Manifesto nos palcos

Debate imaginário entre Lula e Bolsonaro conduz peça O Debate, de Jorge Furtado e Guel Arraes

Espetáculo estreia nesta sexta (11) em BH, com sessão online gratuita no domingo; texto deve virar filme ainda este ano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Eduardo Moreira e Ângela Mourão estão no elenco da peça O Debate - Imagem: Balbúrdia Atores Associados/Divulgação

Em outubro de 2022, num futuro próximo, o Brasil ainda lida com a pandemia do coronavírus e enfrenta uma nova cepa, 10 vezes mais contagiosa. Em paralelo, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro disputam o segundo turno das eleições e participam de um debate histórico, ainda que fictício.

É nesse cenário que os aclamados roteiristas brasileiros Jorge Furtado e Guel Arraes constroem a peça O Debate, que estreia neste fim de semana em Belo Horizonte e terá um dia de transmissão online e gratuita (confira como assistir presencial ou virtualmente ao fim desta matéria).

Enredo

No palco, um ex-casal de jornalistas conversa sobre a vida pessoal e sobre o Brasil, durante os intervalos do encontro entre os dois presidenciáveis. Paula, interpretada por Ângela Mourão, é apresentadora do jornal que promove o debate. Já Marcos, vivido por Eduardo Moreira, é editor do programa.

As conversas acontecem no terraço da emissora em que trabalham e tratam sobre questões relativas ao fim do casamento, mas também sobre a realidade brasileira, a ética nos meios de comunicação e os caminhos para reverter o desmonte que vem assolando o Brasil nos últimos quatro anos.

“Essa peça foi um grito de desespero, praticamente”, afirma Jorge Furtado. “Quem trabalha com dramaturgia mergulha em mundos imaginários, mas a realidade do dia a dia nos invade de todas as maneiras.”

Ouça a entrevista com Jorge Furtado na íntegra por meio do áudio disponível abaixo do título desta matéria.

Roteiro

No texto, Furtado e o parceiro de décadas Guel Arraes assumem a camada politizada sem ressalvas. “Nós resolvemos usar o nosso ofício, a dramaturgia, para falar de política diretamente.”

Embora Lula e Bolsonaro sejam apenas citados, o encontro dos dois também se torna protagonista do enredo. Paula e Marcos discordam sobre como editar e publicar o material, mas concordam que é preciso tirar o país da situação atual. “Não é um debate entre dois extremos, é um debate entre duas pessoas que se amam e querem chegar a uma coisa boa”, afirma o roteirista.

Para ele, o trabalho jornalístico cumpre um papel imprescindível em meio à crise social que atinge o Brasil de hoje. “O jornalismo, neste momento em que a política virou uma coisa da pós-verdade, o que no nosso tempo a gente chamava de "mentira" passou a ser uma profissão essencial. O jornalismo de qualidade salva vidas. A Hanna Arendt fala isso: é impossível a civilização sem pessoas dispostas a dizer a verdade, que é a profissão de um jornalista”, enfatiza.

A pandemia como distopia presente

O encontro entre Lula e Bolsonaro não é o único elo entre a realidade e a ficção criada por Jorge Furtado e Guel Arraes. No futuro imaginado pelos dois, o coronavírus se propaga com velocidade ainda maior e é assunto presente entre Paula e Marcos.

Furtado conta que, além da defesa do debate de ideias, o trabalho também foi motivado pela defesa da vacina. “Foram os dois temas que nos motivaram. Primeiro, porque estamos com o debate interditado no Brasil. Nós precisamos conversar, precisamos falar de política. Segundo, em defesa das vacinas. Porque tem várias coisas que a gente pode discutir na pandemia, mas a vacina não tem conversa.”

Filme e futuro 

O texto de Jorge Furtado e Guel Arraes foi lançado em livro no segundo semestre do ano passado. Ainda em 2022, antes das eleições, também deve virar filme. Caio Blat e Flávia Lacerda estão da direção do projeto. 

“Nós estamos vivendo a história agora, neste momento. A história se repete, e a dramaturgia precisa nos alertar disso. São assuntos que estiveram e estão presentes na vida dos brasileiros todos os dias. A gente teve o azar de pegar, ao mesmo tempo, um governo disfuncional e uma peste mundial. Nós temos que pensar sobre isso e refazer o país”, conclui Furtado.

Produção

Com direção de Adyr Assumpção, a produção é da Balbúrdia Atores Associados, coletivo que atua contra a censura que passou a atingir as artes brasileiras a partir de 2017. A montagem integra a atual Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte.

Como assistir?

A peça O Debate estreia nesta sexta-feira (11), no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (MG), a partir das 20h. Haverá sessão também no sábado (12), nesse mesmo horário. No domingo (13), o espetáculo será transmitido simultaneamente pelo canal do Youtube da rádio Guará, de Brumadinho (MG). Ingressos estão disponíveis na bilheteria do espaço ou pela internet (clique aqui).

Edição: Rodrigo Durão Coelho