Em sua declaração à nação, publicada na tarde desta quinta-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assina o documento com a expressão “Deus, Pátria, Família”, que é o lema da Ação integralista Brasileira (AIB), movimento com inspiração no fascismo italiano, fundado em 1932 por Plínio Salgado.
Os integralistas brasileiros usavam símbolos e rituais que os aproximavam dos similares europeus, como o uso do verde na indumentária, a letra grega sigma no logotipo do movimento e a saudação anauê.
Não é a primeira vez que o presidente Bolsonaro, ou pessoas de seu círculo de confiança, utilizam símbolos e expressões que os conectam com o integralismo, o fascismo ou o nazismo.
No dia 24 de março, o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, aparecia na TV Senado, atrás do presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco, quando fez um gesto de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W. O gesto é classificado pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com sede nos Estados Unidos, que combate o antissemitismo, como forma de identificação entre supremacistas brancos.
O caso mais emblemático é do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que em janeiro de 2020, copiou uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, em um discurso para as redes sociais, para divulgar o Prêmio Nacional das Artes.
Em um de seus discursos, Goebbels afirmou: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
Na adaptação de Alvim, ficou assim: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.”
Em 17 de maio de 2020, ex-companheiros de armas de Bolsonaro, quando o presidente era paraquedista das Forças Armadas, foram até o Palácio do Planalto saudar o mandatário. Porém, no momento do cumprimento, estenderam o braço direito para o alto e gritaram “Bolsonaro somos nós”.
O episódio foi encarado por especialistas como uma alusão ao nazismo. Entre eles, Lilia Moritz Schwarcz, historiadora, doutora em antropologia e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em um artigo publicado na Revista Zum, ela faz a relação entre o gesto e o movimento alemão.
“Paraquedistas, vestidos com roupas militares, entoam uma variação de Heil Hitler a partir do grito de ‘Bolsonaro somos nós’, selando uma espécie de compromisso coletivo, na base do ‘nós comum’, em torno dos ideais do presidente. No caso, porém, o gesto não evoca um ritual religioso, mas reforça um compromisso bélico numa nação que não está em guerra. Nesse sentido, indica uma possível guerra no horizonte político, e sinaliza lealdade ao dirigente”, explicou Shwarcz.
Edição: Leandro Melito