Coluna

O golpe dos ogros

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Febraban, Fiesp, Faria Lima? Se não apoiarão, tampouco mexerão uma palha para impedir o levante neofascista, desde que, é claro, não atrapalhe seus negócios - Paulo Lopes/AFP
Bolsonaro sabe que a vaca está caminhando irredutível e altaneira para o brejo

Por Paulo Brondi*

 

Jair tentará o golpe. Se será bem-sucedido, o tempo dirá. Mas ele tentará. Isso porque sabe que conta com apoio dos seus – malgrado não seja o apoio “do povo” que ele imagina e propaga em seus delírios verbais.

E quais são os “seus”? Há aqui um espectro médio, que vai desde sociopatas à la Roberto Jefferson, passando pelas gentes do agro e do neopencostalismo fundamentalista, até boa parte do empresariado, mas que diminui a cada dia.

O bolsonarismo, uma massa amorfa em parte financiada por uma malta antidemocrática, encontra entusiastas em muitas vertentes, e também nas polícias militares. É justamente nesta que Jair depositará seus vinténs restantes.

Esqueçam os golpes latino-americanos tradicionais, sob a batuta das Forças Armadas. Até para isso é necessário um certo estilo e algum planejamento. Tais características não combinam com esse movimento hippie de extrema-direita, cujo único objetivo é colocar a Nação de pernas para o ar.

Esqueçam os financiamentos vindos do exterior; eles existiram em 1964, em 2016 e na eleição do protofascismo em 2018. O capital externo não dará um tostão à aventura dos destrambelhados. Não, o financiamento deles virá daqui mesmo, sobretudo da parte do agro ogro e de endinheirados. E nem é preciso muita grana.

Febraban, Fiesp, Faria Lima? Se não apoiarão, tampouco mexerão uma palha para impedir o levante neofascista, desde que, é claro, não atrapalhe seus negócios. As “instituições” tentarão resistir, mas, já em metástase pelo bolsonarismo, talvez não tenham fôlego.

Já agora, no 7 de setembro, os Ministérios Públicos país afora tentaram – não todos – impedir a adesão de PMs nas paradas (in)cívicas bolsonaristas, sem muito sucesso.

Bolsonaro sabe que a vaca está caminhando irredutível e altaneira para o brejo. Hoje, dois dias após o movimento debiloide de 7 de setembro, nada mudou: a carestia do povo é a mesma. E povo, aqui, é aquele cujas pesquisas mais recentes mostram que o rejeitam amplamente.

Jair foi eleito num vácuo histórico deste país. Não tem nem nunca teve nenhum plano para o desenvolvimento nacional, a não ser arruaça e baderna ao lado de outros celerados. Só lhe resta o golpe. Porém, justamente pela desinteligência é que um golpe bolsonarista careceria de longa validade.

Bolsonaro está cercado por fantasmas e tem medos reais. Sabe que, longe do poder, terá restos a pagar na Justiça. Nesse sentido, também seus filhos.

No 7 de setembro, nenhuma faixa fazia menção aos problemas da sociedade: inflação, preço dos alimentos e do combustível, coronavírus, vacinação, precariedade do ensino público, aumento na taxa de homicídios, aumento da violência urbana etc.

Bolsonaro busca criminosamente a guerra civil, a desordem, o descontrole. Se derrotado, ou perto de sê-lo, tentará seu golpe, com apoio majoritário das polícias militares.

Triste ver um personagem tão paupérrimo ainda no centro das atenções desta pátria continental combalida pela fome e pelo desemprego. Que lamentável erro.

Infelizes tempos medíocres.

 

*Paulo Brondi é promotor de justiça e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

**A coluna Avesso do Direito mostra uma visão mais ampla do Direito e suas relações com a vida, a democracia e a pluralidade. Escrita pelos juízes federais José Carlos Garcia e Cláudia Maria Dadico, ambos membros da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Leia outros textos.

***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Anelize Moreira