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'Pior está por vir': crise do combustível causa desabastecimento no Reino Unido

Falta de caminhoneiros e saída da União Europeia são apontados como motivos para o cenário

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Crise de combustíveis no Reino Unido - Paul Ellis / AFP

A ida desenfreada dos britânicos aos postos de gasolina temendo a falta de combustíveis causada pela redução na entrega dos insumos gerou um alta inesperada na demanda e uma crise de desabastecimento no Reino Unido. Desde sexta-feira (24/09), longas filas de carros esperando para abastecer foram registradas em diversas regiões do país.

O gatilho para a busca por combustíveis aconteceu depois que a empresa britânica de petróleo e gás British Petroleum (BP) anunciou na quinta-feira (23/09) que fecharia temporariamente alguns de seus postos, por estar "enfrentando alguns problemas de abastecimento de combustível".

A falta de caminhoneiros para a entrega dos insumos é apontada como o principal motivo para o desabastecimento. Isso porque, desde o Brexit, quando o Reino Unido saiu da União Europeia, uma série de exigências alfandegárias foram estipuladas, o que tornou a viagem ao território britânico mais demorada e cara, cenário que é agravado pela pandemia da covid-19. A indústria de alimentos também está sendo afetada pelo desabastecimento e pela escassez de trabalhadores.

Ao jornal The Independent, um caminhoneiro que trabalha no setor de HGV (sigla em inglês que significa veículos de cargas pesadas) há 5 anos, disse que “o pior está por vir”. Krzysztof Turkowski acredita que a pior fase da crise do combustível será no Natal. “Só vai piorar antes de melhorar, mas as pessoas entram em pânico para comprar, o que não ajuda de forma alguma”, afirmou o motorista. 

No sábado (25/09), o governo anunciou uma série de medidas para conter o desabastecimento, entre elas, o treinamento de 4 mil novos motoristas de carga pesada, o incentivo para ex-caminhoneiros voltarem ao setor e a emissão de vistos para 5 mil caminhoneiros e 5,5 mil avicultores. 

Uma declaração conjunta de empresas da indústria de combustíveis também tentou acalmar a população dizendo que “há bastante combustível nas refinarias e terminais do Reino Unido” e que espera que a demanda retorne “aos níveis normais” nos próximos dias. “Encorajamos todos a comprarem combustível como de costume”, diz a nota.

Por outro lado, organizações britânicas alertam para a necessidade de priorizar “trabalhadores-chave” no acesso ao combustível. Do contrário, as interrupções poderiam impedir a prestação de serviços do Sistema Nacional de Saúde britânico, como disse a Associação Médica Britânica. "Há um risco real de que os funcionários não sejam capazes de fazer seu trabalho", alertou a entidade.

Já a Escola Real de Enfermagem disse que os serviços de saúde "já estão lutando" com a falta de equipe e "não podem perder mais funcionários porque não podem viajar”. Um sindicato de professores também alertou que a categoria de docentes deve ser priorizada, já que a falta de combustível poderia atrapalhar a educação.

O governo britânico disponibilizou 150 motoristas de petroleiros militares que estarão prontos para agir caso seja necessário entregar combustível em postos de gasolina.

Os preços da gasolina e do diesel no Reino Unido atingiram uma alta recorde nos últimos oito anos, desde setembro de 2013, em meio à crise de abastecimento. Nesta terça-feira (28/09), a Petrol Retailers Association, a empresa Esso e o próprio premiê Boris Johnson afirmaram que há sinais de que a situação esteja melhorando.