FÉ E LUTA

Círio 2021: Romeiros pedem a Nossa Senhora de Nazaré para livrar do desemprego e da fome

Movimentos populares do campo pediram que a padroeira dos paraenses proteja a Amazônia e seu povo de tantos ataques

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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Militantes fizeram um trajeto de mais de 60 quilômetros para renovar as forças de continuar lutando por uma sociedade mais justa para todos. - Rafa Zan/MAB

"Rainha da Amazônia, livrai-nos do fascismo, do desemprego e da fome". Com esses dizeres, militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Camponês Popular (MCP) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram às ruas, neste domingo (10), pedir que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira dos paraenses, proteja a Amazônia e seu povo de tantos ataques. 

A festividade do Círio de Nossa Senhora de Nazaré é conhecida por ser uma das maiores procissões do Brasil. Esse ano contou com a sua segunda edição sem as romarias oficiais para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus. Porém, a medida não evitou que milhares de pessoas fossem às ruas manifestar a sua fé. (Confira essa reportagem também na versão de vídeo).

No traslado tinham homenagem diversas dos sobreviventes da pandemia, de profissionais de saúde e pessoas que fizeram as tradicionais promessas de superação de alguma doença, aprovação no vestibular ou conquista da casa própria. 

A reportagem do Brasil de Fato acompanhou a procissão com máscara e álcool em gel 70% e constatou que na procissão diversas pessoas seguiam as medidas de proteção contra o novo coronavírus e outras não.

A estimativa da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) é de que ao menos 400 mil pessoas participaram dos traslados e de outras celebrações como a apresentação da esquadrilha da Fumaça e do sobrevoo da Imagem da Santa Padroeira da capital de helicóptero da Catedral Metropolitana até a Basílica de Nazaré.

Na análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese/PA), cerca de 30 mil turistas visitarão a cidade no período do Círio de Nazaré. Número inferior aos números anteriores à pandemia. Em 2019, cerca de 90 mil turistas estiveram em Belém segundo informações divulgadas pela Secretaria de Turismo do Estado do Pará.


Débora Nascimento e as irmãs pediram pela saúde da mãe de 60 anos, que teve 100% do pulmão comprometido pela Covid-19. Recuperada, Débora fez a caminhada para agradecer pela graça alcançada / Fernanda Araújo/Arquivo Pessoal

Fé e Luta 

Para Elaine Rodrigues, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é impossível não se envolver com o Círio em outubro. "Nós pedimos que a padroeira dos paraenses possa renovar a nossa luta e a nossa capacidade de enfrentar esse sistema que tanto oprime, nós que somos tão vulneráveis", disse.

Os militantes fizeram uma caminhada de mais 60 quilômetros saindo de Mosqueiro, uma ilha que é distrito da capital paraense, até a Basílica Santuário, local que concentra os fiéis de Nossa Senhora de Nazaré.

Para Itamar Martins, do Movimento Camponês Popular (MCP), 2022 se aproxima e a população terá mais uma vez a chance de, nas urnas, escolher um governo que olhe para os mais vulneráveis. 

"Viemos renovar as energias, fortalecer a nossa fé e pedir à Nossa Senhora que olhe pelo povo brasileiro, pelo povo paraense. Que esse ano de 2022 seja um ano de renovação, porque a gente não merece sofrer tanto".

Aos que lutam dia após dia pela reforma agrária, pela distribuição justa de terras e pelo direito a uma alimentação livre de veneno, a espiritualidade do Círio é um momento de renovação para o povo paraense, que pede não só pelo Pará, mas por todos os camponeses e camponesas do Brasil. 

"O Círio nos traz muito isso, essa espiritualidade, essa fé, essa mística de que um outro mundo pode existir, um mundo mais justo, um mundo solidário. Então, para a gente do MST participar do Círio, não é apenas uma caminhada é o fortalecimento da nossa fé e principalmente o fortalecimento da nossa luta, que não é só por reforma agrária", afirma Carlinhos Luz, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para Iury Paulino, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Círio é também momento de luta é momento de levar a mensagem da resistência a outros romeiros.

"Nós dos movimentos populares caminhamos com vacina no braço, por comida no prato, caminhamos e pedimos que Nossa Senhora de Nazaré nos livre do fascismo, da fome, da miséria e do genocídio que está instalado no Brasil. Esse é o desejo que inspira a gente a caminhar e esse desejo move a luta, move a esperança e essa esperança é fortalecida com a solidariedade e com amor a gente encontra ao longo da caminhada".

Edição: Anelize Moreira