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Sem mostrar provas, Record usa tese de ex-aeromoça de extrema-direita para atacar Lula e Dilma

Instituto Lula enviou nota à emissora de Edir Macedo, mas a resposta do ex-presidente não foi colocada na reportagem

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cristina Seguí, em entrevista à Record - Foto: Divulgação/Record

A edição de sábado (9) do Jornal da Record trouxe uma reportagem especial sobre o financiamento da esquerda na América do Sul pelo tráfico de drogas. Sem qualquer documentação, a emissora do bispo Edir Macedo sustenta toda sua apuração no depoimento de Cristina Seguí, uma ex-aeromoça espanhola, que se tornou uma celebridade nas redes sociais com discurso antipandemia, anticomunista e antifeminista.

Criticada em seu país por difundir fake news, Seguí era filiada ao Vox, partido de extrema-direita da Espanha, que mantém relação próxima ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), através do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do mandatário.

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Em seu perfil pessoal no Twitter, com 190 mil seguidores, Seguí retuíta mensagens que chamam o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva de “maior ladrão da história do Brasil”. Durante a pandemia da covid-19, a espanhol viu crescer sua fama, ao defender teses contra a vacinação e minimizando os efeitos da doença.

Nesta segunda-feira (11), ao ser confrontada por usuários da rede social sobre suas acusações sem evidências, afirmou: “Estou desejando que um juiz me obrigue a mostrar a documentação da trupe criminosa do Foro de São Paulo”, escreveu Seguí, em sua conta pessoal. Na matéria da Record, a ex-aeromoça é apresentada como “jornalista especializada em política ibero-americana.”

A teoria de Seguí tem início com a prisão, em 18 de setembro, do general venezuelano Hugo Carvajal, que foi chefe dos serviços de inteligência da Venezuela durante os governos do ex-presidente Hugo Chávez. O militar é acusado pelos EUA de ter relação com o narcotráfico e de ter negociado tráfico de drogas com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

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Segundo Seguí, Carvajal teria vindo ao Brasil em um avião particular e feito cirurgias plásticas, “apoiado por políticos e personalidades lulistas do PT”. No entanto, a matéria não aponta em qual data ele entrou no território nacional, quem teria emprestado ou locado a aeronave e, muito menos, quem seriam as pessoas ligadas ao partido brasileiro que deram suporte a Carvajal dentro do país.

Mais uma vez sem provas, o jornalismo da Record informa à sua audiência que Lula e a ex-presidenta Dilma Rousseff se beneficiariam do esquema de tráfico de drogas que financia a esquerda no continente. Por fim, Seguí afirma que “todos no Foro de São Paulo vivem do tráfico de armas, do tráfico humano e do tráfico de drogas”. No entanto, a emissora de Edir Macedo se recusou a colocar na reportagem a resposta enviada pela assessoria de Lula.

Em resposta ao UOL, a Record afirmou que a nota de Lula “era genérica”. Sobre a reportagem, o Instituto Lula publicou: “O ex-presidente Lula foi investigado, teve todos os seus sigilos quebrados e nenhuma irregularidade foi encontrada. Venceu na justiça todas as falsas acusações feitas contra ele. Lula não tem nenhuma condenação e tem plenos direitos políticos.”

Edição: Vivian Virissimo