PRESERVAÇÃO

Para salvar floresta, povo Ashaninka atua na coleta de sementes de árvores na Amazônia

O 'Programa Sementes', no Acre, desenvolve manejo, coleta e a comercialização sustentável para preservar a mata nativa

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O destino das sementes coletadas são espaços onde há iniciativas de reflorestamento em todo Brasil - Apiwtxa
O objetivo maior é que tenhamos uma estratégia de proteger e manter essa floresta em pé

“A nossa casa é rodeada de árvores, de plantas. Árvores para nós são a nossa proteção”. As palavras são de Francisco Piyãko, uma das lideranças do povo Ashaninka, comunidade indígena de origem peruana que ocupa o território brasileiro no extremo-oeste do Acre, coladinho com a fronteira do Peru. 

Há séculos o povo dele cuida da floresta e cultiva o hábito de manejar as sementes, de modo que espécies belíssimas jamais desapareceram. “Está na nossa cultura essa relação com a semente que é muito forte e finda que, quando a gente apresenta ele lá fora, sobre a ideia, a intenção desse projeto nosso, ele é muito admirado’”, conta Piyãko.

A ideia é coletar sementes e distribuir para onde estiverem precisando

Desde 2017, a tradição secular do povo Ashaninka do rio Amônia ganhou um reforço institucional, com apoio da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre, foi criado o 'Programa Sementes', um método oficial que estabelece um plano de manejo, coleta e comercialização.

A própria comunidade faz o mapeamento, a coleta e a seleção por meio da cooperativa Ayõpare. O destino destas sementes são espaços onde há iniciativas de reflorestamento em todo Brasil.

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“A gente vai na mata, escolhe a matriz, dependendo da espécie pode ser mogno, cedro ou copaíba. então, a gente vai lá, faz o trabalho de monitoramento, coordenar as espécies e espera ela chegar no ponto certo de produzir”, conta o agente florestal José Valdeci Piyãko.


Francisco Piyãko é uma das lideranças do povo Ashaninka / Reprodução

A escolha das árvores é criteriosa, sempre espécies saudáveis e em boa forma. Até o momento, o projeto já selecionou 855 matrizes, de 12 espécies diferentes

O trabalho exige esforço e muita técnica. Algumas coletas, por exemplo, demandam a perícia de um alpinista para alcançar as sementes no alto de uma árvore. Outras precisam de uma verdadeira expedição; tudo isso em nome da qualidade genética e da preservação da natureza.

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“O objetivo maior nosso é fazer com que nós tenhamos uma estratégia de proteger essa matriz, manter essa floresta de pé e intacta, coletar sementes e distribuir essa semente para onde estiver precisando”, afirma Francisco Piyãko. 

A recompensa dessa iniciativa, se é que podemos falar em recompensa, é manter belezas como estas intactas e preservadas da destruição, porque onde há semente há renascimentos.

Edição: Douglas Matos