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MACHISMO MATA

Artigo | Anielle Teixeira somos nós

"Assassinaram Anielle, mas não somente sua vida, assassinaram a possibilidade de uma menina viver sua infância"

13.set.2021 às 14h19
João Pessoa (PB)
Anne Medeiros

Ao abrir debate sobre a construção da notícia de feminicídios, jornalistas propõem formas de contar essas histórias sem que a vítima seja culpabilizada e revitimizada na narrativa - Foto: Divulgação

O desconforto da frase “mais uma” que antecede os noticiários envolvendo violência contra a mulher automaticamente me traz a sensação de que estamos em uma roleta russa. Como se o alvo estivesse estampado em nossos corpos e a qualquer um coubesse o direito de atirar. 

Certa vez, e lembro disso muito nitidamente, em uma conversa entre amigas, éramos seis, na verdade, ao entrar no assunto “infância” alguém desabafou que havia sofrido abuso quando criança, que tinha sido de uma pessoa próxima, em seguida outra amiga também compartilhou uma história e mais outra e mais outra… apenas uma, entre seis mulheres, não tinha uma história para contar, enquanto algumas tinham mais de uma. Isso se repetiu em outro momento, em outro grupo de amigas e, mais uma vez, apenas uma. Cabe ressaltar aqui que exatamente nenhuma esqueceu o que viveu, exatamente todas lembram! E, quando falam, a sensação é de impotência, um embrulho no estômago, um corte no coração. Ao contar, vem também a sensação de medo. Sim. Medo do julgamento. Não são todas as pessoas que reconhecem certas ações como abuso: um toque, uma fala, um sussurro com as mãos na coxa, acordar de madrugada com o toque de um homem. Sua palavra nunca é suficiente: “foi coisa da mente dela”, “criança inventa”, “menina, deixa de inventar coisas, fulano não é disso”.  

A fachada do homem de bem destrói qualquer fala, qualquer queixa, qualquer ato. Provar é a parte mais difícil, basta ser mulher e sua denúncia vem acompanhada de inúmeros clichês machistas: “ela quer destruir uma família”, “ela seduziu ele”, “ela queria”, “ela disse ‘não’ quando já estavam no calor do momento”, ela.. ela… ela… ela é uma vítima e ela se transforma em vítima repetidamente durante esse processo, cada vez que reconta, cada vez que é questionada de forma bruta, cada vez que negam acolhimento.  

O corpo da mulher não tem idade. Anielle era uma criança, uma menina, mas basta visitar um Chan na deep web e você descobrirá que, no nível máximo do machismo, menina criança é uma invenção da sociedade, segundo esses homens, mulheres nada mais são que “depósitos humanos para satisfazer as necessidades do homem” e, quando essa necessidade é negada, vale tudo. Mas não precisa ir tão profundo, basta escrever no google/notícias: “mais uma mulher” e você verá páginas que mostram sexualização dos corpos das mulheres, mulheres que cometeram crimes, mulheres recebendo presente do marido famoso, e vai ter que baixar muito a barra de rolagem para encontrar uma notícia que mostre “mais uma vítima”, talvez encontre uma perdida ali no meio. 

Anielle Teixeira é “mais uma” vítima de uma sociedade que desumaniza corpos, impõe padrões, mercantiliza sentimentos e sensações, invade intimidades, hierarquiza relações sociais subordinando humanos a outros humanos. Violaram e assassinaram Anielle, mas não somente sua vida, assassinaram a possibilidade de uma menina viver sua infância, de conhecer os encantos e desencantos da adolescência, de virar o ano e pular ondinhas no mar, de torcer pelo seu flamengo, do primeiro beijo, de ler mais um livro, de conhecer novos filmes, de dançar, de brigar com a melhor amiga, de não entender o que seus pais queriam quando colocavam limites e de entender exatamente o que eles queriam quando colocavam limites; assassinaram a possibilidade de Anielle se tornar uma mulher e assumir o seu papel no mundo, de questionar, escolher, errar, acertar, tentar.  

No fim, que é apenas o meio de uma história de luta e resistência, nenhuma é apenas “mais uma” – talvez nas páginas policiais, talvez nas manchetes dos jornais – não para nós! Não para outras mulheres, cis ou trans, e é importante deixar claro que todas essas experiências são muito mais doloridas e difíceis para mulheres negras e para mulheres trans. 

Não podemos e não vamos aceitar nenhuma a menos, não vamos deixar que arranquem de nós o direito de viver a única vida que nos é certa de ser vivida.  

Anielle Teixeira somos nós! 

É impossível passar por esse texto sem deixar um exemplo:  

A conversa era sobre como é difícil ser mulher periférica no país, especificamente na Paraíba. Para estudar é difícil, a expectativa da família (e aqui a maioria é composta por mães solos) é a de que ao terminar o ensino médio começa sua vida de trabalhadora, um emprego no shopping é um sonho, salário-mínimo para ajudar em casa, amenizar as despesas. Terminar o ensino médio não é fácil. Estudar não é fácil. Conflitos familiares são comuns, conflitos na comunidade também. Chegar ao mercado de trabalho e conquistar algo é uma verdadeira luta contra o sistema. Mas ao terminar essa constatação uma sábia amiga e mulher negra, falou o seguinte: “isso tudo é real, isso tudo é muito pesado e isso tudo deve ser respeitado e levado em consideração, mas agora vamos refazer essa história colocando nesse cenário uma mulher negra. Já imaginou como é, por exemplo, conseguir emprego?”. E eu acrescento, agora, e ser mulher trans e preta? 

*Assistente Social e Feminista

 

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 

Editado por: Heloisa De Sousa
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