sinal de alerta

Principais bacias hidrográficas da Mata Atlântica têm menos de 20% de cobertura vegetal

Estudo do MapBiomas adverte para a importância da regeneração das florestas, sob o risco de falta de água

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Desmatamento em área da Mata Atlântica, no estado de Minas Gerais
Desmatamento em área da Mata Atlântica, no estado de Minas Gerais - Welington Pedro de Oliveira

Imagens de satélites analisadas pelo MapBiomas, apontam para uma “aparente estabilidade” na manutenção da cobertura florestal da Mata Atlântica nos últimos 30 anos, após um longo período de desmatamento, principalmente no início da década de 1990. Divulgado nesta quarta-feira (15), o estudo revela que a cobertura do bioma caiu de 27,5%, em 1985, para 25,8% em 2020. Mas alerta que, apesar de estável, o nível de vegetação ainda é muito baixo, especialmente em importantes bacias hidrográficas da Mata Atlântica, o que pode resultar em indisponibilidade de água. 

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O relatório indica que, atualmente, outros 25% do território estão ocupados por pastagens. Entre as transformações do solo, até 16,5% dele são mosaicos de agricultura e pastagem, outros 15% de agricultura e 10,5% são ocupados por formação savanica, entre outras. Apesar de protegido pela Constituição de 1988, o bioma perdeu vegetação nativa em ao menos 12 estados. O ranking de desmatamento é liderado pela Bahia, que reduziu 9.642 quilômetros quadrados de sua cobertura no período. A unidade federativa é seguida pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com mais de 6.000 quilômetros quadrados a menos. Na sequência aparece o Paraná, com 3.744 quilômetros devastados.

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"O crescimento da selva de pedra vem pressionando muito o desmatamento", afirma Rafael Fernandes, da SOS Mata Atlântica / Foto: Reprodução/Ibama

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, o geólogo Marcos Rosa, especialista em Mata Atlântica e coordenador técnico do MapBiomas explica que essa diminuição da cobertura vegetal foi especialmente maior no começo da década de 1990. A partir dos anos 2000 até 2010, o bioma passou por um processo gradativo de recuperação de áreas florestais. O levantamento calcula que até 5.745 quilômetros quadrados foram ganhos nessa década. Nos últimos 20 anos ainda, o estado de São Paulo também vem mantendo o crescimento da área. 

Mata Atlântica e risco hídrico

Por outro lado, o pesquisador destaca com preocupação a situação de algumas bacias hidrográficas, como as do Alto Tietê, Paraná e do rio Paranapanema. Todas elas têm hoje menos de 20% de cobertura vegetal. “É a floresta quem garante não só a quantidade, mas a qualidade da água. Essa floresta na borda dos rios serve não só como uma esponja, mas também como filtro. Evita que a água corra muito rápido para os rios, filtra e impede também que sedimentos do solo cheguem ao rio”, comenta. 

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Em meio à crise hídrica e energética, ele reforça que é preciso estancar o processo de desmatamento na Mata Atlântica e recuperar a cobertura florestal, garantindo que a produção agrícola se limite ao território já ocupado hoje. A recuperação, garante, é essencial para reduzir o risco hídrico. Até 70% da população brasileira vive na Mata Atlântica e as bacias da região são as responsáveis pelo abastecimento dos grandes centros urbanos. Além disso, o uso da água também é revertido para o reservatório das hidrelétricas e para a agricultura e irrigação. 

“Sem a recuperação da floresta vamos ver esse conflito cada vez mais evidente. E com todas as mudanças climáticas, a alteração do regime de chuvas, a diminuição da chuva no Sudeste por conta do desmatamento na Amazônia, essas questões vão ficando cada vez críticas”, alerta o coordenador técnico do MapBiomas. 


Estratégias de conservação da Mata Atlântica / Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mitigar a emergência climática

A entidade, que agrupa um conjunto de instituições, ONGs e especialistas, analisa que a Mata Atlântica tem hoje menos sinais de alertas do que outros biomas do país verificados, por conta da regeneração de vegetação mais jovem. Mas, de acordo com Rosa, é importante também garantir a preservação da chamada mata madura. Como são conhecidas as florestas que têm pelo menos 36 anos e que são o grande reservatório de biodiversidade do bioma. O estudo mostra que, com todos os tipos de vegetação, a Mata Atlântica tem hoje 30% de seu território conservado. Mas grande parte dele, até 25%, é formada por mata mais jovem. 

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“Evitar o desmatamento das florestas maduras é essencial para que não se emita carbono e  permitir a restauração das florestas jovens é essencial para remover carbono. A Mata Atlântica tem um potencial muito grande para ajudar em toda essa discussão de mitigação das mudanças climáticas”, observa o especialista. Segundo ele, é preciso “consciência para corrigir os erros do passado e trazer um futuro um pouco melhor para a Mata Atlântica”.