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Morre Olavo de Carvalho: astrólogo estava com covid; causa da morte não foi divulgada

Escritor tinha relação histórica com Bolsonaro e estimulou negacionismo na pandemia do novo coronavírus

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Causa da morte de Olavo não foi confirmada; em meados de janeiro, ele foi diagnosticado com covid-19. Na foto, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, nos EUA - Alan Santos/PR

O escritor Olavo de Carvalho morreu nessa segunda-feira (24), aos 74 anos, nos Estados Unidos, onde vivia. A informação foi divulgada pela família nas redes sociais do astrólogo. 

“Com grande pesar, a família do professor Olavo de Carvalho comunica sua morte na noite de 24 de janeiro, na região de Richmond, na Virgínia, onde se encontrava hospitalizado”, escreveu a família.

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Natural de Campinas, em São Paulo, ele deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos. A causa da morte não foi divulgada. Recentemente, Olavo esteve internado em hospital no Brasil com problemas cardíacos.

Em meados janeiro deste ano, ele foi diagnosticado com covid-19. Na mesma semana, cancelou aulas de um curso que ministrava de forma online. Durante a pandemia, Olavo de Carvalho fez diversas publicações com teor negacionista nas redes sociais.

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Em uma dessas postagens, escreveu: "Dúvida cruel. O vírus mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?".

Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro lamentou a morte do escritor. Nos últimos anos, como presidente da República, o chefe do Executivo ignorou a maior parte dos óbitos de artistas e intelectuais brasileiros.

“Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi gigante na luta pela liberdade e farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, afirmou Bolsonaro.

Guru do bolsonarismo

Nos últimos anos, o Brasil de Fato publicou uma série de entrevistas sobre o avanço da extrema-direita no país. Em boa parte delas, a influência de Olavo de Carvalho foi mencionada por acadêmicos e pesquisadores. Segundo eles, o escritor foi um dos "arquitetos" do bolsonarismo.

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Em reportagem da Agência Pública republicada pelo BdF, em junho do ano passado, João Cezar Castro Rocha, professor titular de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse em junho que "o sistema de crenças Olavo de Carvalho explodiu na cultura brasileira com data marcada: 2015."

"Nas manifestações de 2015, surgiu uma frase e gritada por manifestantes: 'Olavo tem razão!'. Você acha que essas pessoas todas leram Olavo de Carvalho? Claro que não. Mas um sistema de crenças não é contestável pela realidade, é um sistema lógico autocentrado que, quanto mais atacado, mais se fortalece. As pessoas se convencem de que Olavo está sendo atacado porque tem razão", afirmou Castro Rocha.

Em outubro do ano passado, ao BdF, Tiago Medeiros, professor de Filosofia do Instituto Federal da Bahia (IFBA), que realizou parte de seus estudos de doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA, afirmou que Olavo ajudou a “sofisticar” o discurso de Bolsonaro para as massas"

"Associado a Olavo de Carvalho, Bolsonaro deu caráter universal a esse conservadorismo difuso, associando a necessidade de proteção da família a uma série de movimentos 'ameaçadores' que acontecem mundo afora: o comunismo, a China, o tráfico de drogas, os movimentos LGBT", afirmou Medeiros.

Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita Brasileira (OEDBrasil), disse ao BdF, em novembro do ano passado, que a relação entre Olavo e Bolsonaro existe desde uma manifestação em apoio ao então deputado após declarações ao CQC, em 2011, na Avenida Paulista, em São Paulo.

"Aquele ato no vão livre do MASP, que trouxe desde neointegralistas a neonazistas, skinheads, outros grupos da extrema direita, indivíduos com camisas em homenagens ao Olavo de Carvalho, foram fundamentais para a extrema direita, há dez anos atrás, reconhecer que Bolsonaro era o seu grande representante", disse.

Edição: Leandro Melito