EDUCAÇÃO

UFPE é a primeira universidade de Pernambuco a retomar aulas presenciais em formato híbrido

Estudantes relatam precisar da estrutura oferecida pela universidade; técnicos contestam decisão e estão em greve

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
De maneira gradativa, as disciplinas presenciais aumentam na UFPE e a perspectiva de retorno 100% é para 2022 - Foto: Divulgação

Depois de mais de um ano de atividades remotas, quem estuda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pode voltar a pisar nas salas e laboratórios da instituição. Não de maneira integral, mas híbrida. Entre os próprios alunos a decisão divide opiniões: uns acreditam ser necessário o retorno de atividades específicas; outros avaliam ser um retorno precoce. Já entre os trabalhadores, técnicos administrativos apontam que a decisão se deu de maneira rápida e sem a transparência devida. Por isso, declararam greve sanitária. 

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O retorno segue a Resolução 04/2021, do Conselho Universitário (Consuni) da UFPE, que autoriza a retomada presencial das atividades administrativas e de ensino, pesquisa e extensão. As aulas teóricas permanecem de forma remota, as práticas profissionais serão presenciais, e as aulas práticas e teórico-práticas também serão ofertadas no formato presencial. 

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Para a retomada, a resolução traz orientações sanitárias a serem seguidas, como o uso obrigatório de máscaras; agendamento prévio a locais de atendimentos públicos; interdição de bebedouros de uso coletivo; higienização de postos de trabalho; dentre outras recomendações. 

Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, o reitor Alfredo Gomes explica que a universidade possui um Grupo de Trabalho (GT) da Covid, especificamente para analisar a pandemia. E além disso, a universidade faz reuniões periódicas com um Conselho de Administração para discutir as questões relacionadas a isso. “Nós fizemos um amplo debate na comunidade, ouvindo os diferentes segmentos e conversando amplamente sobre essas questões”, defende. 

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O reitor afirma respeitar a greve dos trabalhadores, porém sinaliza que houve espaço para diálogo e transparência. "A greve é um direito dos trabalhadores. A gente respeita e entende profundamente. Mas eu particularmente não estou de acordo com esses argumentos", comenta. Na próxima semana, acontece outra reunião do Conselho Universitário com a matéria encaminhada pelo SINTUFEPE por meio de dois ofícios. 

Sobre a decisão do retorno nesse momento, o reitor aponta os índices de melhora da pandemia e o avanço da vacinação. Ele indica que grande parte da comunidade universitária já tomou as duas doses e que é momento para preparar gradualmente a universidade para o retorno completo, previsto para 2022. No semestre passado, eram aproximadamente 150 disciplinas ofertadas presencialmente pela UFPE. Atualmente, cerca de 300. "Nós temos que preparar a universidade para o retorno presencial. E é necessária a presença do nosso pessoal técnico administrativo, que tem feito um trabalho excepcional durante esse período, para que o retorno se dê", finaliza. 

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O que pensam os alunos?

No caso da graduação de Geografia Bacharelado, por exemplo, apenas as atividades laboratoriais retornaram, é o que conta a estudante Gabrielly Gregório. Ela é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e precisa de drones para sua pesquisa. Para processar as imagens, que são pesadas, a estudante precisa de um bom equipamento tecnológico. "Para os laboratórios em si, eu acho que a volta presencial é essencial. Em casa a gente não tem a estrutura que a universidade oferece", explica. 

Nesse sentido, Gabrielly diz se sentir segura e vê a universidade cumprindo o papel de tomar as devidas medidas de segurança sanitária. Para os laboratórios, por exemplo, os alunos fazem rodízio para utilizá-lo. 

Sara Lins é estudante de Engenharia da Computação, mas ainda não terá disciplina presencial. Apesar disso, ela diz que se sentiria segura para o retorno de algumas aulas caso necessário. "Desde que estejam todos, ou pelo menos a maior parte, vacinados e o uso de máscara continue obrigatório, eu me sinto segura sim", afirma. Ela também relata a necessidade de uso de instrumentos que os estudantes não possuem em casa, como computadores mais potentes. 

Mesmo com uma experiência que julga ter sido ruim no ensino à distância, Ítalo Henrique Silva acredita que todas as aulas deveriam ser estritamente remotas nesse momento. Ele é estudante do 7º período de Engenharia da Computação e neste semestre cursa a disciplina de Laboratório de Circuitos. O estudante frequentava a universidade ocasionalmente por causa dos trabalhos da Iniciação Científica, mas apenas agora terá uma disciplina presencial.   

Até o momento, houve apenas uma aula virtual para explicar como funcionará o retorno. A turma terá 12 alunos, dois por bancada. A dupla irá compartilhar o material e realizar experimentos em conjunto. Ítalo confessa que ficou receoso para se matricular, mas o professor alertou que as atividades poderiam ser feitas individualmente caso o aluno não se sentisse seguro. 

O estudante conta que, apesar de querer voltar ao modelo presencial, sente que não é o momento certo. "Sei bem que as medidas de segurança não são totalmente cumpridas,  ainda mais quando tem várias pessoas no ambiente. A possibilidade de uma nova onda, com uma nova variante, me assusta."

Greve dos técnicos administrativos 

A questão entre os trabalhadores da universidade é ainda mais debatida. A partir da Resolução, as funções administrativas também passam a ser presenciais. Os técnicos administrativos da UFPE, porém, não se sentem contemplados pela decisão. A categoria a considera antidemocrática.

Em nota pública, o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais de Pernambuco afirma que, na prática, as aulas continuam, em sua maioria, de forma remota. Nesse sentido, técnicos e técnicas seriam os trabalhadores mais afetados por eventuais consequências desse retorno. Ainda é questionada a necessidade do retorno nesse cenário, quando as funções têm sido exercidas desde março de 2020 de suas casas.

Outras várias questões são apontadas, como a não-obrigatoriedade da vacina, o não fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPI's) e ambientes de trabalho com pouca ou nenhuma ventilação. De maneira geral, a categoria diz ter sido uma decisão aligeirada e com pouca transparência. Confira a nota na íntegra

Comissão da Greve Sanitária dos técnicos administrativos da UFPE em  reunião com a gestão da universidade

Outras universidades

Outras instituições públicas de ensino de Pernambuco se planejam para o retorno gradual ou já deram início, como é o caso do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). O IFPE começou o semestre de 2021.2 desde agosto e cada campus tem autonomia para estabelecer como irá conduzir esse retorno. A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) deve liberar nas próximas semanas o calendário com o planejamento; a UFRPE e a UPE ainda não divulgaram informações sobre a questão. 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga