Rio de Janeiro

PERIFERIA EM FOCO

Para driblar a falta de visibilidade, casal cria produtora para artistas da periferia carioca

Projeto tem como objetivo incentivar produções artísticas em regiões que são conhecidas como ambiente de violência

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Casal decidiu juntar seus conhecimentos em fotografia, audiovisual, produção musical e edição para criar a própria produtora - Reprodução

A falta de apoio financeiro e estrutura para os artistas das periferias do Rio de Janeiro foram os motivadores para o casal Tuany Zanini e Chico Brum criarem, em 2019, a Sintropia Produções. O projeto surgiu com o objetivo de incentivar e criar espaço para a produções artísticas em regiões que são conhecidas, na maioria das vezes, como ambientes de violência.

O casal, morador da Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro, conta que o pontapé inicial para criar a produtora foi o de produzir os próprios clipes. Ambos são cantores e não conseguiam levar seus trabalhos adiante porque as grandes produtoras não tinham interesse nos dois jovens artistas da periferia da capital fluminense.

Então, eles decidiram juntar seus conhecimentos em fotografia, audiovisual, produção musical e edição, assim, criaram a própria produtora, a Sintropia. Em seguida, expandiram os trabalhos para atender outros artistas periféricos que precisavam de oportunidade e visibilidade.

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Tuany, além de cantora, fez alguns cursos para se especializar na área de produção. Ela explica que o meio artístico é excludente e não enxerga a periferia como um local que se produz arte e tem sua própria cultura. 

“O mercado audiovisual é inacessível para quem está no início da carreira, ainda mais para quem vem de lugares que as pessoas mal conhecem. A Sintropia surgiu para democratizar nosso próprio acesso e aí, dessa forma, a gente vem trabalhando com outros artistas em projetos que a gente se identifica, que a gente curte e gosta”, conta em entrevista à reportagem no programa Central do Brasil, transmitido pela TVT, na última quinta-feira (18).

 

Apesar de nomes consagrados no mundo musical terem vindo das periferias do Rio de Janeiro, como Felipe Ret e Marcelo D2, produzir e divulgar os trabalhos sempre foi um desafio para artistas dessas regiões. Com o desmonte do setor cultural durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), esse cenário de ausência de espaço para o que vem periferia no mundo artístico ficou ainda pior.

Chico Brum já tinha experiência como produtor musical, e para ele, a Sintropia é um sonho realizado, pois permite não só a criação desses espaços para os artistas, mas também mostra que a periferia do Rio não é só feita da violência que a mídia comercial apresenta. Um dos trabalhos da Sintropia é a produção do programa Papo na Laje, organizado por jovens das favelas cariocas, que teve estreia na última quinta-feira (11) no canal do YouTube do programa e na TV Comunitária do Rio de Janeiro, com transmissão no canal 6 da NET.

“A produtora é uma forma de emancipar nossos trabalhos através de produções profissionais de uma forma acessível. A Sintropia nasceu em um momento crucial para nossas carreiras e tem se transformado cada vez mais em um veículo de movimentação para artistas independentes, artistas periféricos”, afirma.

Edição: Mariana Pitasse