Violência

Jovem é morto com mais de 15 tiros durante operação policial em Curitiba (PR)

Eduardo Felipe tinha 16 anos e era trabalhador da reciclagem na comunidade Portelinha; moradores realizaram protesto

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Em Curitiba (PR), moradores fecharam as vias de acesso à comunidade, em protesto contra o assassinato de jovem - Foto: Giorgia Prates

"Se é negro e favelado, então tava de pistola?" A pergunta estampava um dos cartazes do protesto de moradores da comunidade Portelinha, em Curitiba, contra o assassinato do jovem Eduardo Felipe Santos de Oliveira. Com 16 anos, Eduardo foi morto por policiais militares das Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), na noite de sábado (6).

Segundo relatos, o adolescente teria sido executado com mais de 15 tiros dentro da casa de uma amiga. Eduardo estaria sentado na porta da casa, quando policiais da Rotam se aproximaram. Neste momento, o adolescente teria se assustado e entrado na casa.

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"Ele foi brutalmente morto pela polícia. Eu e meus dois filhos tínhamos recém saído de casa, foi questão de minutos. A polícia chegou atirando nele, ele correu para dentro da minha casa e mataram ele dentro da minha casa, com mais de 15 tiros", contou a moradora*.

O jovem trabalhava com reciclagem e, eventualmente, como ajudante de pedreiro. Durante o protesto, moradores reafirmaram a inocência do adolescente e pediram paz nas favelas da cidade.


Protesto pedia paz nas favelas de Curitiba / Giorgia Prates

"Ele tinha amigos, familiares, uma pessoa muito querida. Estamos cansados de ser oprimidos, de a polícia entrar na favela e tirar a vida de quem quiser. Eles tiram a vida e vão com a desculpa da troca de tiro", disse a moradora.

Durante o protesto, os moradores bloquearam as principais vias de acesso à comunidade. Ao longo do ato, diversos moradores fizeram falas. Um deles destacou a truculência da polícia militar nas favelas e pediu mais cuidado. "Cuidado com as ações policiais, cuidado com as nossas crianças, nossas casas são de madeira, não aguentam bala. Temos crianças, idosos cadeirantes", afirmou.

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Ato aconteceu no dia seguinte ao assassinato de Eduardo / Giorgia Prates

Versão da Polícia

A versão oficial do caso é que a Polícia Militar foi chamada para atender uma ocorrência nas proximidades, após serem ouvidos disparos de arma de fogo. Ao chegarem no local, teria ocorrido um confronto.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM, pedindo informações mais detalhadas sobre a operação que vitimou Eduardo Felipe. A assessoria enviou uma nota, que não menciona em momento algum o nome de Eduardo Felipe. Reproduzimos abaixo, na íntegra:

"De acordo com as informações do Boletim de Ocorrência, a situação aconteceu, por volta das 23 horas de sábado (06/11) em uma região conhecida como Comunidade da Portelinha, no bairro Portão, em Curitiba. Segundo o documento, a Polícia Militar, por meio do 12⁰ Batalhão, recebeu duas denúncias de disparos de arma de fogo, uma às 22 horas e a segunda por volta das 23 horas.

Logo após o primeiro acionamento, segundo o boletim, uma equipe da ROTAM fez patrulhamento na região, mas ninguém foi localizado. Já após a segunda ligação, as equipes retornaram a fazer buscas e, na Rua Irati, avistaram um homem com um objeto nas mãos. Os policiais então tentaram fazer a abordagem, mas ele fugiu da equipe correndo pelas ruas da região.

Durante o acompanhamento, de acordo com o documento, os militares estaduais constataram que ele estava com uma arma de fogo e tentaram novamente fazer a abordagem, momento que o rapaz teria apontado a arma para a equipe e efetuado os disparos. Para revidar a injusta agressão, os policiais também efetuaram disparos, porém o homem fugiu.

Ao tentar novamente uma abordagem, diz o boletim, o rapaz voltou a apontar a arma aos policiais, que revidaram e o homem acabou atingido. Imediatamente foi acionado o SIATE, que ao chegar no local constatou o óbito.

A Criminalística recolheu a arma de fogo usada pelo homem sendo, conforme boletim, um revólver, de calibre .38, com três munições intactas e duas deflagradas. Com ele está relatado que também havia 123 pinos de cocaína, que foram apreendidos e encaminhados à Central de Flagrantes.

Como é de praxe em situações de emprego de arma de fogo por policiais, um procedimento será instaurado para apuração das circunstâncias que envolvem o fato."

*Por questões de segurança, os nomes dos moradores foram omitidos.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini