Paraíba

COLETIVIDADE

Artigo | Retrospectiva: memórias afetivas sobre o amor através do esporte

2021 foi um ano difícil, mas o esporte nos uniu entre tantos desencontros

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Atletas que dividiram medalha de ouro do salto em altura dos jogos olímpicos de Tóquio. - Foto: Abbie Parr

A última coluna de 2021 tem que ser sobre os tantos encontros e afetos que são proporcionados pelo esporte. Aqui não quero nem que por um segundo falar da pedra que colocaram nas políticas desportivas nesses últimos anos de governo, ou no descaso com a saúde de atletas em plena pandemia, ou nas tantas crises e denúncias de injúrias, assédios e discursos de ódio que foram jogadas para debaixo do pano por federações e confederações desportivas (acabei falando, desculpe!). Não, não quero nem citar o nome do presidente e suas declarações infames, estúpidas e cruéis. Quero somente falar de amor ao esporte e através dele! 

Mainha me contou que os primeiros flertes com meu pai foram, justamente, num jogo de futebol, que acontecia na zona rural da cidade de São José de Espinharas (Sertão Paraibano), especificamente, no Sítio Paiva e Sítio Serra do Tronco. Meu pai era goleiro do Paiva Futebol Clube, time que reunia agricultores locais para aquela pelada no fim de semana. Mainha me falava que em dias de jogo o carro “pau de arara” passava de casa em casa para buscar os torcedores e era ali, naquele momento, que todos os agricultores e agricultoras da região socializavam, integravam, se uniam. 

Este ano, durante as Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio vivenciamos essa interação. Passado por um período turbulento como foi 2020, no qual entramos num mundo pandêmico e perdemos milhões de vidas, sabíamos que o mais importante era integrar, participar, acreditar em tempos melhores. Vimos recordes serem quebrados, atletas dividirem medalhas, alertas sobre a estafa emocional, sobre respeito aos diferentes corpos, religiões, culturas... Integração, respeito, união!

Volto a lembrar de Mainha ensaiando todos os dias como torcer para os jogos de sua comunidade, pensando no que era ou não permitido e nas tantas possibilidades que aquele momento proporcionaria, porque não era só futebol, era amizade, construções sociais, econômicas, políticas e, como diria Eduardo Galeano, “o esporte é imenso, é um eu que virá nós”.

O esporte é essa rede consistente que se dá de diversas formas e se atravessa, do individual ao coletivo, em respeito e partilha. Dele nascem os encontros, erros, acertos, afetos, desafetos, vidas... Para finalizar, deixo um trecho do poema “Ode to Sport”, de Pierre de Coubertin, considerado o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna: “Ó Esporte, você é a Paz! Você promove relações felizes entre os povos, reunindo-os em sua devoção compartilhada a uma força que é controlada, organizada e autodisciplinada. Com você, os jovens de todo o mundo aprendem o respeito próprio e, assim, a diversidade de qualidades nacionais se torna fonte de uma rivalidade generosa e amigável.” 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Carolina Ferreira