Crise energética

Governo Bolsonaro ignorou seca e reservatórios de hidrelétricas estão perto do limite

Coluna Plenos Poderes no Jornal Brasil Atual, traz a análise do recuo de Bolsonaro em relação aos ataques feitos ao STF

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Especialista considera que o caminho para evitar risco de apagão é ampliar investimentos na Eletrobras, paralisados por conta do projeto de privatização - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Responsáveis por 70% da água utilizada para gerar energia, os reservatórios de hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste estão chegando perto do limite mínimo de operação. A maior represa do sistema, Furnas, está com apenas 16% da capacidade. Outras cinco estão ainda mais baixas. Por segurança, é recomendado que as hidrelétricas interrompam a geração de energia quando o nível da água fica abaixo de 10%.

Segundo o Diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras, Ikaro Chaves, a situação é grave e os reservatórios e sistemas eólicos da região Nordeste é que têm segurado parte do fornecimento de energia.

“No dia de ontem, por exemplo, o sistema Sudeste e Centro-Oeste estava com o nível do reservatório em 19,59%. E está baixando rápido. Nós, que acompanhamos diariamente a evolução do sistema, percebemos que está baixando muito rápido o nível dos reservatórios que são, digamos assim, a caixa d’água do sistema elétrico brasileiro. Pelo menos 70% da nossa água armazenada está nesse sistema”, explica.

Situação pode ser evitada

O Brasil vive uma situação contínua de redução das chuvas desde 2013, com um episódio bastante grave entre 2014 e 2015. E, desde outubro de 2020, essa estiagem se tornou ainda mais acentuada, sendo considerada a pior crise hídrica em 91 anos. O problema é consequência do avanço do desmatamento, sobretudo do aumento das queimadas na Amazônia. Assim como da influência do fenômeno atmosférico La Niña, que reduz as chuvas.

Ikaro destaca que o governo de Jair Bolsonaro não atuou para fazer a gestão dos reservatórios, mantendo a geração de energia nos mesmos patamares, mesmo com o nível das águas caindo rapidamente. O engenheiro avalia que havia maneiras de evitar que a situação chegasse à gravidade atual. Mas o lucro dos empresários do setor de energia pesou sobre o interesse da população no geral.

“Essa situação que estamos vivendo é de certa forma planejada”, aponta. “Ter um certo déficit de energia é interessante para os setores econômicos, como o elétrico, para multinacionais do setor, de investimentos e um sistema financeiro que está cada dia mais forte no setor elétrico”, elenca o engenheiro.

Risco de apagão

Isso ocorre, segundo ele, “porque, se há escassez de energia, o preço sobe. De certa forma, no Brasil, a política, tanto do governo Temer como de Bolsonaro, é de uma certa gestão da escassez. Aparentemente a situação saiu um pouco do controle neste ano. Não acredito que o governo esteja satisfeito com a crise que está colocada, porque de fato estamos com risco de falta de energia e isso não interessa a ninguém. Essa história de ter energia cara não é ruim para todo mundo, é ruim para a gente que paga”, detalha.

Como resposta, o governo Bolsonaro ativou todas as termelétricas, que produzem energia mais cara. Enquanto em uma hidrelétrica o custo do megawatt/hora pode chegar a R$ 50, há termelétricas com custo de R$ 3.000 megawatts/hora. Essa diferença vai para no bolso da população. Já que o preço da energia elétrica aumentou quase três vezes mais que a inflação, entre janeiro e agosto desse ano.

Além disso, há um risco iminente de apagão nos próximos meses porque o funcionamento das hidrelétricas depende da volta das chuvas e os institutos de análise de clima apontam que o fenômeno La Ninã deve ocorrer novamente esse ano, explica Ikaro. Para o especialista, o caminho para evitar que a situação se repita é ampliar os investimentos na Eletrobras, paralisados por conta do projeto de privatização, com direcionamento de recursos para a gestão das águas e geração de energia solar e eólica.

Confira a reportagem e o jornal completos no áudio acima. 

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