2022

Dois anos depois da liberdade, Lula prepara-se para enfrentar a Lava Jato nas urnas

Ex-presidente tem vitórias na justiça e lidera pesquisas para 2022; Moro assume-se político

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Há dois anos, Lula saía da prisão em Curitiba - Ricardo Stuckert

Era uma manhã de uma sexta-feira de novembro de 2019, com tempo meio cinzento na capital paranaense, quando o bairro Santa Cândida recebia diversas caravanas de todo o país, que chegavam para tentar ver o mais famoso dos moradores da região. As ruas no entorno da Polícia Federal enchiam rapidamente com bandeiras de partidos e movimentos populares que acompanharam por 580 dias a prisão do ex-presidente Lula. Por volta das 17h40, Lula sai do cárcere.

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Passados dois anos de sua soltura, o ex-presidente lidera todas as pesquisas eleitorais, com larga vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro. Tem vantagem também sobre seu algoz, o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que largou a toga para se tornar ministro da Justiça do governo Bolsonaro e saiu desmoralizado com as denúncias da "Vaza-Jato", de ter sido parcial contra Lula nos seus julgamentos, e rompido com Bolsonaro. Moro ainda seria declarado suspeito nos processos envolvendo Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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Para o advogado e membro da Associação de Advogados pela Democracia, Samir Mattar Assad, a saída da prisão consolidou o entendimento a respeito do trânsito em julgado. "A saída de Lula precisa ser analisada do ponto de vista jurídico e democrático como uma correção a respeito da decisão de 2016 sobre a prisão em segunda instância", analisa.

Mattar Assad destaca que no ponto de vista prático do processo penal, houve retorno ao Estado Democrático de Direito. "A decisão de 2016 foi dada no auge da Operação Lava Jato, provocada pelo clamor popular da época. O campo jurídico tem que ser preservado e não pode ser pautado, tampouco pautar, a imprensa como foi provado pela Vaza-Jato", diz.

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Na justiça, Lula teve representativas vitórias no Supremo Tribunal Federal. Em abril, o STF anulou todas as condenações na Lava Jato e declarou a Justiça Federal em Curitiba incompetente nos processos contra o ex-presidente. Dois meses depois, em junho, Moro ainda seria declarado suspeito nos casos do "triplex do Guarujá", do "sítio de Atibaia" e da doação de um terreno para o Instituto Lula.

Em outras instâncias, a Justiça determinou ainda o arquivamento de outras  investigações. "A Lava Jato colocou em xeque o Estado de Direito ao realizar delações premiadas sabidamente descabidas com o nítido objetivo de atingir e aniquilar alvos pré-definidos", cita Cristiano Zanin, advogado de Lula.

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Da vigília às eleições

Roberto Baggio, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), permaneceu boa parte dos 580 dias na Vigília Lula Livre, que ficava localizada em frente ao prédio da PF em Curitiba. Baggio avalia que a vigília teve papel fundamental na defesa de Lula. “Furamos o bloqueio midiático e nos contrapomos na narrativa ao lavajatismo, foi uma luta vitoriosa na defesa da democracia e contra o golpismo”, afirma.

Baggio avalia que, passados dois anos, com as revelações que Moro interferiu politicamente nos processos contra Lula e o enfraquecimento do bloco bolsonarista, a conjuntura é melhor que a de dois anos atrás para o campo popular.

“Moro tenta navegar no cenário da polarização, mas ele é o candidato do golpismo e representa os interesses, inclusive, geopolíticos estrangeiros. Já a candidatura do Lula consegue, nesse momento, unificar diversos setores populares com todas as suas diversidades", aponta.

De acordo com a última pesquisa da Genial/Qaest, Lula lidera em todos os cenários analisados, tanto no primeiro, como no segundo turno.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini