10 milhões de votos

Portugal vai às urnas escolher novo Parlamento após fim da "geringonça"

Para a professora Teresa Cravo, eleitorado tem 'receio' de um possível retorno da direita ao poder

|
Mais de 10 milhões de eleitores escolhem neste domingo (3) os 230 deputados que compõem o Parlamento - Patricia de Melo Moreira/AFP

Os portugueses vão às urnas neste domingo (30) em eleições gerais para escolher a constituição do Parlamento na próxima legislatura. A eleição definirá o novo governo, após o fim da "geringonça", coalizão que aliou as esquerdas no país. 

Mais de 10 milhões de eleitores escolhem neste domingo os 230 deputados que compõem o Parlamento português. Todas os locais de votação foram abertos às 8h (horário local), com expectativa de encerramento às 20h (horário local), segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Segundo as últimas pesquisas, o Partido Socialista (PS), do premiê António Costa, aparece na liderança, mas com uma pequena margem sobre o Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita. No entanto, é improvável que uma das duas forças consiga maioria no Parlamento. As sondagens também apontam para um crescimento do partido de ultradireita Chega, que hoje conta com apenas um deputado na Assembleia da República.

Em entrevista a Opera Mundi, a professora de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Teresa Cravo, disse que a maioria do eleitorado de esquerda tem "receio" de um possível retorno da direita ao poder. Segundo a docente, alas direitistas estão em ascensão no país desde 2019. 

"Muito deste eleitorado receia o retorno da direita ao poder, o subsequente aprofundamento de políticas neoliberais e, ainda, a subida exponencial da extrema direita no Parlamento, que está desde 2019 em ascensão", disse. Cravo destaca ainda que pode haver uma "penalização" por parte do eleitorado em relação ao Bloco de Esquerda, "que teve mais de 9% dos votos em 2019 e pode descer agora para os 6%".

As eleições foram convocadas pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, após a Assembleia da República rejeitar a proposta de orçamento apresentada pelo primeiro-ministro António Costa (Partido Socialista). Na ocasião, além da oposição direitista, o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) votaram contra o orçamento. A rejeição significou, por isso, a implosão do esquema conhecido como "geringonça", que governou Portugal nos últimos seis anos. 

Para que o texto fosse aprovado, eram necessários 116 votos, mas foi rejeitado por 117 deputados, contra 108 a favor e cinco abstenções. 

Geringonça 2.0

No entanto, a professora aponta a possibilidade para uma "geringonça 2.0" em Portugal, tendo "contornos diferentes" e uma "plataforma de esquerda mais consistente". 

"As últimas semanas colocam novamente essa solução em cima da mesa, sendo que terá necessariamente contornos diferentes e inteiramente dependentes da correlação de forças entre os três partidos que resultará das eleições. É nisto que o BE e o PCP estão apostando: que o voto nos respectivos partidos impeça a maioria absoluta do PS e, mantendo-o longe de uma solução ad hoc com partidos mais pequenos, António Costa se veja forçado a negociar uma plataforma de esquerda mais consistente", apontou. 

Entre as reivindicações feitas pelo BE e pelo PCP, estavam alterações na legislação trabalhista, reajuste no salário mínimo, mudanças em impostos e um incentivo ao sistema de saúde, fragilizado por conta da pandemia de covid-19. Os três partidos chegaram a sentar juntos para negociar modificações do orçamento, mas não conseguiram alcançar um acordo.

"Neste momento, há uma grande incerteza em termos dos resultados de domingo, sendo que o PS parece ser ainda quem terá mais hipóteses de ganhar. No entanto, a possibilidade de vitória com maioria absoluta foi decrescendo desde o início da campanha", afirmou Cravo, declarando que o resultado do embate entre os partidos será "igualmente decisivo em termos de correlação de forças na próxima legislatura".

De acordo com o CNE, todos os locais de votação foram "preparados" para evitar "condições favoráveis ao contágio" da covid-19. "Apesar de estas eleições ainda se realizarem no contexto da pandemia, estão reunidas todas as condições para que o voto seja exercido em absoluta segurança", disse a dirigente da comissão, Vera Penedo.