Pobreza Menstrual

Uma em cada quatro mulheres não tem acesso a absorvente durante o período menstrual, no Brasil

Moradoras das periferias são as mais afetadas pela falta de informações para comprar os insumos de saúde

Ouça o áudio:

Acesso à absorventes ou outros insumos de higiene menstrual é algo escasso entre mulheres e meninas de menor poder aquisitivo - Reprodução
Esse é um problema que passa desapercebido na sociedade, mas é sofrido por muitas mulheres e meninas

Menstruar mensalmente é algo que ocorre com qualquer mulher saudável. No entanto, o acesso à absorventes ou outros insumos de higiene menstrual é algo escasso entre mulheres e meninas de menor poder aquisitivo ou em situação de vulnerabilidade social.

Continua após publicidade

Sabendo disso, o projeto “Ciclo de Amor”, uma iniciativa do clube Girl Up Nise da Silveira, da Fundação ONU (Organização das Nações Unidas) atua no sentido de lutar contra essas desigualdades. 

A aluna do terceiro ano de gerência em saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Marcela Marcondes Gonçalves é uma das integrantes do projeto. Ela conta que há muitas mulheres e meninas desprivilegiadas da periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro e promover debates sobre igualdade de gênero, educação sexual e empoderamento feminino é uma questão de justiça social. 

"Esse problema consiste tanto na falta de conhecimento acerca dos cuidados necessários com a menstruação, quanto na falta de recursos para lidar com a menstruação. Esse é um problema que muitas vezes passa desapercebido e não gera interesse da sociedade, mas é sofrido por muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social, tanto no meio rural, quanto nas grandes cidades. Por falta de instrução, muitas mulheres não têm o conhecimento básico sobre o próprio funcionamento do corpo, sobre cuidados ginecológicos, sobre medicamentos e muito menos têm acesso a absorventes e produtos de higiene pessoal", explica Marcela Gonçalves. 

A iniciativa conta com a participação de seis estudantes do Ensino Médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio que engajados com pautas sociais, decidiram se tornar voluntários do clube.

O Girl Up Nise da Silveira foi criado em 2019 e foca na pobreza menstrual, porque a questão é um problema de saúde pública. 

"No Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possuem um absorvente durante o seu período menstrual. Em penitenciária e áreas de extrema pobreza financeira, a utilização de itens inadequados como miolo de pão e jornal, ocorrem com frequência e o uso desses recursos pode causar diversos problemas físicos e mentais". 

Essas medidas podem levar as mulheres a terem infecções no trato urinário, no rim, síndrome do choque tóxico e até lesões nos órgãos reprodutores femininos. Já na vida acadêmica, a precariedade no acesso à itens de saúde menstrual pode gerar evasão escolar e falta de autoestima. 

Precariedade nas informações

Na avaliação de Marcela Marcondes Gonçalves o fornecimento de informações acerca de saúde sexual e direitos reprodutivos das meninas e pessoas ainda é um tabu muito grande.

"O Nise da Silveira atua nessa área por meio do 'Clico do Amor', que é uma iniciativa fundada pelo grupo, que busca combater a pobreza menstrual e a fome no Rio de Janeiro, por meio da doação de cestas básicas com bioabsorventes e a promoção de workshops, oficinas, que chamamos de 'artevismo' ou como o próprio nome diz a gente mistura arte e ativismo".

Em setembro deste ano, o grupo doará 300 bioabsorventes e 20 cestas básicas para mães solo, que vivem na Praça Seca, um bairro da zona oeste do município do Rio de Janeiro. O ponto de encontro será o Orfanato Rita de Cássia, que foi o mesmo utilizado na última ação promovida pelos jovens.

"Além dos serviços comunitários, o Nise entende que isso é uma questão de saúde pública e, por isso, urge por políticas públicas. Por isso também produzimos projetos de lei municipais e estaduais contra a pobreza menstrual, que visam remediar a problemática através da disponibilização gratuita de absorventes em casas de acolhimento, escolas e centros de saúde. Assim como educação menstrual em escola para estudantes e para a comunidade", conclui Marcela Gonçalves. 

Edição: Vivian Virissimo