Futebol e política

Interrupção de jogo das Eliminatórias repercute como escândalo político na Argentina

Jornais argentinos falam em "papelão" e Clarín diz que Bolsonaro tentou fazer partida acontecer

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
Repercussão negativa na Argentina sobre a suspensão do jogo sugere um conflito político mais que uma medida sanitária. - Nelson Almeida/AFP

A interrupção da partida entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi alvo de críticas da imprensa do país vizinho. Entre adjetivos como "papelão" e "escândalo", a notícia do cancelamento abrupto do jogo deu lugar a especulações sobre os interesses do "Brasil de Bolsonaro".

Com a decisão brasileira de sediar a Copa América após Argentina e Colômbia recusarem o torneio, mesmo com avanço da pandemia de covid-19 no país, a interrupção do confronto no último domingo (5) foi questionada pela imprensa argentina.

Atribuindo o acontecimento a um "Brasil de Bolsonaro e nada a ver com o Brasil de Neymar", o portal El Diario Ar sugeriu o que parece ser "um golpe interno do governo de Jair Bolsonaro a Confederação Brasileira de Futebol", já que, a esta última, "não convém essa suspensão: os jogadores e o técnico queriam seguir jogando porque sabem que a FIFA desgosta desse tipo de intromissões".

O La Nación descreveu o caso como "um escândalo sem precedentes", mencionando a ida da seleção argentina ao vestiário logo da aparição das autoridades brasileiras no campo. "Ninguém sabe como essa história irá continuar. Será uma longa discussão, que já começou. O que ninguém poderá fazer é abafar esse escândalo mundial."

Já o Clarín divulgou que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), teria feito ligações para tentar garantir a realização da partida, sem sucesso.

O embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, acompanhou a delegação argentina no aeroporto para evitar que os atletas acusados de descumprirem as regras sanitárias fossem deportados.

A diretora nacional de Migrações na Argentina, Florencia Carignano, publicou em seu Twitter sobre a interrupção do jogo: "Se o Brasil considerava que o país de onde vinham os jogadores argentinos como zona de risco, para além do protocolo estabelecido pela FIFA, poderia ter atuado no momento do ingresso em seu território", escreveu. "Esperar três dias e entrar no campo suspendendo um jogo parece mais uma encenação do que uma medida sanitária."

Entenda o caso

A Anvisa paralisou o jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo sob a alegação de que quatro jogadores argentinos descumpriram as regras sanitárias brasileiras. O órgão brasileiro determina que os visitantes que estiveram no Reino Unido devem cumprir quarentena de 14 dias, medida que não foi tomada pelos atletas Giovani Lo Celso, Cristian Romero, Emiliano Martínez e Emiliano Buendía, jogadores de times ingleses.

Após agentes da Anvisa invadirem o campo com cerca de cinco minutos de jogo e o selecionado argentino abandonar a partida, a Conmenbol afirmou que a disputa foi cancelada por decisão do árbitro da partida.

Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, os quatro atletas haviam sido avisados de que estavam descumprindo o regramento sanitário do país.

“Após reunião com as autoridades em saúde, confirmou-se, após consulta dos passaportes dos quatro jogadores envolvidos, que os atletas descumpriram regra para entrada de viajantes em solo brasileiro, prevista na Portaria Interministerial nº 655, de 2021”, informou, em nota, a Anvisa.

Edição: Thales Schmidt