BASTIDORES

Casamento com Centrão: Bolsonaro se filia ao PL com multidão de engravatados e poucos fãs

Evento de filiação teve acesso negado a imprensa e paródia de "Baile de Favela" com letra que ataca as mulheres

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ato teve faixas de boas-vindas "asssinada" por ministra e propaganda de políticas do governo - Reprodução/Twitter - @RicardoBarros

Diante de uma multidão de engravatados no auditório de um dos centros de convenção mais caros de Brasília, o presidente Jair Bolsonaro se filiou ao PL na manhã desta terça-feira (30), com a bênção do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto. O evento, que ocorreu no Complexo Brasil 21, hotel na região central da capital, reuniu dezenas de autoridades, entre ministros, governadores e congressistas.

A maior parte dos presentes, contudo, eram servidores públicos de médio escalão, exibindo crachás funcionais do Legislativo ou do Executivo ou máscaras ligadas aos seus órgãos de trabalho. Poucos apoiadores do presidente foram caracterizados ao evento, mas eles também marcaram presença: exibiram chapéus de mexicano, camisetas da CBF e óculos verde e amarelo. Dentro do auditório, eram minoria absoluta.

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Na entrada, a reportagem colheu relatos de pessoas que tiveram frascos de álcool em gel recolhidos pela equipe de segurança. Uma parte considerável dos convidados não usava máscara de proteção.

Alguns militantes carregavam faixas de boas-vindas ao presidente "assinadas" pela ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e pelo seu secretário-executivo na pasta, o delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Rafael Sampaio. A reportagem flagrou grupos de policiais com identificação do Departamento de Narcóticos (Denarc), órgão ligado à corporação.

Arruda e Sampaio devem ser candidatos nas eleições de 2022 e são os principais nomes do PL no Distrito Federal. Eles foram os responsáveis por mobilizar militantes bolsonaristas para o evento. A missão falhou. Depois dos discursos dentro do auditório, Bolsonaro foi ao lado de fora do hotel e subiu em um trio elétrico, onde discursou por poucos minutos para menos de 100 apoiadores.

Outros "destaque" do evento de filiação foi a escolha de uma paródia bolsonarista do funk "Baile de Favela" tocando no ambiente interno do centro de convenções. A letra ataca opositores, especialmente mulheres: “Maria do Rosário não sabe lavar panela/ Jandira Feghali nunca morou na favela/ Luciana Genro apoia os sem terra/ Mas não dá o endereço pra invadirem a casa dela”, diz a música.

O PL será o nono partido da carreira política de Bolsonaro. Em três décadas, o atual presidente passou por PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL. Bolsonaro foi eleito presidente pelo PSL em 2018 e deixou o partido em 2019, em meio a divergências com a cúpula da legenda. Na ocasião, chegou a articular a criação de um novo partido, a Aliança Pelo Brasil, mas o plano naufragou.

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No discurso, Bolsonaro acenou ao Centrão, bancada informal do Congresso com a qual o governo se aliou desde o ano passado: "Estou me sentindo aqui em casa, dentro do Congresso Nacional, aquele plenário da Câmara, tendo em vista a quantidade de parlamentares aqui presentes. Me trazem lembranças agradáveis, lembranças de luta, acima de tudo, momentos em que nós, juntos, fizemos pelo nosso país. Eu venho do meio de vocês. Venho de 28 anos na Câmara".

"Eu vim do PP. E confesso, prezado Valdemar, a decisão não foi fácil. Até mesmo o Marcos Pereira [líder do Republicanos], conversei muito com ele e com outros parlamentares", completou.

Bolsonaro tem sido criticado por setores de seus apoiadores por ter se aliado a Valdemar, condenado em 2012 no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi preso em 2013 e em 2014 passou a cumprir prisão domiciliar. Dois anos depois, em 2016, o ministro do STF Luís Roberto Barroso concedeu perdão da pena e determinou a soltura do ex-deputado.

O presidente também voltou a dizer que “alguns extrapolam” na Praça dos Três Poderes. “Alguns extrapolam aqui na região da Praça dos Três Poderes. Essa pessoa vai ser enquadrada, vai se enquadrando, vai vendo que a maioria somos nós. E nós aqui que temos votos, em especial, é que devemos decidir o destino da nação”, disse.

Além de Bolsonaro, seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, assinaram a ficha de filiação ao PL. Cerca de 20 a 30 deputados fizeram o mesmo movimento. O número exato não foi confirmado.

A expectativa é que nos próximos dias outros políticos próximos ao presidente também confirmem o ingresso no partido. Questionado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que não descarta seguir o mesmo passo.

Edição: Anelize Moreira