Perderam tudo

Chuvas na Bahia: moradoras de Itabuna mostram suas casas e relatam solidariedade

“Isso aí mostrou que nós não vamos levar nada, né? Só as coisas boas que a gente faz”, diz sobrevivente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) e Itabuna (BA) |

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Maria, Valéria e Rosimira são três das 629 mil pessoas afetadas pelas chuvas que atingiram o sul da Bahia no mês de dezembro - Andrêza Benevides

Já são mais de meio milhão de pessoas afetadas pelas fortes chuvas e inundações que deixaram 136 cidades em estado de emergência no sul da Bahia. De acordo com dados da Defesa Civil da Bahia divulgados no fim da quarta-feira (29), até o momento 24 pessoas morreram e 91.258 foram obrigadas a deixar suas casas. A maioria delas perdeu todos os pertences.  

O Brasil de Fato ouviu depoimentos de moradoras atingidas por essas que foram as chuvas mais fortes na Bahia desde 1989.  

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Dona Maria Costa Ferreira mora há 20 anos com seu “coroa” na casa que viu ser tomada repentinamente pelas águas. Passando pelos sofás encharcados equilibrados em cadeiras de plástico, ela entra no quarto e aperta o colchão da cama para mostrar a água que escorre e pinga no chão.  

“Não tenho lençol, não tenho armário. Eu estava em casa, mas cuida dele [aponta para o marido], cuida de um canto, de outro, não deu tempo de tirar”, conta dona Maria, ao dizer que chorou por três dias e três noites. “Agora estou aqui, na vida que Deus quer”.  

A solidariedade, no entanto, lhe tira o marejar dos olhos. “Tem muita gente ajudando, a Igreja Católica, peguei uma cesta básica”. Assim que conseguir um isopor, pretende voltar a fazer os sonhos e pastéis que lhe dão o sustento.  

Rosimira, que nasceu e cresceu em Itabuna e vive com o filho, perdeu todos seus pertences e foi enfática ao dizer, sobre o volume das chuvas, jamais ter visto algo parecido. “Nunca, nunca, nunca, nunca. Na minha vida”.  

Com um saco de doações embaixo do braço, também confirmou estar havendo muita solidariedade. “Agora é pedir força a Deus e recuperar tudo de novo”, expôs.  

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Aos 30 anos de idade, Valéria Oliveira viu sua casa ser tomada pela enchente até o teto. Com a morada agora praticamente vazia, o que se vê no meio da sala é uma mala aberta de roupas para doação, disponíveis para quem precisar.  

Desde as 5h40 da manhã, Valéria se posta na frente de casa para oferecer apoio à sua comunidade. Com os alimentos doados pela Igreja Madureira, ela preparou uma sopa para servir aos vizinhos, junto com leite, pão e quentinha. Ao lado, um tonel de cloro que ela disponibilizou para as pessoas limparem suas casas.  

“É que as pessoas não tem como cozinhar, o povo perdeu tudo. A gente também né? Mas a gente está aqui. O que a gente pode fazer pelo povo a gente faz. Esse é o momento da gente se unir e um ajudar o outro. Cada um tem um pouquinho, a gente vai juntando”, afirma Valéria, com um sorriso. 

“Porque isso aí mostrou que nós não vamos levar nada, né?”, avalia Valéria: “Só as coisas boas que a gente faz é o que vamos levar conosco”.

 

Edição: Vinícius Segalla