POLÊMICA NO CHILE

Piñera concede direito de extração de 160 mil toneladas de lítio sem debate no Congresso

Faltando 2 meses para fim do mandato, Sebastián Piñera entrega concessão sem acordo com Gabriel Boric

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Governo de Piñera aprova concessão de 20 anos de extração do mineral; Gabriel Boric afirma que irá revisar projeto - Javier Torres / AFP

O governo de Sebastián Piñera publicou, nesta quarta-feira (12), a licitação para extração de uma área com 160 mil toneladas de lítio a uma empresa chilena (Servicios y Operaciones Mineras del Norte S.A.) e outra chinesa (BYD Chile SpA). O documento foi divulgado uma hora antes do início da sessão especial da Câmara, convocada para debater o projeto. Em protesto, a bancada de oposição se retirou do plenário. 

"Vamos persistir apresentando um projeto de lei na Comissão de Mineração que anula esta licitação", anunciou o deputado Daniel Nuñez, do partido Comunista do Chile. 

O deputado do partido pela Democracia, Raúl Soto, também afirmou ser "uma falta de respeito" e que buscarão "todos os meios" para revogar a medida.

Os legisladores chilenos já haviam aprovado a divisão de parte das reservas de lítio do país em cinco cotas, cada uma de 80 mil toneladas do mineral. As duas cotas entregues à Servicios y Operaciones Mineras del Norte S.A e à BYD Chile SpA correspondem a 1,8% das reservas de lítio existentes no Chile, que no total somam 9 milhões de toneladas. 

A proposta de campanha de Gabriel Boric, vitorioso nas eleições de dezembro, era criar uma empresa estatal para extrair e industrializar o lítio chileno, além de aumentar os royalties sobre as empresas privadas e transnacionais de mineração que atuam no país. A mineração aporta 15% do PIB e representa 60% das exportações chilenas.

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As empresas privadas que ganharam a licitação pagarão US$60 e US$61 milhões (aproximadamente R$ 330 milhões), respectivamente, para ter a concessão de 20 anos para a extração do mineral no território chileno. O ministro de Mineração, Juan Carlos Jobet, afirmou que "ambas ofertas eram substancialmente mais altas que as demais apresentadas e respondiam ao interesse do Estado de aumentar a competitividade no mercado e obter a arrecadação mais satisfatória". 

O ministro de Piñera ainda declarou que o documento final de licitação acolheu as sugestões dos representantes de Boric, que formam a comissão de transmissão de mandato, criada um dia após a eleição presidencial, em 20 de dezembro. 

O presidente eleito declarou ao término da sessão a meios locais que, apesar de ser uma atribuição do governo em exercício, foi uma má decisão. "É algo que vamos revisar com a nossa equipe. Continuamos com a disposição de criar uma empresa nacional do lítio, que atue em consideração com as comunidades e contribua para o desenvolvimento produtivo nacional".

Ainda disse que o pactuado com a equipe de transição era não avançar na matéria "para que tivéssemos tempo de debate de fôlego".

A deputada comunista Camila Vallejo, membra da equipe de transição, também denunciou que o governo Piñera adiantou a discussão de maneira unilateral, o que classificou como "lamentável".

Edição: Arturo Hartmann