Redes sociais

Interação de policiais com conteúdos bolsonaristas dispara às vésperas do 7 de setembro

Estudo aponta aumento da adesão de oficiais das forças de segurança a pautas antidemocráticas nas redes sociais

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Presença de policiais em ambientes bolsonaristas cresceu mais de 20% durante o último ano - Eduardo Saraiva/Governo de São Paulo

Um levantamento produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que cada vez mais policiais manifestam-se publicamente ou interagem nas redes sociais com conteúdos ligados às principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

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Segundo o estudo, a presença de profissionais das forças de segurança em redes bolsonaristas no digital aumentou 27% de 2020 a 2021.

O aumento ocorreu com mais intensidade entre os praças (agentes de baixa patente, incluindo soldados, cabos, sargentos e subtenentes) da Polícia Militar. A pesquisa aponta que 51% são bolsonaristas, o que representa crescimento de dez pontos percentuais em relação aos 41% em 2020.

::: Baixe a íntegra do estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública ::: 

O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra ainda que 30% dos praças tem interações com conteúdos classificados como "radicais". O percentual era de 25% no ano passado. Considerando os oficiais de alta patente, a adesão ao bolsonarismo chega a 44% da tropa. O percentual que interage com conteúdos "radicais" era de 17% no ano passado. 

A pesquisa foi realizada a partir da extração de uma amostra estatisticamente representativa de 651 usuários no Facebook e Instagram com cargos em instituições policiais, garantindo um nível de confiança de 95% e 3% de margem de erro em relação ao universo extraído dos oficiais que constam nos Portais da Transparência.

Veja os principais infográficos publicados no estudo:


Infográfico do estudo "Política entre os policiais militares, civis e federais do Brasil" / Reprodução/FBSP


Infográfico do estudo "Política entre os policiais militares, civis e federais do Brasil" / Reprodução/FBSP

7 de setembro

O levantamento foi publicado às véspera das manifestações de 7 de setembro, convocados pelo chefe do Executivo. A presença de policiais no ato tem sido alvo de tensão desde o início da semana passada, quando um coronel da Polícia Militar de São Paulo foi afastado após declarar apoio ao ato nas redes sociais.

As publicações do oficial Aleksander Lacerda favoráveis à manifestação e que foram punidas pelo governador João Doria (PSDB) desencadearam uma série de posicionamentos, de governadores a associações que reúnem policiais da ativa e da reserva.

O Brasil de Fato apontou, em reportagem publicada na semana passada, com entrevista do tenente-coronel da reserva Adilson Paes de Souza, que agentes que apoiarem atos antidemocráticos podem ser expulsos da corporação baseado em normas do regimento interno.

Policiais aposentados

Em 25 de agosto, o Brasil de Fato mostrou que agentes da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo têm usado as redes sociais para difundir a ideia de que as manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), marcadas para 7 de setembro, têm o apoio de integrantes da corporação.

Os policiais aposentados ludibriam a audiência no Facebook e no Twitter com fotos vestindo farda da PM e com suas patentes na descrição dos perfis. Eles escondem, contudo, que não pertencem ao quadro atual de funcionários da polícia.

A aposentadoria garante proteção aos posicionamentos político-partidários feitos pelos oficiais, já que apenas os policiais da ativa são proibidos regimentalmente de fazer manifestações públicas representando a corporação.

Essas movimentações dos policiais preocupam Rafael Alcadipani, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor de gestão pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que comentou o caso em entrevista ao Brasil de Fato na última segunda-feira (23).

“Eu acredito que nunca estivemos tão próximos de um motim bolsonarista. Eu acredito que, infelizmente, existe uma grande adesão dentro das polícias, nas diferentes hierarquias, às ideias do Bolsonaro. Eu não sei até que ponto isso não pode gerar uma ruptura”, explica Alcadipani.

Edição: Leandro Melito