EM BRASÍLIA

Lula se emociona em encontro com catadores no DF e ouve pedido: "Não deixe de lutar por nós"

Ex-presidente fez visita ao Complexo Integrado de Materiais Recicláveis do Distrito Federal, em Brasília

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Lula discursou em evento do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável - PT na Câmara

O ex-presidente Lula (PT) esteve na manhã desta quinta-feira (7) em Brasília, no Complexo Integrado de Reciclagem do Distrito Federal, em evento organizado pelo Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável.

Durante a atividade, o petista se emocionou com discursos feitos por trabalhadores e disse que "muita gente na sociedade não dá e não tem noção do significado e da importância do trabalho dos catadores".

“Não poderia deixar de falar do carinho que tenho por vocês. Durante todo o tempo que fui presidente da República, todo dia 23 de dezembro, fazia questão de encontrar com vocês, os moradores de rua, os catadores, para que a gente pudesse fazer nossas reuniões, tomar nosso café, anunciar o atendimentos das pautas de reivindicação e receber a pauta do ano seguinte”, declarou.

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“Talvez seja essa a razão porque as pessoas tem tanto ódio do PT e de mim. Muita gente preferia que eu estivesse jogando golfe com a elite brasileira ao invés de estar com o povo, debaixo do viaduto, conversando com catador de material reciclável. Eleição não se diz o resultado antes, mas se o PT voltar a governar esse pais, vamos nos encontrar novamente todos os anos para discutir o futuro da categoria”, disse.

"Esse país nunca será o país dos nossos sonhos se os pobres não tiverem direitos", afirmou Lula. "Não é possível que uma mulher que ganhe R$ 500 não tenha uma casa subsidiada pelo governo. É possível criar política de financiamento que as pessoas mais pobres precisam. O povo brasileiro precisa voltar a assumir a responsabilidade de governar esse país".

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Lula também comentou o avanço da fome no país: "O Brasil é o maior produtor de carne do mundo e você saber que, em um estado como Mato Grosso, que tem milhões de cabeças de gado, as pessoas vão para a porta do açougue porque não tem dinheiro para comprar meio quilo de carne ou frango. Não é normal que o pobre pague o mesmo imposto dos donos do Itaú, do Santander e do Bradesco. O povo pobre precisa ir para o orçamento e o rico para o Imposto de Renda".

A atividade reuniu presidentes de cooperativas de catadores da região, deputados federais, líderes de movimentos sociais e populares. Cerca de 300 pessoas acompanharam o evento. Estiveram presentes na cerimônia os seguintes parlamentares: os deputados federais Gleisi Hoffmann (PT-PR), Erika Kokay (PT-DF), Elvino Bohn Gass (PT-RS) e Paulo Pimenta (PT-RS), e os deputados distritais Alexia Sampaio (PT), Chico Vigilante (PT) e Leandro Grass (Rede).

Também marcaram presença o secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, José Sarney Filho, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues, e a representante das cooperativas, Paulete Ferreira.

Catadores: "Não deixe de lutar por nós"


Trabalhadores posam para foto com bandeira com o rosto do ex-presidente, em Brasília / Paulo Motoryn/Brasil de Fato

Ana Cláudia Lima, presidente da Coopercap, disse ao ex-presidente que os governos petistas deram início ao reconhecimento dos catadores como trabalhadores. Segundo ela, a vitória se deve ao esforço de “todos que dedicaram seu tempo” à luta por mais direitos à categoria.

“Estou muito emocionada hoje, pois se concretiza nossa realidade. Há muitos anos, lá no lixão da Estrutural, sonhávamos com dignidade. Sonhávamos em trabalhar debaixo de um teto. Esse sonho era muito distante dos catadores. Agradeço a Deus e ao nosso governo que lutou para que tudo isso se concretizasse”, afirmou.

“Para chegarmos aqui, foi muita dificuldade, mas vencemos. Vamos vencer juntos novamente. Vamos superar todas as dificuldades e barreiras que aparecem na nossa frente”, prosseguiu a catadora. “Se sonharmos juntos, podemos tudo. Quero agradecer a todos que dedicaram seu tempo e seus anos de luta pelos catadores. Muito obrigado”, concluiu.

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“Que não deixe de lutar por uma categoria tão sofrida. Não deixe de lutar pelos catadores, pelos pobres, pelos indígenas, pelos negros”, disse uma catadora ao ex-presidente, depois de fazer críticas ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). “Quero ver um catador, no mínimo, com uma renda de 2 a 3 mil reais”, declarou uma outra representante do movimento.

Roney Alves da Silva, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável, também saudou o ex-presidente Lula. Ele atribuiu sua graduação em Direito na Universidade Católica de Brasília à inclusão dos negros e pobres nas políticas públicas feitas durante os governos do PT.

O líder dos catadores também falou sobre a morte do Diogo Sant’anna, advogado e ex- assessor da Presidência da República, que atuou na causa dos catadores por anos. “Era um cara fantástico que precisa ser homenageado”.

Políticos marcam presença

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, disse que na sua cidade natal, em Curitiba, o ex-prefeito Jaime Lerner conseguiu conscientizar a população sobre o trabalho dos catadores. Segundo ela, esses trabalhadores devem ser considerados agentes ambientais. Gleisi também anunciou que protocolou um requerimento para criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Catadores.

“Precisamos ocupar o espaço da política com mais gente de esquerda, que luta pelos trabalhadores. (…) Quando os pés do presidente Lula pisaram no Palácio do Planalto, ele levou consigo os pés dos catadores, dos negros, dos pobres e das mulheres”, declarou.

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Sarney Filho, que chefia as políticas de Meio Ambiente no governo do Distrito Federal, disse que o ex-presidente Lula é “um grande defensor dos mais humildes e mais pobres, que avançou no combate à pobreza no Brasil”. Ele é filho do ex-presidente da República, José Sarney (MDB).

“Não sei se vocês sabem, mas sempre fui ambientalista. Essa questão não é de governo, mas de Estado. Desde que me dediquei à vida pública, foi por essa questão ambiental. A Lei de Resíduos Sólidos teve a contribuição de uma frente parlamentar que coordenei”, disse Sarney Filho. “Por isso aceitei o cargo de secretário de Meio Ambiente do Disitrito Federal. Tão logo soube da preocupação dos catadores, me comprometi a não perder os recursos necessários para manter o complexo."

Complexo foi "conquista" de catadores na gestão Lula

Lula iniciou a agenda com uma visita guiada aos galpões de reciclagem. Depois, o ex-presidente fez um discurso de aproximadamente 40 minutos. A fala foi transmitida ao vivo nas redes sociais.

O complexo visitado por Lula é uma conquista do movimento de catadores e catadoras da região que ocorreu durante seu governo. A área que abriga o espaço é um dos quatro terrenos doados aos trabalhadores pelo governo federal em 2010, visando a construção de galpões de reciclagem. 

Durante as gestões petistas no Executivo federal, a cooperativa e o governo do Distrito Federal assinaram contratos que garantiram o financiamento da construção dos galpões de recepção, seleção e comercialização dos resíduos recicláveis que hoje formam o complexo. 

Com capacidade para processar até 5 mil toneladas de resíduos por mês, o CIR gera cerca de 2 mil empregos. Além disso, é parte importante da estratégia de desativação do antigo Lixão da Estrutural, que chegou a ser o maior lixão da América Latina.

Os jornalistas presentes na atividade não fizeram perguntas a Lula, que concederá uma entrevista coletiva aos repórteres na manhã de sexta-feira (8), na região central da capital federal.

Edição: Leandro Melito