Racismo

Zara Zerou: código pede que funcionários vigiem “pessoas de cor e mal vestidas”

PC investiga caso de racismo em loja da marca no Ceará, quando delegada negra foi impedida de entrar no comércio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Zara combinou um código com seus funcionários para impdir acesso de negros em suas lojas - Foto: Reprodução/Instagram

Em entrevista coletiva na noite da última terça-feira (19), o delegado-geral da Polícia Civil, Sérgio Pereira, informou que a marca Zara possui um código, “Zara Zerou”, que, quando anunciado em suas lojas, alerta os funcionários para que vigiem “pessoas de cor e mal vestidas”.

“A partir daquele momento a pessoa não era mais tratada como cliente, mas como uma pessoa nociva ao atendimento normal da loja. A partir dali, as pessoas estavam sob vigilância. Geralmente eram pessoas consideradas mal vestidas, dentro do padrão deles, ou pessoas de cor”, relatou Pereira.

“Algumas testemunhas que trabalhavam na loja (Zara) eram orientadas a identificar as pessoas que ingressavam no estabelecimento, que tinham estereótipos que não estavam dentro do padrão do estabelecimento”, encerrou o delegado.

A descoberta ocorreu no âmbito da investigação do caso de racismo registrado pela delegada Ana Paula Barroso, diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Ceará, contra a Zara. No dia 19 de setembro, ela, mulher negra, foi impedida de entrar na loja da marca no Shopping Iguatemi de Fortaleza (CE).

A Zara alegou que os funcionários impediram o ingresso de Barroso na loja porque ela estaria sem máscara, enquanto tomava sorvete. No entanto, analisando as imagens de câmeras do circuito interno do espaço, policiais descobriram que a justificativa dada pela marca não tinha coerência, já que no mesmo dia, outras pessoas brancas, também se máscaras, não foram barradas.

“Você pode perceber nas imagens, em um curto espaço de tempo, outros clientes fazendo uso incorreto da máscara e se alimentando. Nenhuma dessas pessoas foram abordadas. Uma delas foi atendida pelo Bruno Filipe (funcionário que barrou Ana Paula Barroso) e em nenhum momento ele interpelou ou constrangeu nenhum desses clientes”, explicou Janaína Siebra, delegada de Proteção à Mulher, na coletiva de imprensa.

Em nota, a Zara informou que "não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação, quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia de covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos. Qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa."

Edição: Leandro Melito