Colapso

No auge da covid, Saúde não conseguiu evitar alta de óbitos por outras causas

Os períodos de altas na taxa de óbitos por covid são os mesmos dos maiores índices de mortes por outras causas

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A desassistência já era um quadro esperado desde o início da pandemia devido ao colapso do sistema - ©️Tarso Sarraf / AFP
Tivemos uma diminuição expressiva das internações e cirurgias eletivas

Estudo do projeto Monitora Covid da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que os períodos da pandemia em que ocorreram as maiores taxas de óbitos por covid são os mesmos com os maiores índices de óbitos por outras causas. 

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Ao mesmo tempo, na comparação entre janeiro de 2018 a junho de 2019 e janeiro de 2020 a junho de 2021, houve uma diminuição de 9,9% nas internações, mesmo com o alto volume de pessoas internadas devido à covid-19. No total, houve 1,7 milhão de internações a menos.  

Segundo Diego Xavier, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz, a redução mostra um cenário de desassistência do Sistema Único de Saúde (SUS) em relação a outras doenças.

Leia o estudo completo aqui.

Por exemplo, houve uma diminuição de 37,3% de pessoas internadas por problemas respiratórios; 27,2%, por doenças do aparelho digestivo; e 34%, por doenças do olho. Os procedimentos cirúrgicos, por sua vez, tiveram queda de 53% 

"O que esses dados mostram é o tamanho do impacto que a covid-19 provocou em todo o sistema público de saúde. Tivemos uma diminuição expressiva das internações e cirurgias eletivas", resume o pesquisador. 

::Observatório da Fiocruz aponta maior colapso sanitário e hospitalar da história::

Nas palavras de Xavier, a desassistência já era um quadro esperado desde o início da pandemia devido ao colapso do sistema. 

“A gente teve, infelizmente, óbitos tanto por covid sem assistência adequada devido ao colapso do sistema, mas também óbitos por outros problemas de saúde que não puderam ser atendidos no momento em que a covid a ocupava toda a nossa rede hospitalar.” 

Agora, explica Xavier, o SUS terá de lidar com “sequela indireta da pandemia”: a fila de pacientes que ficaram para trás que continuam com os problemas de saúde e até mesmo podem ter evoluído para um quadro crônico e mais grave.

Sem contar os casos de “Síndrome da Covid Longa”, que se referem aos pacientes que foram infectados pelo vírus e permanecem com os sintomas por um período extenso. 

Um estudo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, de outubro deste ano, mostrou que cerca de 50% das pessoas que tiveram a doença têm sintomas em média por aproximadamente seis meses.

Isso significa que, dos quase 22 milhões de brasileiros infectados, 11 milhões precisaram ou precisam do SUS para tratar dos sintomas persistentes. 

Nesse cenário, “o serviço de saúde precisa de reforço, organização e aporte financeiro para que a gente consiga dar conta desse passivo que a pandemia trouxe para, no mínimo, voltar às condições de atendimento no período pré-epidêmico”, defende. 

Para chegar a essas constatações, os pesquisadores do Monitora Covid-19 cruzaram dados de diferentes plataformas: Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), Sistema de Informação Hospitalar (SIH), Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) e Painel Coronavírus. 

 

Edição: Leandro Melito