Inédito

Após 6 dias de greve contra apps, iFood cede e motoboys retomam trabalho em São José dos Campos

Foi a mais longa paralisação da categoria no país; empresa se reunirá com motoboys no dia 28

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Trabalhadores se mobilizaram por seis dias e prometem greve nacional se o iFood não cumprir as promessas em São José dos Campos (SP) - Reprodução / Twitter

Motoboys que trabalham por aplicativo em São José dos Campos (SP) retomaram as atividades nesta sexta-feira (17) após seis dias de greve contra as plataformas. A trégua foi decidida coletivamente, diante de uma resposta positiva da empresa iFood, líder do setor.

Segundo os organizadores, o iFood prometeu manter uma promoção de R$ 3 para os motoboys da cidade até o próximo dia 28. Nesse dia, a empresa agendou uma reunião com os organizadores do movimento e sinalizou que está disposta a reajustar as taxas.

Além do reajuste no valor pago por quilômetro ou por entrega, as demandas da greve incluem o fim dos bloqueios indevidos, a exigência de código de confirmação nas entregas e melhores pontos de descanso na cidade.

O motoboy Altemício Nascimento, de São Paulo (SP), participou da negociação.

“A pressão está valendo a pena. Vai chegar promoção na cidade. No dia 28, eles vão mexer nas taxas e tirar os três pedidos. Porque caía direto na tela do ‘motoca’ os três pedidos. Se isso for mantido, eles prometeram pagar o valor real”, conta.

“Hoje, o cara faz dois pedidos de graça para o iFood. Não tem como.”

Além das sinalizações do iFood, um dos motivos de retomar o trabalho nesta sexta (17) é não prejudicar os bares e restaurantes da cidade – que, de maneira geral, apoiaram o movimento.

São José dos Campos tem 3 mil motoboys registrados. A greve não foi convocada por sindicatos ou associações, mas por trabalhadores independentes que aderiram a uma paralisação nacional em 11 de setembro e continuaram mobilizados.

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O principal canal de divulgação das ações dos trabalhadores mobilizados é o perfil @tretanotrampo, no Twitter.

Não há uma confirmação do número oficial de motoboys em greve na cidade. Porém, imagens de conversas on-line entre restaurantes e aplicativos mostram que a rede de entregas na cidade vem sendo afetada. 

Para continuarem paralisados diante da falta de respostas dos aplicativos, os grevistas pedem contribuições aos apoiadores. Eles divulgaram um PIX para receber ajuda financeira e também aceitam doação de alimentos e bebidas.

“A manifestação foi bem feita, bem planejada, sem violência”, ressalta Altemício Nascimento.

“Não é que acabou a greve. A gente vai dar uma trégua. O iFood mandou uma promoção, e vamos ver no dia 28 se eles concretizam tudo. Se não, os caras vão parar de novo. E vão puxar uma greve nacional.”

Esta foi a mais longa paralisação da categoria no país contra os aplicativos de entrega.

O movimento ocorre em um contexto de aumento do preço dos combustíveis e do custo de vida no Brasil, sem reajuste proporcional por parte das empresas de tecnologia que controlam o setor de delivery.

Outro lado

O Brasil de Fato entrou em contato com o iFood, mas não obteve retorno para confirmar as informações.

A reportagem recebeu uma nota sobre a greve, enviada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que reúne nove aplicativos: FlixBus, Ifood, Quicko, Uber, Buser, UberEats, ZéDelivery, 99 e 99Foods.

Confira, na íntegra:

"A Amobitec reforça que, apesar da atual instabilidade econômica no país, não houve a redução de taxas de remuneração dos parceiros. Somam-se a isso diversas medidas adotadas pelas plataformas para auxiliar a reduzir os custos dos parceiros, como convênios com postos de combustíveis - que oferecem desconto no abastecimento dos veículos – e parcerias com empresas para oferecer preços especiais em peças, acessórios e manutenção.

As associadas da Amobitec também implementaram, desde o início da pandemia, diversas ações de apoio aos profissionais, como a distribuição gratuita ou reembolso pela compra de equipamentos e materiais de higiene e limpeza, e a criação de fundos que somam mais de R$ 200 milhões para o pagamento de auxílio financeiro para parceiros diagnosticados com covid-19 ou em grupos de risco. Desde março de 2020 foram distribuídos ou reembolsados mais de 4 milhões de itens de proteção como máscaras e álcool em gel para os parceiros cadastrados nas plataformas.

Além disso, cabe ressaltar que o bloqueio de entregadores nas plataformas é feito apenas quando são identificadas reiteradas violações dos Termos de Uso dos aplicativos e que as empresas não têm nenhum interesse em ter seus parceiros bloqueados.

As empresas associadas à Amobitec estão abertas ao diálogo e trabalham para ajudar os motoristas e entregadores parceiros na geração de renda, investindo em tecnologia e suporte para melhorar a experiência de todos nas plataformas."

Edição: Vivian Virissimo