PRECONCEITO

Hotel de Manaus barra reserva para ensaio fotográfico de drag queen

"Somos um hotel de família" foi a alegação do Boutique Hotel Casa Teatro para impedir a presença da drag queen Gibona Mo

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Ensaio fotográfico com a drag queen Gibona MonAmour no centro histórico de Manaus - Foto: César Nogueira/Amazônia Real

A drag queen Gibona MonAmour (ela se identifica pelo nome artístico) recorreu ao seu perfil no Instagram na última terça-feira (21) para expor preconceito após ter barrado seu pedido para um ensaio fotográfico nas dependências do Boutique Hotel Casa Teatro.

Localizado no centro de Manaus, o hotel justificou a recusa da reserva pelo fato de serem um “hotel de família” e aceitarem somente fotos de casamentos e aniversários.

Gibona, uma artista independente com foco na cena ballroom e redes sociais, garante que em momento algum sugeriu que o ensaio fotográfico tivesse algum teor sensual, explícito ou contendo nudez.

“Junto a um fotógrafo, temos um projeto independente sobre arte drag. Queríamos estender nosso projeto para estrear em várias partes da cidade, como no centrão, no Mercado e algum lugar com vista para o Centro Histórico”, diz.

O projeto de Gibona, feito de forma independente e sem fins lucrativos, conta com ensaio fotográfico e se intitula “Ela só quer ser ela”, e pretende mostrar o trabalho da drag queen em ação. 

A artista conta que chegou a visitar alguns outros locais, mas insistiu na reserva com o Boutique Hotel Casa Teatro pelo belo cenário. A vista do terraço fica de frente para o Teatro Amazonas e se encaixava com o que ela estava procurando para o seu projeto.

“Até constou no meu pedido que não precisaria interditar o local para tirar as fotos, queria algo bem ‘paisagem’ mesmo.”

O hotel cobrou R$ 300 pela diária, incluindo uma suíte. Após responder que as fotos seriam artísticas e mencionar que seria uma drag queen a modelo, Gibona recebeu o e-mail que expôs, onde é mencionado que pelo hotel ser de família, as fotos não poderiam ser feitas.

Situado a 100 metros do Teatro Amazonas, o Boutique Hotel Casa Teatro, localizado na Rua Dez de Julho, no Centro Histórico de Manaus, foi inaugurado em 21 de agosto de 2011, e trabalha com o conceito de misturar “clássico” e “moderno” no meio da hotelaria amazonense. O hotel pertence a Claudia Mendonça.

Para a drag queen Gibona MonAmour, a equipe do hotel claramente supôs que por ela ser uma drag queen, sua arte seria ofensiva ou de péssimo tom para os hóspedes. A rejeição ao seu pedido, assim, teria sido um ato discriminatório. “Acho um absurdo limitar o acesso ao local baseado em conceito mal formado de uma arte que desconhecem”, manifesta.

“Eles alegam a hipocrisia de ‘local de família’ só para não aceitar uma artista drag, que em nenhum momento sugeriu que faria um ensaio de cunho explícito, sensual, ou algo do tipo”, diz Gibona. Apesar de afirmarem que aceitam apenas fotos de casamentos e aniversários, nas redes sociais do hotel e em perfis de fotógrafos, há várias fotos de ensaios sensuais.

Hotel sinaliza reparação

Fachada do Hotel Boutique Casa Teatro na rua Dez d Julho em Manaus
(Imagem: Google Streetview)
 

Após a repercussão da postagem, o Hotel Boutique Casa Teatro entrou em contato com a artista pedindo seu número de telefone, mas não comunicou a pauta antecipadamente. Precavida, a drag queen pediu para marcar a chamada e ter uma testemunha por perto.

Segundo Gibona MonAmour, o estabelecimento queria “esclarecer o mal entendido” e “pedir sinceras desculpas”. Logo depois, pediram retratação e ofereceram o local para tirar fotos.

Em resposta por e-mail à Amazônia Real, a proprietária do Hotel Boutique Casa Teatro, Claudia Mendonça, disse estar surpresa por esse fato estar na mídia de maneira equivocada, e que quer esclarecer que o hotel é “gay friendly” (termo usado para se referir a lugares, políticas, pessoas ou instituições que procuram ativamente a criação de um ambiente confortável para as pessoas LGBTQIA+).

“Estamos abertos à diversidade e temos compromisso com todos os nossos clientes, e sentimos muito por todo esse transtorno. Houve um erro de comunicação que já está sendo reparado”, diz a dona do hotel. Até o momento não houve retratação pública por parte do espaço.

As redes sociais repercutiram o caso de preconceito contra Gibona MonAmour, com comentários de apoio à artista e de repúdio à atitude da hotel. “Inacreditável que essa ainda seja uma realidade! Ainda bem que temos um clã como você, com sua força e arte, Gibona! Obrigada”, escreveu uma seguidora da drag queen.

“Sinto muito por isso! Resista! Seu trabalho é luta! Quando atribuem o termo família a algo conservador, eu nem imagino a dor que causa à quem não se encaixa nisso. Somos família também!”, publicou outro internauta.

Segundo Gibona MonAmour, a atitude de denunciar publicamente o caso é para que o hotel reveja seus valores e para que essa situação de discriminação não acontença com mais ninguém, e também a esperança de uma posicionamento público.

“Não acho que se precise entender muito da arte drag queen para respeitar e ter compaixão com o artista. Era só não ter me colocado como inimiga da família assim de graça. Lugar de família não pode ter uma artista drag fazendo foto?”, explica a artista.