Covid-19

Vacinação de crianças começa no Brasil, sob protestos do presidente Bolsonaro

No estado paulista, a campanha de vacinação infantil começou em ordem decrescente na segunda-feira (17)

Ouça o áudio:

De março de 2020 até agora, pelo menos 324 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência da covid-19 - Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

O Brasil vacinou a primeira criança contra a covid-19 na última sexta-feira (14), no Hospital das Clínicas de São Paulo. Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos, que tem uma doença motora rara e faz tratamento no hospital, recebeu a primeira dose do imunizante da Pfizer, o único que tem autorização no país para ser aplicado em crianças.   

No estado paulista, a campanha de vacinação infantil irá ocorrer de forma escalonada, em ordem decrescente, entre as crianças de 11 a cinco anos, a partir da próxima segunda-feira (17).  

::Saiba como fazer o pré-cadastro de crianças para vacinação contra covid-19 no estado de SP::

A imunização com as doses da Pfizer em crianças foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e European Medicines Agency (EMA), da Europa. 

Vacinação sob protestos 

O estado é o primeiro a iniciar a campanha infantil, sob protestos do governo federal. O próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que não irá vacinar sua filha, Laura Bolsonaro, de 11 anos.

“Eu espero que não haja interferência do Judiciário, porque a minha filha não vai se vacinar”, disse o presidente ao conversar com a imprensa, em Santa Catarina, no fim de dezembro. Para o capitão reformado, a vacinação de crianças não se justifica, uma vez que, segundo ele, o índice de mortes de crianças para a covid-19 não é grande. 

Segundo um levantamento feito pelo Correio Braziliense, de março de 2020 até agora, pelo menos 324 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência da covid-19, somente de acordo com os registros civis que estão no Portal da Transparência.   

Para Ligia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz) e integrante da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a atuação do governo federal foi “criminosa” ao atrasar o acesso à vacinação de crianças contra a covid-19 no Brasil.  

Agora é necessário “pressionar o Ministério da Saúde para a compra de vacinas de número suficiente para proteger todas as nossas crianças”.

Para completar o esquema vacinal de todas as crianças brasileiras, com duas doses, são necessárias 40 milhões de doses. Até o momento, o Ministério da Saúde encomendou 20 milhões. O primeiro lote, com 1,2 milhão de doses chegou na última quinta-feira (13). A pasta espera receber todas as doses até março. 

::Vacinação de crianças é fundamental para controle da pandemia, defendem cientistas::

De acordo com Giovanella, a vacinação infantil é extremamente importante, pois “protege principalmente contra casos graves e mortos de crianças. Mas a vacinação também ajuda no controle da pandemia, uma vez que a infecção de crianças contribui pra circulação do vírus”. 

Para a pesquisadora, “as escolas, os professores e as professoras podem e devem auxiliar no processo de vacinação em cooperação com as unidades básicas de saúde em todo o país, com comunicação clara e incentivando os pais a levarem suas crianças para vacinar. Milhares de equipes de saúde da família participam do programa de saúde nas escolas e podem fazer essa articulação”. 

Acesso a testes rápidos  

Giovanella acredita que, além da vacinação das crianças, é necessário reforçar a vigilância epidemiológica nas escolas para o início do ano letivo. Isso inclui, em sua visão, “principalmente acesso a testes rápidos de antígeno, pois permitem a identificação oportuna dos casos e evitam, assim, os surtos nas escolas”. 

“Em diversos países europeus, desde o retorno das aulas presenciais, são disponibilizados testes rápidos para os alunos. Na Alemanha, por exemplo, desde o início do ano passado são disponibilizados gratuitamente testes rápidos de antígeno para os alunos das escolas. Hoje, no Brasil, o ideal seria disponibilizar gratuitamente autotestes nas escolas”, afirma. 

Na noite desta quinta-feira (13), o Ministério da Saúde enviou à Anvisa um documento com informações para a aprovação do autoteste para detecção da covid-19 no Brasil. Até o momento, a indicação é que o teste, no entanto, não será distribuído gratuitamente para a população.

Nas palavras do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, "o Brasil é um país muito heterogêneo, de muitos contrastes".

"A locação desse recurso para aquisição de autotestes para distribuir à população em geral pode não ter o resultado da política pública que nós esperamos", afirmou. 

Edição: Leandro Melito