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Muro construído pela Vale causa obstrução de pontes e isola habitantes em Macacos (MG)

Mineração já havia causado estragos no sábado (8), quando dique da Vallourec transbordou em Nova Lima (MG)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Acesso ao distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), foi interrompido pela água - ©Arquivo da Comunidade / Publicação autorizada

A população que vive em Macacos, distrito de Nova Lima (MG), está ilhada por uma enchente que não escoa por causa de um muro de contenção construído pela mineradora Vale. A parede gigantesca é mais alta que um prédio de dez andares e foi construída no curso do Ribeirão Macacos para conter possíveis rejeitos da barragem B3/B4, da mina Mar Azul.

Com a chuva dos últimos dias, o nível da água aumentou e não há vazão. Imagens da comunidade local mostram a água próxima a residências e, ao fundo, a contenção provocada pela muralha da Vale. O distrito fica a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte e está na região em alerta vermelho para tempestades, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.

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"A única rota de fuga segura que nós temos aqui, em caso de rompimento de qualquer barragem, a estrada Campos da Costa, está interditada. O que mais revolta é que a ponte está alagada não por causa da chuva, mas por causa do muro. Não estamos falando da tragédia das chuvas, mas sim de um cálculo mal feito", desabafa uma moradora que pediu anonimato, em entrevista ao Brasil de Fato.

A estrutura foi construída como parte de um processo de descaracterização que começou há mais de dois anos, para encerramento das atividades de mineração no local. Em 2019, a B3/B4 foi colocada na lista de barragens com risco de rompimento no Plano de Ações Emergenciais de Barragens da Mineração.

Segundo ela, a mineradora não apresentou estudos de segurança levando em conta a quantidade de chuva que vem atingindo a região. "Nós não temos uma informação real. Caso a barragem rompa, com esse muro que já está transbordando de água, o que acontece? Que casas serão atingidas? Essas pessoas estão cientes do risco? É muita angústia."

Melina Borges, que também vive em Macacos, estava fora do distrito quando a água interrompeu o acesso. Ela tentou voltar para casa no sábado (8) a noite, mas não conseguiu passar do alagamento. Melina reafirma o temor de um rompimento nesse cenário. "O muro de contenção, construído para conter a barragem, está completamente cheio de água", alerta.


Muro de contenção antes da chuva / ©Arquivo da Comunidade / Publicação autorizada


Estrutura ficou praticamente coberta pela água / ©Arquivo da Comunidade / Publicação autorizada

A moradora ressalta que a comunidade está isolada sem acesso a serviços de saúde. "É muito complicado. A Vale, desde que tocou a sirene, mantinha uma ambulância com uma equipe de saúde para casos de urgência. Eles retiraram esse serviço da comunidade. Neste momento, a comunidade está ilhada sem nenhum acesso à saúde, porque no final de semana a UBS não funciona", conta Melina.

A sirene da mina Mar Azul, mencionada por Melina, foi tocada em fevereiro de 2019 indicando perigo de rompimento. Na época, quase 200 famílias foram removidas do local. Desde então, a população vive aterrorizada com a possibilidade de uma tragédia. Um mês antes, o Brasil assistiu estarrecido ao desastre na barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que matou centenas de pessoas.

Procurada pela reportagem do Brasil de Fato, a Vale não retornou os questionamentos até a publicação desta reportagem e o espaço segue aberto para posicionamento.

Chuva e mineração afetam outras áreas

No sábado (8), o transbordamento de um dique da empresa Vallourec inundou um trecho da BR-040 em Nova Lima (MG). Por determinação da Agência Nacional de Mineração (ANM), a região agora também está no mais alto nível de risco de rompimento.

Carros e caminhões foram arrastados pela correnteza de lama. Na comunidade de Água Limpa, um rio e uma lagoa transbordaram no sábado e castigam as famílias. Ainda não há certeza de que a água é decorrente do transbordamento do dique, mas o fechamento da rodovia já causa impactos diretos à população, que também está ilhada. 

Edição: Vivian Virissimo