo/salto em altura) são alguns dos representantes do estado em Tóquio - Montagem: Brasil de Fato Pernambuco / Fotos CPB e arquivo pessoal

Após bater seu recorde de medalhas em Jogos Olímpicos de Tóquio, o Brasil agora busca melhorar seu desempenho nos Jogos Paralímpicos, que têm início nesta terça-feira (24) e segue por duas semanas até 5 de setembro.

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A delegação nacional tem 257 atletas (inclusos treinadores, guias e atletas que auxiliam na competição), ainda com disparidade de gênero (161 homens e 96 mulheres). A comitiva brasileira chegou a Tóquio no dia 6 de agosto e teve 15 dias de preparação. Diferente dos Jogos Olímpicos, nos Paralímpicos o Brasil figura no “Top-10” desde 2008.

Os direitos de transmissão pertencem à Rede Globo e os jogos devem passar na TV aberta como na TV a cabo (canais SporTV).

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Este ano Pernambuco está representado em Tóquio com 10 paratletas (sete mulheres e três homens), além de cinco treinadores (duas mulheres e três homens). Alguns paratletas já conquistaram medalhas em outros jogos ou nos mundiais de suas modalidades, enquanto outros surgem como “azarões” e podem surpreender. Saiba quem são:

Natação

Phelipe Rodrigues (31) nasceu com o pé direito torto congênito e foi submetido a diversas cirurgias ainda bebê. Aos 6 anos, ainda no Recife, passou a ter aulas de natação por recomendação médica e ganhou gosto pelo esporte.

Na adolescência foi morar na Paraíba e, já adulto, morou no Rio de Janeiro e no Reino Unido. Desde 2014 vive em São Paulo e é graduado em Educação Física. Nas férias sempre retorna a Pernambuco e Paraíba para visitar a família, além de buscar litorais com bons ventos para praticar kitesurf e windsurf.


Aos 6 anos Phelipe passou a ter aulas de natação por recomendação médica e ganhou gosto pelo esporte / Arquivo pessoal

Sua primeira competição de natação foi aos 17 anos e pouco depois passou a integrar a Seleção Brasileira. Hoje é atleta do Corinthians. Rodrigues já disputou os Parapanamericanos de Guadalajara (2011), Toronto (2015) e Lima (2019).

Neste último alcançou a incrível marca de 8 medalhas numa mesma edição. Também competiu nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008), Londres (2012) e Rio (2016), sendo medalhista em todas elas. Seus melhores resultados são nos 100 metros nado livre e 50 metros nado livre. Ele disputa as provas na categoria S10.

Nos 50m nado livre as baterias classificatórias acontecem na terça-feira (24), entre 21h e 23h45; a final é na manhã da quarta (25), entre 5h e 9h. Já as provas dos 100m nado livre têm início com as classificatórias na noite da sexta-feira (27), das 21h às 23h30; a final acontece na manhã do sábado (28), entre 5h e 8h30.

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A também recifense Maria Carolina Santiago (36) nasceu com uma síndrome chamada “morning glory”, que afeta o nervo óptico. Ela é parcialmente cega de um olho e não possui visão periférica.

A natação foi indicada como um esporte que não afetaria seus olhos. Ela começou a nadar aos 4 anos, mas na adolescência passou 8 meses completamente sem visão por acúmulo de água na retina. Só voltou a nadar uma década depois, aos 27, e passou a disputar competições. Ela treina no clube Grêmio Náutico União, de Porto Alegre (RS).


Carol Santiago começou a nadar aos 4 anos, mas um problema na retina a fez parar por uma década; aos 27 passou a disputar competições / CPB

Em 2019 ela quebrou o recorde brasileiro dos 50 metros nado livre que já durava 15 anos. No Parapan de Lima (2019) conquistou quatro ouros (50m livre, 100m livre, 400m livre e 100m costas), além de dois ouros e duas pratas no mundial (2019).

Carolina Santiago compete nas categorias S12 (nado livre e costas), SB12 (peito) e SM12 (medley). A nadadora compete primeiro nas provas de 100m costas, com eliminatórias na quinta (26), entre 21h e 23h; e final na sexta (27), das 5h às 8h30. Já nos 100m livre ela nada as classificatórias na segunda-feira (30), entre 21h e 23h30; a final é na terça (31), entre 5h e 8h30.

Atletismo

Outra estreante é a Leylane Moura (27), do lançamento de peso e disco. Ela caiu da escada e teve uma parada cardiorrespiratória que desencadeou uma encefalopatia crônica, com sequelas motoras e na fala. A prática esportiva, iniciada aos 22 anos, foi sugerida por um fisioterapeuta, visando melhorar a coordenação e postura.

Tentou a bocha, mas não se adaptou e passou ao atletismo. Ela conquistou uma prata e um bronze nos Jogos Parapanamericanos de Lima, em 2019. Ela compete na categoria F33, agendada para a manhã da quinta-feira (2), das 7h às 10h.


Isamel, Leylane e Ana Cláudia são três dos pernambucanos na Seleção Brasileira de Para-atletismo / Arquivo pessoal

Ana Cláudia Silva, ou “Lalá”. Também recifense, aos seis anos de idade uma queda da calçada, por cima de pedras, fraturou seu fêmur direito trazendo sequelas irreversíveis. Chegou a passar um ano sem andar. Na adolescência tentou jogar futebol, mas em 2015 foi apresentada ao atletismo.

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Ela disputa a categoria T47 dos 100m rasos e TF42 do salto em distância (mas esta última não será disputada nesta edição da Olimpíada). Com quatro anos de treinos conseguiu disputar o Parapan de 2019, mas saiu sem medalha. Lalá corre a classificatória na noite da segunda-feira (30), entre 21h30 e 0h45; caso passe à final, disputa a medalha na manhã da terça (31), entre 7h e 10h.

Tanto Ana Cláudia quanto Leylane são treinadas pelo também pernambucano Ismael Marques, no Núcleo de Educação Física da UFPE.


Descontraído e sorridente, Jeohsah é uma “personalidade” de Pesqueira / Arquivo pessoal

De Pesqueira, no Agreste do estado, Jeohsah Santos compete no salto em altura (categoria F44). Ele nasceu com uma má formação no pé esquerdo e começou no atletismo aos 9 anos. Foi convencido por sua treinadora, a também pernambucana Glébia Galvão, a migrar para o salto em altura apenas em 2015, mas conseguiu 6º lugar nas Paralimpíadas Rio 2016.

Descontraído e sorridente, Jeohsah é uma “personalidade” de Pesqueira, usando suas redes sociais para mostrar seus treinos e dar lições de coach. Ele integra o time da Associação de Apoio à Pessoa com Deficiência de Peruibe (SP).


A treinadora Glébia Galvão é a responsável por convencer Jeohsah a migrar para o salto em altura / Arquivo pessoal

Quem compete na modalidade de corrida no 100 e 200 metros na categoria T36-Paralisia Cerebral é a petrolinense Samira Brito. Diagnosticada com paralisia cerebral ainda no nascimento, condição foi provocada por falta de oxigenação na hora do parto.

A dificuldade para ouvir e para falar não impediu que a atleta começasse a praticar a corrida com a Associação Petrolinense de Atletismo (APA) e se tornasse Campeã Brasileira. Samira hoje é a 2ª colocada no Ranking Mundial de 100 e 200 metros na sua categoria, por isso, ela possui chances de medalha paralímpica. 


Samira Brito acumula os títulos de Campeã Brasileira, Campeã Norte-Nordeste e a melhor atleta do Regional no ano de 2020 / Divulgação/APA

Assim como no futebol de 11, o Brasil também é o maior detentor de títulos na modalidade para deficientes visuais. E uma das estrelas do time é Nonato Mendes (34), natural de Orocó, Sertão pernambucano. Ele nasceu com pouca visão devido a uma doença na retina, mas desde criança gostou de jogar futebol.

Passou a disputar o esporte paralímpico apenas aos 25 anos, já mostrando qualidade para atuar na seleção, joga de ala e pivô. Ele já tem dois ouros paralímpicos (2012 e 2016), além de dois títulos mundiais com a amarelinha (2014 e 2018). Ele mora em Petrolina, mas joga os torneios nacionais pela Associação Gaúcha de Futebol para Cegos (AGAFUC), com sede em Canoas (RS). Na seleção Nonato veste a camisa 8.


Sertanejo de Orocó, Nonato só passou a disputar o esporte paralímpico aos 25 anos; joga de ala e pivô na Seleção / Arquivo pessoal

A Seleção Brasileira de Fut 5 está no Grupo A, ao lado de França, Japão e China. A estreia é contra os chineses, na noite do sábado (dia 28, entre 21h e 1h); no domingo enfrenta o Japão (29, entre 21h e 1h); e por último a França, na segunda-feira (30, entre 21h e 1h).

As duas melhores seleções do grupo cruzam com as duas melhores do Grupo B (formado por Argentina, Espanha, Marrocos e Tailândia). Na noite da quarta-feira (1º) os eliminados disputam as colocações entre 5º e 8º. As semifinais acontecem na manhã da terça (2), uma das 4h30 às 6h e outra das 7h30 às 9h. Os derrotados nas semifinais fazem a disputa do bronze na noite da sexta-feira (dia 3, das 23h30 às 1h) e finalmente a disputa do ouro acontece na manhã do sábado (4, das 5h30 às 7h30).

Goallball

Diferente de outras modalidades que foram adaptadas para pessoas com deficiência, esta foi desenvolvida originalmente para deficientes visuais. O jogo é disputado numa quadra como a de futsal; com barras grandes, de 9 metros de largura (mais largas que a do futebol de campo) e 1,3m de altura; e uma bola com um guizo (para os jogadores localizarem).

Cada time tem três atletas titulares e três reservas, que defendem e atacam simultaneamente ao longo de dois tempos de 12 minutos cada. O objetivo é marcar gols nas adversárias, mas antes a bola precisa tocar no chão a cada arremesso.

A pernambucana Moniza Aparecida de Lima (23) não disputou o Parapan de 2019, mas foi convocada para Tóquio. A recifense nasceu com glaucoma e aos 15 anos, já morando na Bahia, começou a praticar goallball por incentivo de um professor. Seria convocada para a Seleção pela primeira vez em 2017.

Ela hoje atua pelo Sesi (SP), como pivô. Na Seleção ela veste a camisa 1 e já conquistou a prata no Campeonato das Américas (2017) e o bronze no Mundial (2018). A modalidade pode parecer pouco conhecida, mas há federações em 112 países. No Recife há ao menos uma equipe do esporte.


Moniza de Lima, 23, descobriu o esporte na adolescência; ela não disputou o Parapan de 2019, mas foi convocada para Tóquio / CPB

As seleções estão divididas em quatro grupos de cinco equipes cada. O Brasil está no Grupo D, ao lado de Estados Unidos, Turquia, Egito e Japão. A estreia é contra os EUA na manhã da quarta-feira (dia 25, entre 5h30 e 21h45); depois enfrentamos o Japão na quinta-feira (26, entre 21h e 23h45); na manhã do sábado (28, das 5h30 às 9h45) encaramos a Turquia; e por último o Egito, no domingo (29, das 21h às 23h45).

As quartas de final acontecem na quarta-feira (1º), entre 1h15 e 8h45. As semifinais na quinta-feira (2), no mesmo horário, alternando jogos masculinos e femininos. Na sexta-feira (3), mesma hora, também alternando homens e mulheres, as disputas de bronze e em seguida de ouro.

Bocha

Uma outra modalidade tradicional das Paralimpíadas é o bocha. E três pernambucanas (duas da UFPE) estão em Tóquio para competir na modalidade: a experiente Evani Calado (32), medalhista de ouro na disputa de duplas mistas BC3; a estreante Andreza Viória (20), da equipe da UFPE, compete na categoria BC1; além da técnica Poliana Cruz, professora da UFPE.

Natural de Garanhuns, Evani sofreu com falta de oxigênio, paralisia cerebral e deslocamento dos quadris na hora do parto. Conheceu a bocha na adolescência, mas não teve grande interesse. Ao entrar na universidade, descobriu um projeto de inclusão através desse esporte. A partir daí passou a disputar competições e chegou à seleção. Ela joga pela Associação Paradesportiva Todos (APTS, de São Paulo).  Já a recifense Andreza Vitória treina na UFPE com a técnica Poliana Cruz.


Evani (32) e Andreza Vitória (20) competem nas equipes BC3 e BC1, respectivamente / CPB


Professora da UFPE, Poliana Cruz é técnica da Seleção Brasileira de Bocha / CPB

A modalidade é disputada individualmente e por equipes. E também é dividida em quatro categorias: BC1, BC2, BC3 e BC4, de acordo com o grau de deficiência física dos competidores e o tipo de auxílio (ou falta dele) que podem ter acesso.

Todos usam cadeiras de rodas e não há divisão entre a competição masculina e feminina. A competição individual acontece entre a noite da sexta (27) e a manhã da quarta-feira (1º), mas as pernambucanas só disputarão em equipes.

Na competição em times, as 10 equipes estão divididas em dois grupos de cinco times. Cada equipe joga quatro rodadas. Na categoria BC3, Evani Calado compete ao lado de Evelyn Oliveira, a dupla de ouro do Rio 2016, às quais se soma Mateus Carvalho.

Já Andreza Oliveira disputa na categoria BC1, ao lado de Guilherme Moraes e José Carlos Chagas. As rodadas das competições de todas as categorias de duplas (BC1, BC2, BC3 e BC4) acontecem no mesmo intervalo, sem horário específico de cada categoria.

Os jogos acontecem na quarta (1º), entre 21h30 e 1h; a segunda rodada é na mesma madrugada (dia 2), entre 2h30 e 7h30; depois na noite da quinta (2), das 21h30 às 1h; e a última rodada é poucas horas depois, das 2h30 às 7h30. Caso avancem ao mata-mata, jogam as semifinais na sexta-feira (3), das 21h30 às 2h. As duplas derrotadas nas semifinais buscam o bronze nesse mesmo intervalo. Já a disputa de ouro acontece logo depois, na madrugada do sábado (4), entre 3h30 e 9h.

Tênis de Mesa

No tênis de mesa Pernambuco compõe a Seleção Brasileira com o técnico Paulo Molitor. Os jogos da modalidade começam na noite da terça-feira (24) e seguem até a manhã da sexta-feira (3).


O pernambucano Paulo Molitor é técnico da Seleção Brasileira Paralímpica de Tênis de Mesa / CPB

 

 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga