MUDANÇAS CLIMÁTICAS

"Governo Bolsonaro foi à COP26 pra divulgar fake news e passar o chapéu", diz secretário da CUT

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, Daniel Gaio faz um balanço da 26º Conferência do Clima da ONU

Ouça o áudio:

Delegação da Central Única dos Trabalhadores em uma das mobilizações realizadas durante a COP26 em Glasgow, Escócia - CUT

A mais aguardada cúpula climática desde o Acordo de Paris (2015), a 26º Conferência do Clima das Nações Unidas, chega ao fim oficialmente nesta sexta (12), após duas semanas de evento, sob críticas da sociedade civil pela falta de compromissos, transparência e participação.

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual - Edição da Tarde, o secretário de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Daniel Gaio, que participou da conferência em Glasgow, na Escócia, relata que a restrição na participação do evento e postura descompromissadas de alguns líderes, já davam sinais negativos sobre os possíveis resultados.

"Desde a COP25 (que era para ter acontecido aqui no Brasil, mas Bolsonaro rejeitou sediar), a gente já identificava como o mercado estava se organizando para, na COP26, apresentar o que seria mais evidente como soluções de mercado pra dar resposta a essa limitação do aquecimento de temperatura em 1,5ºC. Com essas respostas do mercado, já tínhamos poucas expectativas do que poderia sair de real compromisso dos países", explicou Gaio.

Apesar  dos encontros oficiais acabarem nesta sexta, as negociações em torno do rascunho do acordo devem prosseguir no final de semana, devido às divergências até o momento em torno do texto final da COP26. De forma geral, o primeiro rascunho apresentava avanços pontuais, mas não apontava detalhes sobre como atingir as metas necessárias para que o aumento da temperatura do planeta não ultrapasse os 1,5ºC, como foi definido no Acordo de Paris, e seja menor do que 2ºC até 2100.

Para o secretário de Meio Ambiente da CUT, as promessas de curto prazo feitas agora na COP26, são incapazes de reduzir o aquecimento global. "O que está sendo feito ali, são respostas completamente incapazes de segurar o aquecimento da temperatura em até um 1,5ºC, como era pretendido. E vai ultrapassar, e muito, os 2ºC estabelecidos no Acordo de Paris, que para nós já provocaria uma série de mudanças extremas no clima, e mudanças generalizadas que terão impacto no planeta inteiro, e que envolveriam aumento do nível mar, secas profundas, diversas inundações, ondas de calor ainda mais violentas que as que nós temos visto nos últimos tempos".

Gaio também analisa o papel desempenhado pelo Brasil nas duas semanas de negociações, assim como a postura do Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.

"O governo tem apresentado uma série de fake news, não só âmbito da política midiática, e da sua disputa de narrativa, mas também com os dados oficiais. [...] Nós sabemos o que está acontecendo na Amazônia, e nos outros biomas. E também sabemos qual é política que esse governo tem operado tanto para destruir a nossa capacidade de fiscalização do desmatamento ilegal, como, inclusive, para incentivar o desmatamento", criticou. 

Uma das propostas elaboradas pelos movimentos de trabalhadores, e defendida pela CUT, é a de transição justa. "O ministro Joaquim Leite inclusive sequestra e incorpora o termo dos trabalhadores que é a transição justa, só pra dizer que isso aconteceria via financiamento internacional. Ou seja, é o governo apresentando um monte de fake news e passando o chapéu para recolher dinheiro que ele nem consegue gastar, porque nós bem devemos lembrar que o Fundo da Amazônia está congelado", finaliza.

Confira a entrevista na íntegra (a partir do minuto 43) e os outros destaques do dia no áudio acima.
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O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual.

Edição: Mauro Ramos