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Milhões tomam as ruas contra golpe militar no Sudão

O primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e importantes líderes civis foram presos pelo exército sudanês

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O Partido Comunista Sudanês convocou greve e defendeu a desobediência civil - Associação Profissional Sudanesa

Em todo o Sudão, milhões de pessoas tomaram as ruas das grandes e pequenas cidades para resistir ao golpe militar ocorrido na manhã desta segunda-feira (25), fontes afirmaram. Após a prisão do primeiro-ministro do país e de lideranças civis que estavam dividindo o poder com o exército no governo de transição, o chefe da instituição militar, tenente-general Abdelfattah El Burhan, anunciou a dissolução do governo e declarou estado de emergência. Burhan também informou que um governo de tecnocratas será formado.

Todavia, as ruas ainda estão tomadas pelas forças de resistência. Na capital, Cartum, o exército abriu fogo contra a multidão de manifestantes que alcançou a parte externa da sede militar. Relatos dão conta de que a maioria das principais rodovias e pontes de entrada e saída da cidade foram bloqueadas por soldados, enquanto os protestantes estão bloqueando as estradas dentro da capital.

Na cidade vizinha de Omdurman, forças de segurança invadiram a sede da estação de rádio e de televisão estatais e detiveram alguns dos funcionários, após o que foi relatado que o canal televisivo tem exibido imagens do Rio Nilo ao som de canções patrióticas. A conexão de internet foi suspensa.

Apesar do bloqueio, estão emergindo nas redes sociais imagens de protestantes furiosos gritando slogans revolucionários e marchando pelas principais estradas do país, tendo atrás de si fumaça de pneus em chamas usados para bloquear autoestradas em várias regiões sudanesas.

Pedindo pela ocupação das ruas, o Partido Comunista Sudanês, seus sindicatos afiliados e comitês de resistência de bairro declararam greve política e desobediência civil total assim que o golpe teve início.

Segundo comunicado do gabinete do primeiro-ministro, ele e sua esposa foram “sequestrados de sua residência em Cartum e levados pelas forças militares a um destino desconhecido”.

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O Ministério da Informação disse que, após cercar a residência de Abdalla Hamdok, o exército tentou forçar o primeiro-ministro a assinar uma declaração aprovando a tomada de poder, mas acabou por prendê-lo diante de sua recusa em obedecer.

Também foram presos outros ministros de gabinete e líderes civis que dividiam poder com generais no Conselho de Soberania, o maior órgão do governo de transição. Segundo relatos, os líderes que estão sob custódia militar incluem o porta-voz do Conselho de Soberania, Mohammed El Fiky Suliman; o governador do distrito de Cartum, Ayman Khalid; o ministro da Indústria, Ibrahim El Sheikh; o ministro da Informação, Hamza Baloul; e o assessor de mídia do primeiro-ministro, Faisal Mohammed Saleh.

A Associação Profissional Sudanesa apelou “ao povo sudanês, às suas forças revolucionárias e aos comitês de resistência de bairro em todas as cidades e vilas [que] tomem as ruas e as ocupem completamente [...] e bloqueiem com barricadas todas as estradas”.

O Sindicato dos Professores da Universidade de Cartum anunciou que todos os membros de seu corpo docente aderiram à greve, e pediram por uma "desobediência civil abrangente em todas as instituições profissionais e de serviço, exceto por condições médicas emergenciais”

O Comitê Executivo do Sindicato de Pilotos do Sudão também declarou “greve geral e desobediência civil” e convocou “todos os pilotos e trabalhadores do campo de aviação a tomar as ruas e proteger a revolução do povo sudanês”. Relatos afirmam que o aeroporto de Cartum está fechado e os voos internacionais foram suspensos.

O golpe desta segunda-feira ocorre menos de um mês após tentativa semelhante realizada em setembro por uma seção de oficiais. O exército culpou a administração civil por ter falhado em seus deveres e ter causado agitação no país.