Ditadura

Golpe na República da Guiné: militares detêm presidente e dissolvem governo

Golpistas derrubam o governo e dissolvem a Constituição; ONU diz acompanhar a situação

Tradução: Ana Paula Rocha

São Paulo (SP) |
Envolto na bandeira de Guiné e no centro da imagem, o coronel Mamadi Doumbouya liderou o golpe. - Cellou Binani/ AFP

Em um golpe de Estado na Guiné, país na África Ocidental, as Forças Armadas capturaram o presidente Alpha Conde e anunciaram a dissolução do governo no último domingo (5). Durante a detenção do presidente, ao menos duas pessoas foram feridas em intenso tiroteio no palácio presidencial e em seus arredores, localizado em Conakry, capital do país.

Em transmissão televisiva, o líder do golpe, coronel Mamadi Doumbouya, declarou que as Forças Armadas tomaram o poder do país e dissolveram o governo sob comando do presidente Conde. Doumbouya também anunciou a dissolução da Constituição e disse que os líderes militares governariam a Guiné.

O grupo de soldados responsável pelo golpe se autodenomina Comitê Nacional de Reconciliação e Desenvolvimento. Eles divulgaram vídeo garantindo que Conde está seguro sob sua custódia e anunciaram toque de recolher nacional, além de convidarem “ex-presidentes de instituições e ministros que estão de saída de seus cargos para uma reunião” nesta segunda, como relatou o serviço de mídia Africanews.

Segundo jornalistas locais, apesar do ministro da Defesa ter afirmado que a tentativa de golpe foi reprimida, as Forças Armadas estão patrulhando a cidade de Conakry e bloquearam a área de Kaloum, onde estão a maioria dos prédios oficiais, incluindo o palácio presidencial.

Eleição controversa

Conde, de 83 anos, elegeu-se para o terceiro mandato presidencial nas eleições realizadas em outubro de 2020 e foi declarado presidente no mês seguinte, em 7 de novembro. A oposição alegou fraude durante as eleições. A decisão de Conde, em março de 2020, de fazer uma emenda à constituição (antes com limite de dois mandatos presidenciais) para assim poder concorrer pela terceira vez resultou em massivas manifestações por todo o país lideradas pela oposição. Os manifestantes foram reprimidos com uso de força, sendo que dezenas deles morreram e centenas foram presos.

Logo após a notícia do golpe, pessoas foram vistas celebrando nas ruas de algumas regiões da capital, como informado pela Al Jazeera.

Contudo, muitos líderes regionais e globais publicaram notas condenando a tentativa de golpe e pedindo aos militares que liberem o presidente. A Comunidade Econômica do Estados Africanos do Oeste (ECOWAS, em inglês) ameaçou com sanções. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu aos líderes do golpe que soltem Alpha Conde imediatamente. Ele escreveu: “Estou acompanhando pessoalmente a situação na Guiné”.

"Estou acompanhando pessoalmente e com muita atenção a situação na Guiné. Condeno veementemente qualquer tomada de governos pelo uso da força de armas e peço pela soltura imediata do presidente Alpha Conde", afirmou Guterres.

Inúmeros ativistas e grupos por direitos na África também condenaram o golpe, com alguns deles afirmando que a ação teve apoio de forças estrangeiras, como a França, ex-potência colonial, e os Estados Unidos. Há acusações de que Doumbouya e outros tem ligações com o Comando dos Estados Unidos na África e até mesmo, em alguns casos, foram treinados por eles.

A Guiné foi colônia francesa até 1958, quando conseguiu sua independência formal. O país tem grandes reservas de vários recursos minerais, como ouro, diamante, bauxita e minério de ferro. Conde foi eleito presidente pela primeira vez em 2010, após dois anos de governo militar, e conseguiu se manter no poder desde então, apesar da oposição alegar várias violações de direitos humanos e corrupção durante seu mandato.

Edição: Thales Schmidt